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Roberto Jefferson será transferido para o presídio de Bangu 8

Polícia Federal enquadra o ex-deputado Roberto Jefferson por disparos de fuzil e uso de granadas contra agentes que cumpriam mandado de prisão contra ele. Em depoimento, ex-parlamentar afirma que deu 50 tiros

Taísa Medeiros
Rafaela Gonçalves
postado em 25/10/2022 03:55
 (crédito: Reprodução/Redes sociais)
(crédito: Reprodução/Redes sociais)

O ex-deputado Roberto Jefferson afirmou, em depoimento à Polícia Federal, ter dado 50 tiros de fuzil em direção aos agentes que foram cumprir o mandado de prisão contra ele, no domingo, em Levy Gasparian, município do Rio de Janeiro. O presidente de honra do PTB foi indiciado, ontem, por quatro tentativas de homicídio.

Jefferson passou por audiência de custódia no início da noite desta segunda-feira. A Justiça manteve a prisão em flagrante. O procedimento foi conduzido pelo desembargador Airton Vieira, juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a detenção do ex-parlamentar.

Detido no presídio José Frederico Marques, em Benfica, ele será transferido para o presídio Pedrolino Werling de Oliveira, chamado de Bangu 8, mas ainda sem data definida.

Apesar de admitir que usou arsenal pesado contra os policiais, Jefferson disse que não tinha a intenção de matar. Ressaltou que "se quisesse, matava os policiais", pois, conforme sustentou, estava em "posição superior, com um fuzil com mira".

O ex-parlamentar relatou, ainda, ter falado aos policiais "corre que vou jogar em vocês", referindo-se às três granadas que atirou contra os agentes. Segundo ele, uma delas foi jogada na frente da viatura, outra na parte de trás e a terceira dentro de sua residência "para assustar o policial" que estava lá.

Jefferson argumentou ter sido "humilhado" em três ações policiais anteriores, que também cumpriam determinações do STF — dos ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin.

Durante o tumultuado cumprimento do mandado de prisão, dois agentes, Karina Oliveira e Marcelo Vilella, foram feridos com estilhaços das granadas. Outros dois, que estavam em uma viatura, alvo de tiros, não chegaram a ser atingidos.

Irregularidades

A condução da prisão de Jefferson foi alvo de diversas críticas. Uma delas foi contra o ministro da Justiça, Anderson Torres, que teria comandado as negociações para a rendição do ex-deputado. Em um vídeo postado durante a confusão, o integrante do governo afirmou: "Esse episódio motivou a nossa vinda até aqui, à Delegacia de Juiz de Fora da Polícia Federal, para acompanhar os trabalhos e para ver os desdobramentos desses fatos".

Em seu perfil no Twitter, ontem, Torres desmentiu reportagens do grupo Globo, segundo as quais o ministro teria se reunido com o diretor-geral da PF, Márcio Nunes de Oliveira, e com o superintendente da PF no Rio de Janeiro, Ivo Roberto Costa Silva. Os três teriam almoçado juntos. Segundo o titular da pasta da Justiça, "não há a menor verdade nessa 'informação'".

Outro alvo de reprovação, por parte de entidades e associações da categoria, foi a atuação do policial que aparece em um vídeo negociando com Jefferson depois que o ex-deputado atirou nos agentes. Ele chega a dar risadas. Em mensagem para grupos de conversa com colegas, o agente afirmou que "vestiu um personagem". A informação foi divulgada pela CNN Brasil.

O agente destacou a responsabilidade da negociação e que, devido ao número de pessoas na casa e a quantidade de armas, "não havia condições de fazer uma entrada tática". "Virou um gerenciamento de crise. Se sai um inocente ferido ou morto, seria uma tragédia e nome da PF na lama", escreveu. "Eu vesti um personagem para desacelerar a situação da melhor maneira possível. Graças a Deus, tudo terminou bem, sem ninguém ferido ou morto, e o perpetrador preso", concluiu.

O episódio com Jefferson foi aproveitado na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato ao Planalto. O petista tem enfatizado que o ex-deputado é aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Um arsenal dentro de casa

A Polícia Federal apreendeu com o ex-deputado Roberto Jefferson, no domingo, uma coleção de munições de grosso calibre acondicionadas em caixas. O arsenal confiscado incluiu o fuzil 762, com mira telescópica, que ele usou para atacar policiais federais que foram à sua residência, no município de Levy Gasparian, interior do Rio, para prender o petebista. Imagens do armamento mostram ainda uma pistola que estava na posse do político.

Em depoimento à PF, Jefferson afirmou que todas as armas são registradas no Exército. Por sua vez, a caserna informou que a licença do ex-deputado estava suspensa e que ele não poderia ter ou transportar armas fora de Brasília. Por conta do descumprimento, foi aberto um processo administrativo para apurar o caso, e a Polícia Federal instaurou inquérito na esfera criminal.

Ainda no depoimento, Jefferson contou que "sempre" teve granadas — três das quais jogou contra agentes que foram efetuar a prisão dele no domingo. Ele disse ter comprado os dispositivos "no mercado" há cerca de cinco anos.

O ex-deputado destacou que "precisava de autorização, mas não tinha", sustentando que "sempre esteve ameaçado". Além disso, afirmou que tinha "muita" munição dos calibres .45, .38, 5x56m, 9mm, .12 e 357mag.

O presidente de honra do PTB ainda alegou possuir de 20 a 25 armas, que ficariam em Brasília, no cofre de um hotel do qual era mensalista.

Entenda o caso

A ordem de detenção contra o ex-deputado Roberto Jefferson foi assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em razão do descumprimento reiterado de medidas cautelares. O ex-parlamentar estava em prisão domiciliar, desde janeiro, enquadrado no inquérito das milícias digitais. Por volta das 11h do domingo, quando agentes da Polícia Federal foram à casa de Jefferson cumprir o mandado de prisão, o ex-deputado disparou tiros de fuzil e lançou granadas contra o
grupo. Ele só se entregou por volta das 19h, após horas de negociação com a corporação.

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