ELEIÇÕES

Ao lado de deputadas reeleitas do PL, Bolsonaro vai ao Círio, mas fica em silêncio

Presidente participa da celebração religiosa em Belém, mas sem discurso. Planalto informava que ele estava como chefe de Estado, e não candidato à reeleição. Arquidiocese de Belém nega convite

Sem discursar, o presidente da República e candidato à reeleição participou, ontem, do Círio de Nazaré, em Belém do Pará. Trata-se de um evento da Igreja Católica, com mais de 200 anos de tradição, que foi realizado sob responsabilidade da Arquidiocese de Belém. Bolsonaro estava acompanhado das deputadas federais Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF) a bordo da corveta Garnier Sampaio, da Marinha, embarcação que leva a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré.

A procissão fluvial faz parte das 13 romarias do Círio de Nazaré — uma das maiores festas religiosas católicas do mundo (leia mais na página 6). O formato tradicional do evento foi retomado este ano, após a pandemia de covid-19. Bolsonaro já havia participado em 2015, quando era deputado federal.

Já na edição de 2022, estava como chefe de Estado, e não como candidato ao Planalto, apesar de o ato ter sido interpretado como parte de sua campanha. O presidente chegou a Belém no fim da tarde de sexta-feira, e no sábado pela manhã acompanhou a romaria dentro da corveta da Marinha Garnier Sampaio. O chefe do Executivo saiu logo depois em uma embarcação menor, sem falar com a imprensa.

Centenas de embarcações participaram da romaria. A Arquidiocese de Belém divulgou uma nota sobre a presença do presidente da República no Círio de Nazaré. "Comunicamos não ter havido nenhum convite da parte da Arquidiocese de Belém, nem da Diretoria da Festa de Nazaré, a qualquer autoridade, seja em nível municipal, estadual ou federal", diz a nota.

ISAC NOBREGA/PR - Carla Zambelli, aliada de Bolsonaro, esteve com o chefe do Executivo. A deputada federal conseguiu a reeleição por São Paulo com mais votos do que teve em 2018

"Temos o dever de observar a plena liberdade de qualquer cidadão ou cidadã de participar dos eventos do Círio de Nazaré. Todavia, não desejamos e nem permitimos qualquer utilização de caráter político ou partidário das atividades do Círio", conclui. O comunicado é assinado por Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo metropolitano de Belém e foi divulgado na noite de sexta-feira (7/10).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal oponente de Bolsonaro, foi convidado para o evento, mas recusou, com a justificativa de que teme interpretações de que utiliza "religião para fazer política". "Eu não gosto de fazer nenhum gesto que possa parecer que eu estou utilizando a religião para fazer política. Uma das coisas que eu tinha vontade de ver há muito tempo é o Círio de Nazaré, mas eu não vou porque é um ano de eleição", disse, no Twitter. A esposa de Lula, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, foi ao Círio para agradecer pelo primeiro turno eleitoral.

"Sírio"

Bolsonaro chegou a publicar uma foto no evento, na qual escreveu na legenda "Sírio de Nazaré". O erro gramatical foi ironizado por críticos do presidente. "Ei, Bolsonaro! Sei que você não conhece nada sobre o país que governa, mas pelo menos deveria saber escrever o nome da maior manifestação religiosa do mundo", disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) no Twitter.

"Sírio é quem nasce na Síria. Círio de Nazaré. É que digo: é um falso religioso, que nada conhece da fé cristã e nunca leu a Bíblia", publicou o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB) na mesma rede social. A foto foi apagada e o erro foi corrigido em alguns minutos.

O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSol), se disse indignado por Bolsonaro "ter usado" a festa religiosa como palanque. Em vídeo divulgado após a chegada do presidente ao Pará, o prefeito disse que "nenhum político tem direito de usar a fé" do povo. "A fé de todos os paraenses não pode ser sequestrada por uma candidatura à presidência, aliás de um candidato que sequer é católico", criticou.

 

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Isac Nóbrega/PR - Bolsonaro acompanhou a procissão da corveta Garnier Sampaio, da Marinha, acompanhado das deputadas federais reeleitas Carla Zambelli (SP) e Bia Kicis (DF)
Isac Nóbrega/PR - Bolsonaro acompanhou a procissão religiosa a borda da corveta Garnier Sampaio, da Marinha, ao lado da deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP)
ISAC NOBREGA/PR - Carla Zambelli, aliada de Bolsonaro, esteve com o chefe do Executivo. A deputada federal conseguiu a reeleição por São Paulo com mais votos do que teve em 2018

NÚMERO

21

Quantidade de dias que faltam para o segundo turno das eleições, marcado para 30 de outubro

FRASE

O espaço de votos reside junto aos eleitores que optaram por outros candidatos, votaram branco ou nulo, além dos que se abstiveram. Será uma eleição apertada"
Cristiano Noronha, cientista político