Lisboa — Depois de passar por momentos bastante complicados em Nova York, com riscos de agressões físicas por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), agradeceu por estar em um “ambiente pacificado” em Lisboa. “Foram muitas as emoções em Nova York”, afirmou durante o seminário “O futuro dos investimentos em infraestrutura”, promovido pelo Fórum de Integração Brasil Europa. Ele deixou claro, no entanto, que os grupos de radicais que tomam as ruas não levarão a um golpe de Estado. “Não haverá ruptura democrática. A transição de governo já está em curso”, afirmou.
Segundo o ministro, os organizadores do evento do qual ele e outros ministro do STF participaram em Nova York foram surpreendidos com a agressividade dos manifestantes. “Não se esperava aquilo”, afirmou. Ele contou que um dos momentos mais tensos na passagem pela cidade norte-americana foi quando estavam em um carro retornando de um restaurante para o hotel onde estavam hospedados. “O carro foi interrompido, com as pessoas batendo no vidro, em plena Sexta Avenida, sem que houvesse ação por parte da polícia. Uma coisa assustadora”, relatou. No entender dele, se fato semelhante ocorresse em Copacabana, “as pessoas diriam, a polícia virá”.
O ministro assinalou que, após esse ato radical, foram tomadas as providências para a segurança de todos os integrantes do Supremo que estavam em Nova York — Alexandre de Moraes, Cármem Lúcia, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso. “A polícia passou a estar no hotel, onde, inclusive, pessoas foram agredidas. As pessoas entravam e agrediam colegas. Foram muitas provocações”, frisou.
Para Gilmar, apesar de todos os transtornos, foi importante o diálogo com todos os participantes do seminário promovido pelo Lide, de João Doria. “Havia, ali, 200 empresários brasileiros e americanos, e muitos estavam seguindo pela internet. Os ministros do Supremo explicaram todo o papel das instituições brasileiras. E, pelas perguntas, muita gente, mesmo estando no Brasil, não sabia o que estava ocorrendo no país”, disse. “Então, isso foi positivo. Explicar, por exemplo, o papel que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cumpriu nos últimos anos e, sobretudo, durante as últimas eleições. Afinal, todo mundo estava falando mal do TSE”, ressaltou. “Cumprimos nosso objetivo.”
Na avaliação do ministro, as manifestações antidemocráticas não vão mudar o resultado das urnas. “O que vemos são pessoas que se mostram inconformadas com os rumos das eleições, como ocorre com times de futebol. Reclamam de um eventual resultado insatisfatório”, enfatizou. Ele destacou, ainda, não acreditar que movimentos mais radicais possam crescer com a proximidade da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
“Acho que, do ponto de vista político, o quadro é de absoluta normalidade. Discussões sobre formação de um novo governo estão em andamento, assim como projetos de reformas para o próximo ano, como a prorrogação do Auxílio Brasil. Isso já está sendo discutido com as bancadas da câmara e do Senado”, frisou o ministro. E emendou: “Todo o estamento político reconheceu o resultado dar urnas. Não há perspectiva para isso (golpe). A estrutura política está voltada para fazer a transição. Não faz qualquer sentido cogitar a interrupção do processo democrático”. Para ele, as pessoas que estão gritando contra o processo eleitoral vivem na bolha das redes sociais, estão fora da realidade.
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