O presidente Jair Bolsonaro (PL) se recolheu em silêncio, sem comentar o resultado da disputa com seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com assessores próximos, "foi dormir" e não recebeu nenhum dos ministros e auxiliares que procuraram por ele. Da mesma forma que um ocupante da Presidência, pela primeira vez, não obtém a reeleição, também é a primeira vez que um candidato derrotado não reconhece que perdeu a disputa. A expectativa é de que ele se pronuncie hoje sobre o pleito.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, anunciou, ao confirmar o resultado do pleito, que ligou tanto para Lula quanto para Bolsonaro comunicando os percentuais de cada um. Mas não disse como cada candidato recebeu a notícia.
"Liguei pessoalmente para conversar com ambos os candidatos, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, dizendo que a Justiça Eleitoral já estava apta para proclamar o resultado. O presidente Bolsonaro me atendeu com extrema educação, assim como o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva", salientou.
Apoiadores que estavam na Esplanada se dirigiram ao Palácio da Alvorada com vuvuzelas e fogos de artifício chamando pelo chefe do Executivo ao som de "Bolsonaro, cadê você, eu vim aqui só para te ver" e "A nossa bandeira jamais será vermelha" — também gritavam "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão". No entanto, os apelos dos apoiadores do presidente não foram atendidos e as luzes da residência oficial foram apagadas por volta das 22h.
Ao longo da tarde, o presidente recebeu visitas do ministro da Justiça, Anderson Torres, e do senador, o filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos coordenadores da campanha. Mesmo aliados do governo, que tentaram visitar o presidente, como o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, não foram recebidos. Depois de decretado o resultado, os filhos do presidente seguiram o exemplo do pai e não fizeram publicações nas redes sociais.
Desde a notícia da vitória de Lula, a imprensa seguiu à espera de um posicionamento de Bolsonaro e recorreu a assessores palacianos e a do próprio PL, que também se calou e ignorou questionamentos sobre uma eventual coletiva durante toda a noite.
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Otimismo mais cedo
Ontem pela manhã, ao votar no Rio de Janeiro, Bolsonaro se disse otimista com o resutado das eleições: "Expectativa de vitória". Após a votação, recebeu jogadores do Flamengo no Aeroporto Internacional do Galeão, após a vitória na final da Libertadores contra o Athlético-PR, no Equador.
No sábado, Bolsonaro escolheu Belo Horizonte para sua última motociata antes das eleições. Mas também foi derrotado por Lula no estado, a exemplo do primeiro turno. Hoje, o presidente segue sem agenda oficial.
Na reta final do segundo turno, a campanha de Bolsonaro sofreu impactos diante de declarações sobre adolescentes venezuelanas refugiadas em Brasília, com o "pintou um clima". O caso foi seguido dos ataques do presidente de honra do PTB, Roberto Jefferson, à ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia, e ao ataque que fez contra policiais federais que foram levá-lo de volta ao regime fechado de prisão.
Outra notícia que integrantes da campanha e do governo tentaram contra-atacar durante a semana foram as críticas à ideia do Ministério da Economia de deixar de corrigir o salário mínimo e a aposentadoria pela inflação passada. Pesou ainda o fracasso de colocar sobre as costas do TSE a culpa por inserções da campanha que não teria ido ao ar em rádios do Nordeste.
Após o último debate presidencial, na sexta-feira, o presidente afirmou que respeitaria o resultado das eleições. Segundo ele, levaria o pleito aquele candidato que conseguisse mais votos. "Quem tiver mais votos assume o governo. Não há a menor dúvida: quem tiver mais votos leva, isso que é democracia", salientou.
Pelas redes sociais, o ministro da Casa Civil e coordenador da campanha do presidente, Ciro Nogueira, comentou brevemente o resultado das eleições. "Para sempre ao seu lado, capitão", disse, com a publicação acompanhada de uma foto dos dois abraçados.
Já o ministro das Comunicações, Fábio Faria, agradeceu Bolsonaro por ter "resgatado o orgulho" do país de "ser brasileiro" — mesmo tendo afirmado, dias, antes que se arrependera de tentar jogar sobre o TSE a culpa pelas inserções de rádio que supostamente não foram ao ar.
Apesar do silêncio do presidente, ainda não se sabe se ele respeitará o resultado do sistema eleitoral ou se haverá a tentativa de judicialização das eleições. Isso porque, no dia seguinte ao episódio das inserções, ele anunciou que iria "até às últimas consequências", além de ter afirmado, várias vezes, que apenas respeitaria um resultado de uma eleição que considerasse "limpa".