Na reta final para o segundo turno, crescem os questionamentos sobre um eventual governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em especial, na área econômica. Em entrevista à Rádio Nova Brasil, ontem, o petista afirmou que pretende implementar uma série medidas econômicas para tirar o país da crise. Para tanto, precisa conversar com o Congresso Nacional "desde já". Ele garantiu, ainda, que terá austeridade fiscal, mesmo defendendo a revogação do teto de gastos.
Entre as iniciativas citadas por Lula estão reforma tributária e retomada de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Nós vamos ter de encontrar um meio de discutir com o Congresso já, para que a gente possa colocar o dinheiro necessário para cumprir o que está previsto", frisou. "Vai demorar um tempo para a gente ir arrumando a casa, acertar com o Congresso, fazer as mudanças no Orçamento e para que a gente possa, inclusive, começar a discutir uma política tributária que seja mais justa", acrescentou.
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Questionado sobre sua política de austeridade fiscal, respondeu que "está dentro da concepção de governo que eu tenho". Ele explicou sua posição contra o teto de gastos implementado durante o governo de Michel Temer (MDB). "Quando você fez o teto de gastos, você estava pressionado pelo sistema financeiro, que queria receber aquilo que o Estado lhe devia. A gente não pode gastar mais do que arrecada, mas a gente pode contrair uma dívida se for construir um ativo novo, alguma coisa que signifique aumentar a produtividade desse país", ressaltou.
Em relação à equipe econômica, se recusou novamente a citar nomes antes de uma eventual vitória nas urnas. O tema é um dos principais questionamentos em torno da campanha dele, que reúne nomes como Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin, Aloizio Mercadante, Pérsio Arida, entre outros economistas.
Perguntado se revelar os nomes da equipe não seria uma forma de tranquilizar os eleitores "desconfiados", Lula negou. "Não estou aqui para agradar o eleitor desconfiado. Se eu anunciar uma equipe econômica, se eu tiver dois economistas, eu vou perder 10, vou perder 15. Ou seja, eu não quero perder voto", argumentou. "As pessoas sabem, eu já fui presidente, eu não indiquei ministério antes. Eu não vou me sentar na cadeira antes de ganhar. Só posso indicar nome para qualquer cargo depois que eu ganhar as eleições."
O petista também enfatizou que, se eleito, será "presidente de um mandato só", reforçando novamente a ideia de que abrirá mão da recondução.
Questionado sobre opositores e envolvidos em sua prisão pela Operação Lava-Jato, o petista refutou a possibilidade de retaliação, caso eleito. "Não vou voltar para ficar procurando sarna para me coçar. Vou voltar para tentar atender os interesses deste povo", afirmou. "Não vou perder tempo com quem quer que seja. Quero perder tempo discutindo soluções para o povo brasileiro. Esse é o Lula que vai voltar a presidir o país. Senão, seria melhor eu ficar em casa. Não vou ganhar um cargo de presidente da República fazendo uma campanha para depois ficar com políticas pequenas, tentando me vingar de alguém."
Ao comentar a respeito dos processos que o levaram à prisão, no âmbito da força-tarefa capitaneada pelo então juiz Sergio Moro, Lula afirmou que os envolvidos serão julgados por Deus. "Ele sabe o que aconteceu, sabe o que é verdade. E eu estou tranquilo, porque já venci 26 processos da Justiça Federal, venci dois processos na ONU (Organização das Nações Unidas) e venci na Suprema Corte. Portanto, eu não devo nada a ninguém neste país e muito menos à lei", declarou.
Na semana do pleito, Lula trocou os atos e caminhadas que vem fazendo desde o primeiro turno por uma agenda mais digital, enquanto se mantém em São Paulo. Ele deve ficar na capital paulista até a eleição. Os únicos compromissos do ex-presidente, ontem, foram a entrevista por meio virtual e live. Internamente, ele teve reuniões e gravou os últimos programas eleitorais. O foco é fazer participações menos desgastantes, especialmente para poupar a voz, já que tem debate na TV Globo na sexta-feira.