O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega hoje ao segundo turno novamente na posição de favorito, que ocupou durante todo o período eleitoral. Porém, diferentemente do primeiro turno, o candidato tem uma margem apertada, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo em desvantagem, tem chances reais de virar a disputa. As pesquisas mais recentes divulgadas mostram ambos dentro da zona do empate técnico, na margem de erro dos levantamentos. Na última semana da corrida, o otimismo presente na primeira votação, com a expectativa de liquidar a fatura ainda no começo de outubro, transformou-se em um esforço na campanha para conquistar os indecisos e reduzir a abstenção.
O debate de sexta-feira, na TV Globo, por sua vez, apresentou o petista bem preparado, com bom controle de seu tempo de fala e respostas afiadas contra os ataques de Bolsonaro, que miraram especialmente os escândalos de corrupção dos governos petistas. Lula conseguiu emplacar temas sensíveis ao atual governo no confronto. "Durante quatro anos, esse homem governou o país e não deu 1% de aumento no salário mínimo", disse, aproveitando uma fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, que preocupou a campanha do mandatário durante a semana.
Com audiência que bateu a casa dos milhões de espectadores, o embate de anteontem foi tratado como ponto crucial para Lula. O petista foi orientado a responder de forma mais combativa às provocações, manter a calma e ficar de olho no tempo. Tais fatores foram avaliados como fraquezas no seu desempenho nos debates anteriores, que deixaram sua campanha insatisfeita.
Os principais alvos na campanha durante a reta final foram a redução da abstenção e o público evangélico. Na segunda-feira, o grupo Fraternidade do Evangelho divulgou uma carta de apoio ao petista. Outra estratégia foi a criação da Central Evangélicos com Lula, uma plataforma no WhatsApp destinada a combater fake news e esclarecer as propostas do ex-presidente. Segundo a campanha, foram realizados mais de 2 mil atendimentos por dia.
Outra mudança recente que chamou atenção foi o detalhamento maior do que Lula pretende fazer na área econômica caso eleito. O candidato é criticado por ter um programa de governo vago e defender medidas que preocupam o mercado, como o fim do teto de gastos. O tema se tornou mais presente nas últimas declarações de Lula, que disse que escolherá alguém com "responsabilidade fiscal e social" para chefiar a pasta da Economia.
Na quinta-feira, a apenas três dias do pleito, o petista divulgou uma carta na qual assume os compromissos que fez com lideranças políticas como Simone Tebet e Marina Silva e, principalmente, promete uma política fiscal que siga "regras claras e realistas, com compromissos plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação". O aceno foi visto com bons olhos pelo mercado, mas ainda é considerado vago em suas propostas.
Margem estreita
Lula também foi beneficiado por uma sequência de deslizes cometidos por Bolsonaro na semana final. Um deles foi o vazamento do plano do Ministério da Economia para desindexar o salário mínimo, aposentadorias e outros benefícios da inflação. A campanha petista foi rápida em partir para o ataque e acusar Bolsonaro de tentar diminuir o salário mínimo, obrigando o ministro Paulo Guedes e o próprio presidente a ter que rebater as acusações durante a semana, prometendo até aumento real, acima da inflação, para o salário mínimo.
Após o revés sofrido pelo ataque de Roberto Jefferson — aliado do mandatário — a policiais federais com tiros e granadas, a campanha de Bolsonaro emplacou a acusação de que rádios do Nordeste teriam veiculado menos inserções suas do que de Lula. A manobra conseguiu desviar o foco de Jefferson, mas foi contestada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que determinou que as informações apresentadas por Bolsonaro não provaram a alegação, e pelas próprias rádios citadas em documento do PL.
Lula chega ao segundo turno novamente como favorito, mas com uma margem muito mais estreita de Bolsonaro do que gostaria. O mandatário ainda tem chances de virar a situação nas urnas, porém não conseguiu a "bala de prata" que buscava durante a semana, e ficou relegado a apagar incêndios. O petista, caso vença, terá o desafio de se articular para agradar tanto sua base de esquerda quanto os apoiadores de centro-direita que conseguiu agregar para o seu time. Além disso, terá que negociar com os apoiadores mais radicais de Bolsonaro que conseguiram se eleger no Parlamento e nos estados.
Caminhada com Mujica
O candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrou a campanha eleitoral com uma caminhada na Avenida Paulista na tarde deste sábado (29/10). Além de Lula, o candidato ao governo de São Paulo, Fernando
Haddad, os vices da chapa, parlamentares do partido e o expresidente do Uruguai, José Mujica estiveram em um encontro com a imprensa.
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