Eleita senadora pelo Distrito Federal, a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos) utilizou um espaço concedido a ela durante um culto em uma igreja de Goiânia, no sábado (8/10), para convocar os membros presentes a fazerem campanha para o presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição. Ela afirmou que a “guerra não é política, mas sim espiritual” e que “o inferno tá com muita raiva” do chefe do Executivo.
“Não tá fácil, irmãos. Nós não conseguimos resolver todos os problemas, mas o inferno tá com muita raiva do presidente Bolsonaro. Estamos diante dessa eleição não é de uma disputa política, mas de uma guerra espiritual", declarou.
"A gente agora como igreja temos uma decisão para tomar. A gente vai continuar essa luta e tirar essas crianças da mão de Moloque ou nós vamos entregar essa nação?”, convocou Damares. De acordo com a Bíblia cristã, Moloque era um deus dos amonitas adorado em Canaã, conhecido por receber sacrifícios de crianças dos adoradores.
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O discurso foi feito durante o culto da Igreja Assembleia de Deus Ministério Fama e foi acompanhado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro. Para fazer a convocação, a ex-ministra utilizou uma fala emocionada baseada na defesa das crianças, na qual revelou que descobriu crimes “horríveis” contra elas, quando estava à frente do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, e que Bolsonaro se levantou para proteger as vítimas.
“Quando abri as gavetas do ministério eu me apavorei. Estava sendo escondido de nós dados, como por exemplo, desaparecem no Brasil entre 9 e 11 mil crianças por ano. É espiritual, irmãos! Onde estão essas crianças? Bolsonaro disse ‘vamos para a fronteira, fechar as fronteiras’ e eu fui para a Amazônia”, citou Damares.
A ministra apontou a Ilha do Marajó, no Pará, como foco principal da violência contra crianças e adolescentes. Com um dos mais baixos Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, o local foi palco do lançamento do projeto Abrace Marajó, feito por Damares.
“Fomos para o Marajó, e lá nós descobrimos que nossas crianças estavam sendo traficadas por lá. Marajó faz fronteira com o mundo, Suriname, Guiana”, disse Damares, mas a ilha não faz fronteira com os dois países citados.
Ela citou que a pasta que chefiava descobriu crimes de exploração sexual contra crianças de três e quatro anos, nunca antes expostos publicamente. “Vou contar uma coisa para vocês, algo que agora eu posso falar. Nós temos imagens de nossas crianças brasileiras, de três, quatro anos, que quando cruzam as fronteiras sequestradas, os seus dentinhos são arrancados, para elas não morderem no sexo oral”, detalhou.
“Essa é a nação que ainda temos irmãos. Descobrimos que essas crianças comem comida pastosa para o intestino ficar livre na hora do sexo anal”, acrescentou. “Todo mundo pergunta: por que Bolsonaro está fazendo o maior programa de desenvolvimento regional na Ilha do Marajó (PA)? Porque ele tem uma compreensão espiritual que vocês não tem ideia”, citou.
A ex-ministra, no entanto, não contou o que a pasta fez sobre o assunto e nem se as crianças foram resgatadas, nem se o presidente Bolsonaro soube sobre os casos. O Correio questionou o Ministério sobre a existência dos casos e as ações tomadas, mas não obteve resposta até a última atualização desta matéria. O mesmo questionamento foi feito para a Polícia Federal do Pará. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.
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“Saiam daqui e peguem o Whatsapp, falem com todo mundo, é guerra”
Após citar as descobertas e associar Bolsonaro a um possível combate das violências cometidas contra as crianças, Damares disse que os conflitos vividos pelo chefe do Executivo não é algo político, mas espiritual.
“Bolsonaro disse ‘nós vamos atrás de todas elas’ e o inferno se levantou contra este homem. A guerra contra Bolsonaro que a imprensa levantou, que o Supremo levantou, que o Congresso levantou, acreditem, não é uma guerra política, é uma guerra espiritual”, declarou.
A ex-ministra também pareceu preocupada em ser acusada de fazer campanha política em púlpito de uma igreja. “Eu estou falando com a minha igreja, e eu tenho um manto constitucional para me expressar dentro da minha igreja. Tem coisas que não posso falar lá fora, mas aqui eu tenho a liberdade constitucional de manifestar a minha fé”, afirmou durante o discurso dela no palco.
No início da fala, ela também disse que não estava no local “como senadora eleita, mas como pastora”. De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada na sexta-feira (7/10), para 71% do eleitorado brasileiro a indicação de um candidato feita por um líder religioso é considerada muito importante na hora de decidir voto.
“Irmãos, pelas crianças, Deus levantou um homem corajoso por elas. Eu não aguentava mais andar pelo Brasil e gritar. Quem teve coragem de se levantar contra todos os ataques às crianças, a ideologia de gênero, o aborto, a pedofilia, o assassinato e a violência, foi um homem improvável para ser presidente. Isso aqui não é discurso político”, afirmou.
Ela também criticou pastores e cristãos que afirmam que política e religião não se misturam. “Pastores, a guerra é outra. Não é política, é espiritual”, afirmou. “Ou a gente sentecia todas as crianças à morte, porque a ideologia de gênero também é morte; ou a gente se levanta como igreja”, declarou.
Na sequência, Damares convocou os fiéis a fazerem um movimento no Whatsapp e falar para conhecidos apoiarem Bolsonaro para vencer a guerra. Ela também ressaltou que o foco deveria ser para pessoas que moram fora do Goiás, porque “Goiás já deu uma votação expressa a Bolsonaro”.
“Eu sei que essa igreja é apaixonada por crianças. Irmãos, pelas crianças, precisamos nos levantar. Vocês tem que sair daqui hoje, pegar o Whatsapp, todo mundo tem um parente fora, Goiás já deu uma votação expressa a Bolsonaro, mas o papel de vocês não se limita ao Goiás. Falem com os parentes fora de goiás, falem com todo mundo. Orem. É guerra”, concluiu.