Eleições

"Eu nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio", diz Lula a católicos

Ao participar de encontro com grupos católicos, o candidato petista repudiou ataques a sacerdotes. Se vencer a eleição, Lula prevê dificuldades com o novo Congresso, mas acredita no apoio da sociedade civil

Henrique Lessa  
postado em 17/10/2022 22:58
 (crédito: Henrique Lessa/D.A Press)
(crédito: Henrique Lessa/D.A Press)

São Paulo Em um dos compromissos de campanha em São Paulo, o candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  Na parte da tarde o presidenciável participou de encontro com padres e religiosos católicos. O encontro aconteceu na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade na capital paulista. O pequeno auditório ficou lotado com os religiosos que, entre cânticos, orações e discursos, prestavam seu apoio ao candidato petista. 

Lula afirmou que pretende trocar o orçamento secreto por um orçamento participativo, modelo já implementado pelo PT na prefeitura de Porto Alegre. Para isso espera o apoio das igrejas na realização de conferências nacionais que devem discutir prioridades do orçamento público. “As igrejas podem suprir uma deficiência do Estado. Eu não vim aqui pedir votos para vocês, eu já sabia que vocês iam votar em mim”, comentou Lula.

O petista acredita que os religiosos podem contribuir para unir e organizar a sociedade. Mas  ponderou que não será fácil construir essa proposta com o novo Congresso eleito, mais conservador, apontou o ex-presidente.

Segundo Lula, o país está dominado pelo ódio. “Eu nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio. Eu tenho ouvido falar sobre padres que estão sendo atacados porque estão falando da fome, porque estão falando da pobreza”, disse. O presidenciável lembrou que é um movimento global, que exemplificou com a recente eleição da extrema-direita na Itália. “A extrema-direita com a cabeça fascista ganhou a eleição na Itália” comentou o candidato.

Candidato a vice na chapa com Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), católico tido como ligado a grupos conservadores da Igreja, criticou a existência de “falsos profetas”.

Ao falar de economia, ele defendeu a suposta habilidade de Lula na crise de 2009. “Lula foi presidente em um período difícil, tivemos a crise bancária em 2008 e 2009. Mesmo assim tivemos frutos, onde mais precisava, e foram bons frutos”, comentou.

Ataques nas redes sociais

O candidato petista recebeu dos religiosos algumas cruzes, uma delas confeccionada com madeira vinda de barracos de pessoas em situação de rua. Entre os presentes vários dos sacerdotes católicos eram participantes dos coletivos "Padres da Caminhada" e "Padres Contra o Fascismo". Somados, esses grupos são constituídos por mais 500 religiosos católicos (padres e bispos), de diversas dioceses brasileiras.

Também participaram do encontro diversas religiosas, irmãs e freiras. Durante as falas, os religiosos homenagearam o padre Zezinho, de 81 anos, muito conhecido no meio católico em razão da sua atuação como músico. Padre Zezinho  anunciou o afastamento das redes sociais após denunciar ataques de bolsonaristas contra ele, o Papa Francisco e a Igreja Católica.

Além de Geraldo Alckmin, o candidato ao governo do estado pelo PT, Fernando Haddad, participou do evento católico. Entre os religiosos, também estava presente o Padre Júlio Lancellotti, conhecido pelas ações assistencialistas e duro crítico do governo Bolsonaro.

Alguns integrantes do PT comentaram a aproximação do partido com grupos religiosos, como resposta às investidas do presidente Bolsonaro nas igrejas católicas. "Nem todo mundo é favor disso, mas é como se a esquerda não falasse com esse mundo", comparou o senador Jean Paul Prates (RN). O parlamentar acreditava que conseguia falar com o mundo religioso por meio de ações públicas. Mas a realidade se impôs. "A religião é um fato novo que a política tradicional está despreparada para lidar", avaliou o petista. 

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