A presença marcante do deputado federal André Janones (Avante-MG) na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chama a atenção por conta das estratégias usadas pelo parlamentar. Recentemente, ele mobilizou em seu Twitter milhares de pessoas para integrarem um grupo no Telegram voltado a unir forças nas redes sociais em prol da campanha petista.
Até ontem, o grupo passava dos 103 mil seguidores. Por lá, Janones conversa diretamente com os possíveis eleitores, orienta o compartilhamento de publicações em outras plataformas sociais, divulga lives e reportagens sobre o segundo turno. "Somos um exército e precisamos vencer esta guerra levando verdade e combatendo as mentiras", escreveu, ontem, o deputado.
Em entrevista ao UOL, Janones afirmou que lança mão das mesmas armas que o bolsonarismo, mas que o jogo feito pelos opositores é "baixo". "Quando eu digo usar as mesmas armas, quero dizer de provocação, daquele conteúdo talvez mais malicioso e duvidoso, do deboche e de obedecer às regras do algoritmo, mas não necessariamente mentir. Não estou defendendo que a gente minta e concordo que é baixar o nível, e ninguém queria estar discutindo isso", frisou.
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Janones disse, ainda, que o bolsonarismo não foi parado e fez uso de todas as estratégias disponíveis. "É como eu subir em um ringue com um lutador, e o juiz dizer que não pode dar golpe abaixo da cintura. O lutador do lado de lá começa a me socar abaixo da cintura. O que eu vou fazer? Vou continuar batendo acima da cintura e vou ser nocauteado? Eles não foram parados e utilizam todas as técnicas possíveis para construir a narrativa deles", comparou.
O professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Pedro Castelo Branco não acredita ser passível de comparação a atuação do parlamentar "à maquinaria de mentira bolsonarista". "Janones é agressivo, mas não inventa fatos inexistentes. O grande erro de muitas análises, em virtude da polarização, é equiparar os polos. As notícias produzidas por Janones incomodam muito, são, por vezes, tiradas de contexto, mas não são falsas", enfatizou.
Sob a alegação de que Janones ajuda a "disseminar fake news" contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), partidos da base do governo pedem a cassação do deputado. O primeiro foi o PP, representado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Segundo ele justificou no Conselho de Ética da Câmara, o parlamentar age com "irresponsabilidade" e "inconsequência". Na quarta-feira, o PL de Bolsonaro também aderiu ao movimento. Na ação, o deputado é acusado de "prática incompatível com o exercício do mandato parlamentar".
Para o cientista político do Insper Leandro Consentino, de alguma forma o bolsonarismo sentiu o golpe e tem, agora, nas redes sociais, um contraponto à sua estratégia. "Há um equilíbrio, mas não sei se é positivo, porque, em vez de combater fake news e campanha de desinformação, você contrapõe campanha suja com campanha suja, rebaixando o debate público", avaliou.
O professor de ciência política Valdir Pucci afirmou que Janones tem a expertise da nova leva de políticos. "A velha cúpula do PT, principalmente em volta de Lula, muitas vezes não consegue entender a abrangência do uso das redes sociais na campanha. Ele é uma demonstração dessa nova safra. A grande questão é: só Janones mobilizando será capaz de fazer com que a rede reverta a situação que, em termos de mobilização, sempre foi mais favorável a Bolsonaro?", questionou. "Mas, com certeza, nesta eleição, Janones é um fator que levou o PT a um campo que até então ele não sabia jogar."
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