novo governo

Lula será o responsável pelo contato com as Forças Armadas

Presidente eleito estará à frente dos contatos com as três Forças devido à falta de interlocutores no governo de transição

Vinicius Doria
Henrique Lessa
postado em 18/11/2022 03:55
 (crédito: Fátima Meira/Estadão Conteúdo)
(crédito: Fátima Meira/Estadão Conteúdo)

O governo de transição reconheceu, ontem, que há ruídos na relação com os militares e, por isso, a composição do grupo temático da Defesa no gabinete provisório só sairá após o retorno do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ao Brasil. O coordenador geral dos grupos técnicos, Aloísio Mercadante, disse que "há um problema institucional com relação às Forças Armadas", mas que isso "não é, propriamente, um problema do grupo de trabalho".

Até agora, o governo de transição não designou ninguém da área militar, da ativa ou da reserva, para integrar os grupos de trabalho, como o Correio antecipou na edição de ontem. Essa demora para fechar o grupo temático da Defesa reflete a dificuldade de interlocução com o setor, que será resolvida exclusivamente pelo presidente eleito.

As relações do PT com a caserna se esgarçaram nos últimos anos, com a adesão de boa parte das Forças Armadas à ideologia e à agenda do presidente Jair Bolsonaro (PL). A presença dos militares na comissão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que avaliou a segurança das urnas eletrônicas — sem encontrar irregularidades — foi mais um dos pontos de atrito com o Judiciário e a oposição. As notas oficiais assinadas pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em que mantêm dúvidas sobre a inviolabilidade do sistema eletrônico de votação, e o tuíte do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas — na qual se alia aos apoiadores de Bolsonaro que promovem manifestações antidemocráticas — só acirraram a relação com as forças políticas vitoriosas nas eleições de outubro.

No PT, algumas lideranças da legenda tentam minimizar o problema. Para o deputado federal Rui Falcão (PT-SP), "os militares têm que cumprir seu papel". Ele não vê "necessidade" na participação de representantes das Forças nos grupos temáticos. "O que conversaríamos com eles?", indaga.

Sobre o futuro ministro da Defesa, Falcão reforçou a posição do partido de que deveria voltar a ser civil. "O ministro da Defesa tem que ser civil, o presidente tem a prerrogativa de escolher o ministro que ele quiser, e é claro que pode consultar (a área militar). Mas não há necessidade", afirmou.

O senador pela Bahia e ex- ministro da Defesa Jaques Wagner, uma das vozes mais influentes do PT, corrobora a opinião do deputado. Para ele, a pasta não é "uma questão só das Forças Armadas, é uma questão da sociedade". Por isso, também defende a pasta nas mãos civis, para "construir as pontes" com o setor militar.

Mas, entre os partidos aliados, há muitos que pregam o diálogo imediato com a área militar. "Acho que é bom ter (militares na transição). Tem muita gente boa, tem muita gente qualificada, que é do nosso campo, que é comprometida com as ideias do projeto que ganhou a eleição. Acho importante ter", disse o líder da Oposição na Câmara, Wolney Queiroz (PDT-PE).

Abin e GSI

Outros dois grupos que estavam previstos no organograma original do governo de transição — Centro de governo e Inteligência estratégica — ainda estão com o futuro indefinido. O primeiro cuidaria dos ministérios e secretarias com status ministerial que funcionam no Palácio do Planalto, como Casa Civil e Secretaria Geral da Presidência. O outro se dedicaria à coleta de dados em órgão sensíveis, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Informações (Abin).

Mercadante disse que "não é simples" montar um grupo de trabalho para lidar com informações estratégicas, muitas tratadas sob sigilo. "Tem que ter instrumentos fora do governo que permitam ter informações para poder avaliar. Nós temos gente da área que está discutindo, mas não sabemos se vamos formalizar um grupo ou não", observou.

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