Entusiasmado com o desempenho do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas internas da campanha à reeleição, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), acredita na virada de Bolsonaro no 2º turno. Para o presidente nacional do PP, que chegou a projetar vitória do chefe do Executivo em "18 ou 19" das 27 unidades da Federação, os institutos de pesquisa tentaram criar o que chamou de "tentativa de se fazer o maior estelionato eleitoral de nossa história".
Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o articulador de Bolsonaro atribuiu à esquerda a "guerra santa" instalada nas redes sociais, com falsas acusações de "satanismo" e relação com a maçonaria. Para Nogueira, os eleitores deverão utilizar os espaços dos debates, que começam hoje, para tomar consciência das propostas para o país.
Sobre uma possível vitória de Lula e a retomada da aliança com o PT, o ministro afirmou que lutará de "todas as formas para que isso não ocorra". Mas disse acreditar na vitória de Bolsonaro, a quem classificou como político de "caráter fascista", em 2017.
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Como o senhor avalia as duas primeiras semanas de campanha no 2° turno? O que espera para os próximos dias?
Foi muito bom o início da campanha para o nosso campo político. Depois da perplexidade do PT por não ter ganho no 1° turno, criou-se um ânimo muito grande. Muitos eleitores não foram votar porque acharam que Lula ganharia no 1° turno. As pesquisas, agora, estão dizendo que o índice de comparecimento desses eleitores vai ser muito grande no 2° turno.
O senhor disse que o 1° turno seria um plebiscito sobre as gestões de Lula e Bolsonaro. É correto dizer que o 1° turno, então, foi um plebiscito que apontou aprovação maior à gestão de Lula?
O 1° turno foi um plebiscito: 'sim' ou 'não' a Lula. Graças a Deus, a população disse 'não', porque estava tudo pronto para ele ganhar no 1° turno.
Mas o petista foi o primeiro colocado (nos números finais do TSE, Lula obteve 57.259.504 votos e Bolsonaro 51.072.345 votos).
Ele foi, mas todo mundo achava que ele ia ganhar no 1° turno, menos nós, que tínhamos informações.
O senhor é do Piauí, estado que deu a Lula uma de suas mais expressivas vitórias. A que atribui o triunfo do PT por lá? Como reverter?
A força eleitoral de Lula no Nordeste é histórica. Vale ressaltar que ele ganhou no Nordeste com menos votos que (Fernando) Haddad na eleição passada. A migração dos percentuais por conta da abstenção no Nordeste vai ser significativa na decisão eleitoral deste ano. A abstenção no Nordeste no 2° turno é muito significativa.
A campanha de Bolsonaro, então, trabalha com elevada abstenção no Nordeste nos cenários em que projeta a reeleição?
Historicamente, no 2° turno, o aumento da abstenção no Nordeste é muito significativo.
O senhor apostava em uma vitória do presidente em 18 ou 19 estados. As urnas mostraram que foram 12 vitórias, mais o Distrito Federal. Onde os resultados não corresponderam à sua previsão?
Temos tudo para ganhar a eleição, no 2° turno, nos estados que previ. Não contava com essa manipulação dos institutos de pesquisa, aliados à grande imprensa. Não esperava que, depois de tanto tempo, se repetisse o que ocorreu em 1989, no famoso debate entre Lula e Collor... O que previ só não se confirmou por conta da tentativa de se fazer o maior estelionato eleitoral de nossa história.
O que espera de Bolsonaro nos debates com Lula na TV? Hoje eles terão o primeiro confronto direto no segundo turno.
Estamos diante de uma decisão sobre o que queremos para o país. Um caminho consistente, previsível, buscando uma recuperação e um protagonismo econômico no mundo que está nos dando uma chance histórica nos próximos anos, ou a imprevisibilidade, o medo de termos, no país, um alinhamento completo com o insucesso que está acontecendo nos demais países da América Latina. O eleitor tem de utilizar esse debate para tomar conhecimento da diferença de projeto futuro para o país.
O senhor chegou a anunciar férias para se dedicar à eleição no Piauí e, depois, recuou. E afirmou que o estado "caminhava a passos firmes rumo à mudança". Por que essa caminhada mudou de direção e seus candidatos ao governo e ao Senado perderam?
Muito pela força de Lula, tenho de reconhecer. Mas, de qualquer forma, Lula teve votação expressiva no Piauí e seus candidatos quase perderam. Foi um resultado eleitoral muito significativo para as oposições lá, apesar de não ter tido êxito. É, talvez, um dos estados do Nordeste onde houve mais disputa.
A campanha no 2° turno tem sido pautada por uma espécie de "guerra santa". Não há prejuízo ao debate?
Não gostaria de um debate dessa forma. Gostaria de um debate de propostas e ideias, mas o PT tem fugido disso. A campanha do presidente, o que ele quer para o futuro, é muito transparente; a de Lula, não tem a menor transparência econômica, de previsibilidade para o país. O debate acabou descambando dessa forma por opção do PT.
Se Lula vencer, o PP pode integrar a base dele no Congresso, como ocorreu durante parte dos governos petistas?
Se depender de mim, não. Não me vejo aliado ao PT por todo o mal que já fez ao país e ao meu estado, principalmente. Vou lutar de todas as formas para que isso não ocorra.
Concorda com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, que defendeu "enquadrar" o STF?
Não acho que seja necessário "enquadrar". Cada Poder tem de respeitar os outros e voltar às suas atribuições.
É favorável à ampliação do número de ministros do STF?
Não vejo necessidade. Não acho que isso seja prioridade para o país.
Há chance de Bolsonaro ou de sua base tentarem encampar essa pauta?
Eu lhe dou minha palavra de que o presidente nunca tocou nesse assunto.
Como avalia o episódio na Basílica de Aparecida?
A CNBB, historicamente, sempre teve um viés de politizar para a esquerda. Temos de respeitar o direito das pessoas.
Mas como o senhor avalia o episódio de hostilidade do lado de fora da Basílica?
Foi muito grave. Agora: nunca pode descambar para a violência e (tentativas) de cercear o trabalho da imprensa. Isso, temos de reprovar.
Em 2017, o senhor disse que Bolsonaro tinha um "caráter fascista". O que o levou a mudar de posição?
Realmente disse isso. Conhecia o deputado Bolsonaro e não concordava com parte de sua atuação. O presidente Bolsonaro me surpreendeu positivamente, fiz um mea-culpa e passei a apoiá-lo veementemente.
Como enxerga a próxima eleição para a presidência do Senado? Há chances de o eleito vir da base governista?
A eleição na Câmara é uma eleição encaminhada. Se Bolsonaro ganhar, vai ser praticamente uma aclamação. A eleição no Senado está dependendo da eleição presidencial.