A primeira semana do segundo turno das eleições foi marcada pela estratégia de consolidação de capilaridades locais pelo país, além de novas adesões. Na corrida contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro faturou, ao longo da semana, alianças de peso de governadores reeleitos do Sudeste, região que abriga os maiores colégios eleitorais, tendo como peça-chave, Romeu Zema (Novo-MG).
No estado mineiro, Lula liderou a corrida com 5,8 milhões de votos no primeiro turno, enquanto Bolsonaro recebeu 5,2 milhões. O presidente recebeu o apoio de ao menos outros 11 líderes estaduais e diversos parlamentares da base.
No Nordeste, outra região essencial para seu projeto de reeleição, o presidente recebeu o apoio da senadora de Alagoas, Eudócia Caldas (PSB-AL), e do filho, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL). Apesar dos acenos oficiais, especialistas avaliam que a estratégia de usar palanques locais não é garantia de transferência de votos a ponto de catapultá-lo a vencer as eleições, mas deixam Bolsonaro em uma situação melhor diante de Lula.
A última pesquisa divulgada pelo Datafolha após o primeiro turno, mostra que Lula segue na preferência da intenção de votos com 49% e Bolsonaro com 44%. O presidente trava uma batalha para ganhar terreno no reduto lulista. Além de investir nos eleitores do segmento religioso, como evangélicos e católicos, ao longo da semana, reforçou a pecha de corrupto do petista, questionando "o que Lula fez pelo Nordeste nos 14 anos em que esteve na presidência".
Por outro lado, deu um tiro no pé ao relacionar o melhor desempenho de Lula na região ao analfabetismo na região, o que foi explorado pela campanha de Lula, que iniciou ainda ataques por meio das redes sociais e propagandas eleitorais fazendo uso de vídeos que revivem declarações polêmicas e embaraçosas de Bolsonaro, como canibalização e maçonaria.
A semana foi otimista para o QG bolsonarista, que aponta que, além de um número de votos acima do esperado, o candidato à reeleição formou uma base sólida no Congresso. O PL terá a maior bancada do Senado a partir de 2023, com 13 parlamentares. Já na Câmara, são 99 cadeiras ocupadas pela sigla.
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O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, ressalta que o apoio de Zema será fundamental para a campanha de Bolsonaro, visto que o Sudeste é o principal foco dos dois candidatos ao Palácio do Planalto. E relatou que os votos que elegerão o novo presidente partirão da migração dos votos de eleitores de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), além das abstenções.
"O espaço de votos reside junto aos eleitores que optaram por outros candidatos, votaram branco ou nulo, além dos que se abstiveram. Será uma eleição apertada. Esses são fatores que farão a diferença. Minas é um colégio eleitoral muito relevante, além de São Paulo. A transmissão de votos não é garantida, mas ajuda a quebrar resistências", observa.
Ricardo Caichiolo, cientista político do Ibmec-DF, destaca que os apoios são significativos, mas que não representa necessariamente a transferência imediata de votos. "Zema precisa de apoio dentro da Assembleia Estadual de Minas para ter projetos aprovados e sabe que o PL de Bolsonaro conseguiu emplacar vários deputados estaduais lá dentro. Os três governadores citados devem se envolver e conseguir um aumento no número de votos para Bolsonaro. Mas o alinhamento de Castro, Zema e Rodrigo não significa necessariamente que aquele eleitor deles votará em Bolsonaro. Não tem uma transferência automática de votos."
E aponta que o apoio de Rodrigo Garcia a Tarcísio e Bolsonaro foi um revés para as campanhas de Fernando Haddad (PT) e Lula. "Esse apoio que Bolsonaro conseguiu reúne cerca de 35% dos votantes do país. Haddad tentou aproximação com Garcia para que houvesse uma troca. O PT apoiaria Eduardo Leite em troca de apoio para Haddad contra Tarcísio. Não deu certo. É um impacto significativo para os palanques, mas o outro lado também vem se movimentando."
A advogada constitucionalista Vera Chemin, mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca fatores relevantes para uma possível reviravolta do presidente. "Bolsonaro teve poder suficiente para eleger a maioria no Congresso, sem esquecer dos governadores eleitos com o seu apoio e que lhe darão guarita para a campanha, além de um número significativo de prefeitos que o ajudarão a cooptar votos."