O deputado federal eleito Guilherme Boulos (Psol-SP) crê que, a partir do próximo ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vai ter de prestar contas à Justiça sobre possíveis crimes cometidos à frente do governo federal. Crítico dos sigilos centenários impostos por Bolsonaro a dados pessoais de integrantes de sua administração, Boulos disse, ontem, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, que a derrubada das restrições, promessa do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vai trazer à tona elementos dignos de um "porão velho".
"Sabe aquele porão velho, que ninguém abre e só sai rato, barata, tudo o que não presta, até escorpião? É isso o que vai acontecer quando abrir o sigilo de 100 anos", disse.
O pessolista acusou Bolsonaro de ter mexido na estrutura da Polícia Federal no Rio de Janeiro para evitar investigações sobre supostas "rachadinhas" salariais cometidas pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e barrar a apuração em torno da execução de Marielle Franco (Psol), vereadora da capital fluminense.
"Ele (Bolsonaro vai receber sucessivos procedimentos, inquéritos e investigações e vai ter de responder pelos crimes", projetou. Embora diga que Lula tem a missão de "pacificar os ânimos" e pregar o diálogo, Boulos garante que a coalizão responsável por amparar a campanha do PT não vai abrir mão da agenda defendida durante o período eleitoral.
Segundo ele, a construção de pontes com outros setores da sociedade civil não implicam em "anistia" a Bolsonaro.
"Estou entre aqueles que acha que Jair Bolsonaro e seus filhos, os milicianos que governaram com ele, vão ter de responder pelos crimes que cometeram. A pacificação do país não significa esquecimento nem 'passar pano' para atitudes criminosas", opinou. "Quando falo em Bolsonaro responder por seus crimes, isso acontecerá a partir de 1º de janeiro de 2023, quando ele não terá mais foro especial. Isso passará pelas acusações criminais em primeira instância, como qualquer cidadão. Ele terá de responder", completou.
Como mostrou o EM em agosto, Bolsonaro se baseia em uma brecha da Lei de Acesso à Informação (LAI) para decretar os sigilos. O amparo está em trecho que permite dar caráter secreto a dados cuja informação, mesmo que haja interesse público, possam violar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem de uma pessoa.
Protestos não vão proteger Bolsonaro, crê Boulos
Bolsonaro diminuiu o número de aparições públicas desde a derrota para Lula, em 30 de outubro. A primeira fala do presidente após o revés foi na terça-feira (1/11), quase 48 horas após a proclamação do resultado. O discurso, aliás, não teve nenhuma menção à derrota para o petista.
Do fim do segundo turno para cá, bolsonaristas têm feito protestos em rodovias e ruas das cidades reivindicando intervenção das Forças Armadas e o impedimento da posse de Lula. Para Boulos, os atos com pautas antidemocráticas não são capazes de gerar um escudo para impedir a eventual discussão judicial de questões como a postura do atual presidente ante a pandemia de COVID-19.
"Se ele quer se cacifar como liderança de oposição ao Lula, cometendo mais crimes, são mais crimes que entram na ficha corrida que ele terá de responder. Porque o que ele faz, ao não reconhecer os resultados das eleições, ao orientar a Polícia Rodoviária Federal a prevaricar, como aconteceu, é também crime", assinalou.
Candidato a prefeito de São Paulo em 2020, Boulos assegurou não estar preocupado com as manifestações. Ele, inclusive, relaciona os movimentos a grupos que ganham tons "caricatos".
"É lógico que o bolsonarismo vai seguir na força de oposição ao Lula, mas essa disputa vai se dar no Congresso Nacional, no âmbito da agenda política do país, na mobilização de ruas, na disputa cultural e de valores, que vai ser travada", explicou.
Assista a entrevista completa:
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