Juiz de Fora (MG) — Em entrevista exclusiva aos Diários Associados durante a passagem por Juiz de Fora (MG), na tarde de ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou sobre os rumos da campanha e a relação com o estado. O candidato petista criticou a postura do governador reeleito, Romeu Zema (Novo), que só declarou apoio a Jair Bolsonaro (PL) após vencer a disputa no estadual no 1º turno. Lula já havia feito a mesma crítica horas antes, durante comício em Teófilo Otoni. Em relação a Bolsonaro, o ex-presidente manteve o tom agressivo. Chamou-o de "mentiroso contumaz" e disse que o adversário cria "fanáticos". Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista de Lula ao jornalista Benny Cohen, transmitida no Jornal da Alterosa e no canal do YouTube do portal Uai.
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Crítica a Zema
Lula comentou a estratégia petista para tentar conter a aliança entre o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o presidente Jair Bolsonaro (PL). "Se você vir o comportamento do governador, vai perceber que, no primeiro turno inteiro ele não falou no meu nome. Porque ele sabia que 48% dos eleitores que votaram nele, votaram em mim. Ele então resolveu enganar o eleitor. Ou seja, ele não falava da Presidência da República, porque ele não queria perder voto. Aí depois que ele ganha, diz que é bolsonarista. Ou seja, isso é um pouco estelionato eleitoral, sabe?", perguntou.
Prefeitos e Bolsonaro
O petista falou sobre o engajamento de prefeitos à campanha bolsonarista liderada por Zema no estado. "Eu não conheço o governador, não posso falar mal dele. Eu tenho chegado às cidades e perguntado qual a obra que o Zema tem feito. E tem pouca obra, ninguém lembra. Então eu não vou falar mal dele. Ele ganhou as eleições, tem quatro anos para governar, tem que mostrar o que o Bolsonaro fez aqui. Um governador ou um prefeito, para escolher o presidente da República, tem que mostrar o que o cara fez. 'Bom, esse presidente investiu no meu estado tanto', 'investiu naquela cidade tanto'. Eu não tenho noção das coisas que o Bolsonaro fez aqui, porque todo mundo que eu pergunto diz que ele não fez nada", disse o petista.
Formação de fanáticos
Ao falar de Bolsonaro, Lula criticou o uso da máquina pública com fins eleitorais e o foco da agenda presidencial direcionado à campanha de reeleição em detrimento das funções de governo. Ele também reprovou o que considera comportamento antidemocrático do adversário. "Votar e debater são um exercício extraordinário para aquecer a consciência política da sociedade. Não é bom quando você tem um mentiroso contumaz como o presidente Bolsonaro, que mente o tempo inteiro, vai para televisão e mente descaradamente, conta oito mentiras por dia nas suas lives. Isso não politiza, isso engana e cria fanáticos."
Antipolítica
Este ódio que a gente está vivendo aí é a negação da política. Toda vez que uma sociedade começa a dizer que político não presta, que todo político é ladrão, que ninguém presta, o resultado é esse. [...] Foi a antipolítica que o elegeu, foi o ódio à política que o elegeu. Então o que nós queremos é restabelecer a democracia no Brasil, a nossa convivência democrática na diversidade. Aprender a conviver com os contrários é uma coisa extraordinária, e é por isso que vamos derrotar o Bolsonaro, para restabelecer a democracia nesse país", avaliou.
"Homem de conversa"
O ex-presidente ressaltou o arco de alianças que sustenta a candidatura ao Planalto. E prometeu um governo de apaziguamento. "Não é o PT quem vai ganhar as eleições; quem vai ganhar as eleições é um movimento que foi criado para restabelecer a democracia neste país. Feliz o PT, que tem um cabeça de chapa filiado ao partido e criador do PT. Mas eu sou homem de conversa, aprendi a fazer política negociando, fazendo greve. Eu fazia uma greve na Volkswagen, mas eu ia conversar com o dono da Volkswagen. Não virava o inimigo dele, fazia um acordo e estava tudo resolvido. Se eu ganhar as eleições, vocês podem ficar certos de que esse país vai planar, vai ficar como em céu de brigadeiro, não vai ter turbulência", apontou.
Polarização
Lula considera normal haver dualidades nas disputas políticas, mas atribui a Bolsonaro o clima tenso do pleito atual. "O problema não é a divisão. O problema é que você tem um candidato que não é civilizado. Eu disputei duas vezes com Fernando Henrique Cardoso, disputei com o Collor, com o Alckmin e com o Serra. O PT tinha só oito anos quando já foi o segundo colocado na eleição presidencial. Então o PT polarizou em todas as eleições. Quando você está no regime democrático e perde uma eleição, você faz como o (Leonel) Brizola falava: 'Vou para casa lamber minhas feridas'. O problema é que nós não temos um cara democrático. Temos um cara, eu diria, messiânico, um cara que que utiliza o nome de Deus em vão, que mente descaradamente. Ele não tem nenhum respeito com nenhuma entidade da sociedade. Ele não respeita a Suprema Corte, não respeita os sindicatos, não respeita mulher, não respeita negro, não respeita indígena", atacou.
Foco nas abstenções
Lula venceu em Minas Gerais com 48,29% contra 43,6% de Bolsonaro. A fim de assegurar a vantagem no estado onde todos os presidentes eleitos venceram desde 1955, o petista comentou sobre a aposta em reduzir as abstenções e votos nulos no segundo turno. "Todas as pessoas são capazes de mudar de voto. Nesta eleição, está acontecendo um fenômeno que tanto eu quanto meu adversário somos figura carimbada. Ou seja, os eleitores já estão definidos, quase 98% estão decididos e ninguém muda mais de lado. Mas teve muita abstenção neste país e teve muito voto nulo. [...] Então, o que eu estou pedindo para os companheiros fazerem é tentar localizar qual foi a cidade que teve mais abstenção para que a gente vá atrás de convencer o povo a votar", explicou.
Ônibus para votar
O petista citou a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso — confirmada por maioria em plenário —, que autorizou prefeituras e empresas a oferecer ônibus gratuito no dia 30. "Ficamos felizes quando o ministro Barroso tomou a decisão de que as prefeituras podem colocar ônibus para as pessoas. É uma posição que facilita a vida dos prefeitos porque nenhum será punido se colocar ônibus para os trabalhadores irem votar e de graça. A pessoa não tem dinheiro para ir trabalhar, como é que vai ter dinheiro para ir votar? Eu acho que muita gente deixou de votar porque não tinha dinheiro", comentou.
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