A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) iniciou, nesta semana, uma mobilização pelo voto dos indígenas no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais.
A Apib, junto com a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) divulgaram uma carta aberta para as comunidades originárias de todo o Brasil. Nela, a entidade pontua diversos argumentos para os indígenas escolherem o petista.
“Numa guerra-relâmpago em que associa Lula ao tema da corrupção, unificou e fortaleceu o antipetismo, se apresentou como “homem do povo”, conseguindo esconder com mentiras deslavadas (dizendo, por exemplo, que sempre deu atenção especial às mulheres) as maldades que cometeu durante seu governo”, informa um trecho da carta.
Eles ressaltam, ainda, a preocupação com a grande quantidade de políticos conservadores e de ideologia compartilhada com a do chefe do Executivo. Relembram que uma das prioridades para o próximo mandato será o “pacote da destruição”, que trata sobre a liberação de agrotóxicos e de novas regras para a distribuição fundiária, e está parado no Senado Federal.
Do mesmo modo, falam sobre o desmonte que se observou nas políticas públicas e os espaços retirados dos povos indígenas em conselhos, comissões e colegiados que influenciam diretamente no bem-estar dessas pessoas.
“Na recente história democrática do Brasil, nunca os direitos dos povos indígenas foram tão execrados como neste mandato de Jair Bolsonaro que, publicamente, desde antes de sua eleição em 2018, escolheu os nossos povos como inimigos e tomou a determinação de desmontar a política indigenista, sucatear e entregar a Fundação Nacional do Índio (Funai) à gestão da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), isto é, à bancada ruralista”, destacam.
São descritos oito pontos para demonstrar aos “parentes” que o atual presidente desconsiderou direitos fundamentais dos povos indígenas e os submeteu “a um regime de regressão e supressão” administrativamente, jurídico e com iniciativas legislativas. Para eles, as decisões que vêm sendo tomadas têm colocado “em risco a nossa vida e continuidade enquanto povos social, étnica e culturalmente diferenciados”
Força da mobilização
À frente do movimento de mobilização estão as indígenas eleitas como deputadas federais eleitas neste ano, Célia Xakriabá (Psol-MG) e Sônia Guajajara (Psol-SP). Esse ano, a Apib e a Anmiga se articularam para lançar o maior número possível de candidaturas com esse perfil para o Congresso e as assembleias legislativas. O resultado foi um aumento de 100% de indígenas na Câmara Federal, com cinco nomes eleitos.
“As candidaturas indígenas que fizeram parte da Bancada Indígena da Apib tiveram mais de 446 mil votos nas urnas. Demonstramos a força da mobilização coletiva para ocupação das Casas Legislativas estadual e federal, encabeçando, principalmente, a questão da identidade territorial por meio da retomada da demarcação de territórios, principal luta do movimento indígena”, lembraram.
Além disso, de acordo com o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), as candidaturas autodeclaradas indígenas aumentaram 32% em relação ao pleito de 2018. De 130 indígenas, o número saltou para 172, dentre os quais 98 estavam em partidos de esquerda, com destaque para o PSOL (24) e para o PT (22).
Como 74 nomes escolheram partidos que se alinham ao posicionamento da extrema-direita ou centro, incluindo a deputada também eleita Silvia Waiãpi (PL). Uma das preocupações da Apib e da Anmiga é que os indígenas que defendem os mesmos propósitos de Bolsonaro tenham um alto convencimento dentro do segmento.
“É importante observar, ainda, que esta vitória expressiva de Lula certamente demonstrou um notável avanço e foi resultado da retomada das lutas e mobilizações dos movimentos sociais, sindicais e populares, dos partidos da Federação e da Frente Ampla costurada pelo ex-presidente em torno de um projeto de defesa da democracia, de mudança e reconstrução do Brasil”, salientaram.
“Da mesma forma, é por tudo isso que nós, povos indígenas, devemos votar nos candidatos ao governo estadual que estejam identificados com a nossa causa e que, por ventura, estejam disputando o segundo turno com candidatos bolsonaristas”, concluíram.