Uma eleição presidencial marcada pela polarização, alta rejeição aos dois candidatos que lideram a corrida eleitoral e o acesso facilitado às armas. A combinação, segundo analistas, leva a episódios de violência política, que vêm crescendo e tornaram uma preocupação até que o novo presidente seja empossado.
Desde o início da campanha eleitoral, a radicalização esteve presente. Hoje, no dia da votação, alguns momentos simbólicos são considerados os pontos mais suscetíveis de violência e um paralelo ao que ocorreu nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021 - quando Joe Biden foi certificado como presidente eleito e uma multidão de partidários de Donald Trump invadiu o Capitólio -, é inevitável.
"Enquanto houver a sensação de que algo pode ser feito para reverter o resultado existem riscos isolados de violência, que podem sair de uma discussão cotidiana e acabar em um homicídio, por exemplo", disse o analista de riscos da Control Risks Mário Braga. Ele acrescenta que alguns marcos preocupam mais. "São os períodos de transição, seja do primeiro para o segundo turno, e algumas datas: o dia da certificação do ganhador pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o dia da posse em 1.º de janeiro."
Desde meados de 2021, o presidente Jair Bolsonaro vem ameaçando não reconhecer uma eventual derrota e acusa, sem provas, o sistema eleitoral de não ser transparente e nem 100% confiável. De semanas para cá, ele tem intensificado ataques ao presidente do TSE, Alexandre de Moraes. O que preocupa analistas é a base que foi inflamada desde então.
"O risco de violência política é muito grande porque os ânimos estão exacerbados e, infelizmente, o presidente da República vem incentivando esse tipo de violência. Caso se configure, por exemplo, uma vitória do Lula no primeiro turno, acho que podem ter reações violentas", afirmou o professor Moisés Marques, coordenador de Relações Internacionais na FESP-SP.
Segundo Mário Braga, o contexto das comemorações de partidários de Lula em uma eventual vitória em primeiro turno tem pontos importantes. Equipes de segurança, nos últimos anos, têm conseguido mapear bem onde os riscos podem estar - como na Avenida Paulista ou na praia de Copacabana -, mas o dia da votação torna tal tarefa mais difícil. "Tem lugares que são os de maior concentração de pessoas, e lá há uma preparação, mas estamos falando de um contexto nacional e a possibilidade de mitigar isso é muito menor", disse o analista.
FATOR ARMAS
A tensão hoje, segundo relatórios de análises de risco, pode estar presente já ao longo da votação, nas zonas eleitorais. O TSE trabalha na segurança levando em conta, principalmente, atos isolados de partidários que, independentemente de um comando, possam ir aos locais armados, para exercer pressão.
"O que temos visto é a expansão de grupos de ultradireita, um aumento da posse de armas e a retórica beligerante do presidente levando a um ambiente online bastante agressivo e, então, pode ocorrer esse transbordamento do discurso para o dia a dia", afirmou Braga.
O porte de armas e munições foi proibido pelo TSE entre sábado e segunda-feira. Mas isso não afasta completamente o risco de distúrbios. "Ao longo do dia, prevemos que possam ocorrer potenciais episódios de distúrbios em zonas eleitorais. Alguém que fale 'quero levar o celular, quero levar minha arma' e isso leva a uma discussão e pode ser usado em rede social para amplificar o questionamento sobre as urnas", afirmou.
Com a facilidade do acesso a armas pelos CACs - caçadores, atiradores desportivos e colecionadores -, existe o temor de que muita gente vá armada votar. Para Moisés, esse fator amplia o risco de violência após o resultado da eleição. "O que é muito perigoso nesses próximos dias é a reação, caso Bolsonaro perca a eleição, dos apoiadores dele armados."
CAPITÓLIO
Uma das preocupações com a crescente violência política é que a situação chegue a tal ponto que vejamos uma cena similar à vista nos EUA, quando partidários de Trump invadiram o Capitólio em protesto contra a certificação da vitória de Biden.
O analista da Control Risks considera que o risco de contestação do resultado foi ampliado entre o primeiro relatório sobre a eleição no Brasil, de agosto, e o último, divulgado na sexta-feira passada. A agência, no entanto, não percebeu movimentações que levam a uma preocupação maior. "Ataques super organizados entram numa categoria de 'muito improvável'", disse Braga.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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