O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, abriu sua agenda no estado do Rio de Janeiro, ontem, com um encontro com os prefeitos da capital, Eduardo Paes (PSD), e de Belford Roxo (na Baixada Fluminense), Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, que também é presidente estadual do União Brasil. A mulher dele, Daniela do Waguinho, foi a candidata a deputada federal mais votada em 3 de outubro. Os três políticos são peças-chave da estratégia do petista para reagir no estado que deu, no primeiro turno, vitória ao presidente Jair Bolsonaro (PL) por cerca de 1 milhão de votos de diferença.
Essa nova estratégia pôde ser vista na caminhada que Lula comandou pelo centro de Belford Roxo — que integra uma região para a qual migraram, ainda nos anos 1950, boa parte dos nordestinos que foram tentar uma vida melhor no Rio de Janeiro. No alto de um carro de som, ninguém vestia vermelho. Por sugestão da mulher, Janja, a maioria dos políticos usou roupas brancas, incluindo Lula e o deputado estadual André Ceciliano, que disputou — e perdeu — a eleição para o Senado. Por força dos arranjos políticos locais, outras lideranças do arco de legendas que apoiam a candidatura petista ficaram de fora.
Antes da caminhada, Lula deu entrevista ao lado de Paes e Waguinho, na qual falou da importância de o presidente da República ter uma boa relação com os prefeitos. Os 13 municípios da Baixada Fluminense concentram 22% do eleitorado do estado e passaram a ser considerados prioridade da campanha petista, depois que Bolsonaro saiu vitorioso em todas as cidades da região no primeiro turno. Ele ouviu de Waguinho a promessa de que vai trabalhar para conquistar votos na região. Paes, por sua vez, disse que "muitos prefeitos" do estado estarão com Lula neste segundo turno.
O petista também conta com Waguinho e Daniela para vencer resistências do eleitorado evangélico, que tem presença muito forte na Baixada Fluminense. No comício que fechou a agenda em Belford Roxo, em um campo de futebol, Lula fez várias referências religiosas e não poupou seu principal adversário.
"Para os mentirosos que utilizam Deus para contar mentiras, eles estão cometendo um pecado. Não minta, Deus está vendo. Quem ganha eleição com mentira não consegue governar", disse Lula para os apoiadores.
No discurso, o ex-presidente mostrou-se bem-humorado até na hora de criticar Bolsonaro. Depois de listar as entregas que o governo dele fez em Belford Roxo, com destaque para as 12,7 mil moradias disponibilizadas pelo programa Minha Casa Minha Vida — que prometeu reativar —, Lula lançou uma provocação.
"Desafio alguém que vá votar em Bolsonaro que encontre um tijolo que botou nesta cidade. Ele é um mentiroso", afirmou.
Outro mote do petista foi relembrar as declarações do presidente da República de que a vitória de Lula no Nordeste se deu porque a região tem muitos analfabetos. "O ignorante disse que eu ganhava eleição no Nordeste porque o Nordeste é analfabeto. Esse cidadão não tem a menor noção do que o Nordeste significou para a construção deste país."
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Palavrão
Em um dos momentos mais descontraídos do comício, Lula soltou um palavrão para ironizar as críticas que os bolsonaristas fazem em relação à "promessa" que o petista faz de devolver a picanha à mesa dos brasileiros mais pobres. "Eles estão putos comigo por causa da picanha", disse, rindo, para logo depois emendar, com seriedade: "O Brasil é o maior produtor de proteína animal do mundo. Qual a explicação de ver, na tevê, uma mulher pegar na rua um pedaço de osso para levar para casa? As famílias vão voltar a fazer churrasco no domingo, vão comer costela, picanha, tomar cervejinha".
Outros temas levantados pelo candidato foram geração de emprego, educação e combate à fome. Lula citou o educador e filósofo Paulo Freire — "a fome é feia" — para reforçar o discurso de que as famílias têm direito a três refeições por dia, emprego e escola de qualidade.
"O povo deste país não quer ser só pedreiro, quer ser engenheiro, quer ser médico. Quando a gente não tem profissão, a gente não é nada", lembrou, dirigindo-se aos jovens que acompanhavam o comício.
Paulo Freire
Lula aproveitou o mote da educação para criticar a política do atual governo de facilitar o acesso às armas pela população civil. "A gente não quer um país que venda armas, quer um país que distribua livros", exortou.
O candidato do PT e seus novos aliados participam, hoje, de um ato com lideranças de 11 comunidades da Região Metropolitana, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Depois, Lula fará caminhada pelas ruas da comunidade. Ele quer reavivar a memória dos moradores para as intervenções que foram feitas na região nos anos do governo Lula, como a construção de um teleférico para facilitar a mobilidade entre os morros do complexo. O equipamento, que já foi ponto turístico na comunidade, está parado desde 2016 por falta de recursos para manutenção.
Também está prevista uma visita à favela da Rocinha, na Zona Sul. Nos dois complexos de favelas, Lula venceu Bolsonaro no primeiro turno.
Amanhã, o ex-presidente inicia um giro por capitais nordestinas. A primeira escala é Salvador, para cumprir agenda de campanha com o candidato do PT ao governo do estado, Jerônimo Rodrigues, que disputa o segundo turno contra o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil). Depois, segue para Aracaju, Maceió e Recife.