São Paulo – Após perseguir armada o jornalista Luan Araújo, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) foi encaminhada pela Polícia Militar para a 78ª Delegacia de Polícia, localizada na região central da capital paulista. Chegando para prestar esclarecimentos em torno das 20h deste sábado (29/10), a deputada saiu da delegacia cerca seis horas depois, já neste domingo de eleição.
A parlamentar, que possuiu o porte de arma federal, falou com os jornalistas que esperavam na frente da delegacia e, quando questionada pelo Correio se a arma havia sido apreendida, colocou a mão na cintura mostrando o volume e garantindo que iria hoje votar armada e com colete balístico. "Eu não só pretendo como vou. Eu estarei armada e preparada", afirmou a deputada, que também criticou a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de coibir o porte durante o período eleitoral.
A parlamentar alega que teria sido agredida pelo jornalista e por mais indivíduos. Em diferentes declarações, ela afirmou uma hora serem quatro pessoas, outra hora serem seis. A deputada disse ainda que os mesmos a teriam empurrado. O emprego da arma, alega Zambelli, teria sido para a auto-defesa dela e do filho de 13 anos que estava com ela.
A versão da parlamentar não foi confirmada ao Correio por frequentadores do bar onde Luan se refugiou durante a perseguição de Zambelli. Preferindo não se identificar, um dos frequentadores disse que a parlamentar entrou no bar com a arma em punho apontando para todos os presentes até localizar Luan. As imagens gravadas por frequentadores também não mostram o momento em que a parlamentar diz ter sido agredida.
Junto com a parlamentar estavam dois seguranças, um deles armado, que teria realizado um disparo para o alto quando a parlamentar empreendeu a perseguição ao jornalista. O segurança que teria cometido o disparo, segundo informações, seria policial militar e teria ficado detido por disparo de arma de fogo.
A parlamentar deve ser investigada pela polícia paulista por cometimento do crime de racismo, agressão e ameaça, além de possível porte irregular de arma de fogo, o que também será avaliado pela Justiça Eleitoral. Responsável pelo caso, o delegado da 78º delegacia Percival Alcantara não falou com a imprensa.
Quando questionada pelos jornalistas sobre o crime de racismo, Zambelli apenas disse aos jornalistas: "Ele não era negro?". Ela afirmou ainda que o que estava acontecendo era na verdade uma violência contra a mulher.
Segundo Sheila de Carvalho, advogada da Coalisão Negra por Direitos, que estava na delegacia prestando auxílio ao jornalista ameaçado, a deputada deve ser investigada pelos crimes, mas não foi presa já que, como parlamentar, goza de imunidade. Para a advogada, o crime de racismo ficou configurado quando “Zambelli se sentiu ameaçada por ele ser um homem negro, ela disse isso, ela disse isso nas suas redes sociais”. A advogada também anunciou que a situação já teria sido comunicada à Justiça Eleitoral, que deve investigar possíveis crimes eleitorais cometidos pela parlamentar.
Após prestar o depoimento, Luan Araújo fez uma breve declaração na qual comentou que estava indo para uma comemoração de um chá de bebê e acabou vendo uma arma apontada para a sua cabeça em função de uma questão política. “Mas que a questão política, eu sou uma pessoa preta, sou uma pessoa periférica, a única coisa que eu pensava era na minha mãe”, falou o jornalista, que reforçou que está assustado com a repercussão do caso e pediu por proteção. “Eu só quero que me protejam, protejam minha mãe, protejam minha família”, concluiu o jornalista.
Segundo amigos de Luan que estavam na delegacia, o jornalista já excluiu e bloqueou suas redes sociais em função de ameaças de grupos bolsonaristas.
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