Na festa da democracia, todos são convidados. Em uma eleição presidencial com representantes de diversos espectros políticos, o brasileiro poderá exercer o seu direito ao voto, escolhendo aquele com quem mais se identifica. Pensando nisso, o Correio conversou com eleitores dos quatro candidatos à disputa ao Planalto mais bem colocados nas pesquisas para saber o que motivou o voto a ser dado hoje nas urnas.
De acordo com o Instituto Datafolha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida ao primeiro turno, com 50% dos votos válidos, em levantamento divulgado ontem. Filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1986, o servidor aposentado Joaquim Rodrigues, 56 anos, diz que vota em Lula em razão de sua política para os mais pobres.
"A imprensa é testemunha que a vida das pessoas mais carentes que passam por dificuldades melhorou muito em todos os aspectos. Deu moradia para quem não tinha onde morar. Já vi muita gente caindo no choro por só tomar o primeiro banho de água quente com 30 anos porque a energia não chegava onde morava."
O servidor saiu do Piauí aos 10 anos para morar em Brasília, onde, mais tarde, conseguiu uma vaga para estudar na Universidade de Brasília (UnB). E defende a política de incentivo para ingresso em federais aos estudantes mais desfavorecidos realizada durante o governo petista.
"O companheiro Lula criou essa oportunidade, com mais vagas nas universidades públicas, financiando cursos e universidades particulares. E mais ainda, criou as cotas para o pagamento da dívida de mais de 300 anos de escravidão que a elite brasileira impôs ao povo. Todo jovem tem o direito à oportunidade", ressalta.
Valores
Para o engenheiro civil Guilherme Guaraná, 28 anos, morador de Sobradinho, o mais determinante na hora de votar são os valores de cada candidato. "Tenho princípios e valores muito sólidos: não voto em quem apoia aborto, drogas, ideologia de gênero, bandido, ditadura, censura ou quem quer desarmar a população. Qualquer candidato com esse perfil não merece voto", opina.
Eleitor de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, o engenheiro diz que pretende repetir a escolha. Candidato à reeleição, o presidente aparece em segundo colocado na Datafolha, com 36% dos votos válidos. "Nossa crença e as nossas crianças estão sendo prejudicadas por essa esquerda. O Bolsonaro é um dos caras que vieram para defender a família, defender a Pátria e a ideia de que cada um pode fazer o que quiser da sua vida, mas sem impor às crianças a ideologia de gênero na escola. A escola deve ensinar português e matemática, e não ideologia de gênero", destaca.
Educação também motiva a escolha do estudante de direito Pedro Merheb, 23 anos, morador na Asa Norte. O candidato, contudo, é outro. "Voto no Ciro Gomes (PDT), desde a adolescência", diz ele, que acredita na necessidade de investimento na juventude para o avanço do país. "Acho que a prioridade é a sofisticação do modelo de ensino para ampliar a capacidade da juventude. Não podemos insistir nesse tradicionalismo se quisermos progredir."
"Sou 'cirista' desde as eleições 2018 (...) Agora, ele se mostrou, mais uma vez, o único candidato com um projeto de desenvolvimento nacional realmente sólido que contemple a necessidade do país com começo, meio e fim."
Fuga à polarização
Há também aqueles que fizeram sua escolha baseados na vontade de fugir da polarização. Um exemplo é a estudante Celiany Moura, 23 anos, de São Paulo, que diz apoiar Simone Tebet (MDB). "Jamais votaria em Bolsonaro ou em Lula. Eles são duas faces da mesma moeda: do populismo, da corrupção, do desrespeito. Não confio em candidatos que se intitulam 'salvadores da pátria'. O salvador da Pátria é o povo brasileiro, que luta todos os dias."
Inicialmente, a escolha de Celiany era o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB). Após a desistência do tucano de concorrer ao Planalto, contudo, ela viu na emedebista uma alternativa que se encaixava nas suas preferências. A eleitora aprova, inclusive, o desempenho da senadora nos debates com outros candidatos.
"Quando surgiu a indicação de Simone, comecei a me identificar com a personalidade corajosa que ela tem, inclusive ao explanar os projetos que não são bem vistos pela mídia, a exemplo da exploração das nossas terras. Eu também acredito nisso. Acho que por ela ser mulher facilita na identificação, mas não é determinante. Antes de ser homem ou mulher, para mim, o candidato que eu apoiaria teria que ser corajoso para se lançar no atual cenário. E ela vem mostrando muito bem isso, principalmente nos debates", diz.
Celiany completa que apoia o desenvolvimento sustentável proposto por Tebet sobre a relação entre agro e meio ambiente. E discorda da ideia de que a candidata propõe políticas nocivas à natureza. "Simone tem bom senso quando incentiva o agronegócio no Brasil. Isso porque quando não exploramos e dependemos de outros países, inclusive daqueles de regimes ditatoriais, estamos financiando guerras, o que não é algo democrático. Ao mesmo tempo, ela promete combater o desmatamento ilegal, o que é correto."
Segundo ela, as propostas de Tebet viabilizam o desenvolvimento sustentável. "É possível o meio ambiente e o agro andarem juntos", emenda a jovem paulista.
*Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro