Os candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) participaram no domingo (16/10) do primeiro debate na corrida do segundo turno.
No encontro, transmitido pela TV Bandeirantes e um "pool" de outros veículos, os candidatos se enfrentaram diretamente em três blocos e durou quase duas horas.
Entre os principais temas discutidos pelos presidenciáveis estão pandemia, fake news, economia e benefícios sociais.
Apesar da tensão nas campanhas, o debate teve poucos momentos mais acalorados — o que se refletiu, por exemplo, no número relativamente baixo de pedidos de direito de resposta, ao contrário do que ocorreu no último debate do primeiro turno.
Em alguns momentos, Lula administrou mal o tempo que poderia usar para responder e questionar o adversário dele. No terceiro bloco, por exemplo, Lula esgotou o tempo dele quando Bolsonaro, que tenta a reeleição e está atrás nas pesquisas, ainda tinha mais de cinco minutos para falar.
A última pesquisa feita pelo instituto Datafolha, divulgada na sexta-feira (16/10) mostrou Lula com 49% das intenções de voto contra 44% de Bolsonaro. O segundo turno das eleições presidenciais acontecerão no dia 30 de outubro.
Confira abaixo uma seleção feita pela BBC News Brasil de alguns trechos do que foi discutido no debate.
Pandemia
O primeiro bloco do debate entre os presidenciáveis foi tomado pelas discussões sobre a pandemia. De um lado, Lula responsabilizou Bolsonaro por mais de 400 mil mortes de brasileiros que, segundo ele, poderiam ter sido evitadas e teriam sido causadas diretamente por atraso na compra de vacinas.
"O Brasil tem 5% da população mundial e 11% das mortes. Por que houve tanta demora para comprar vacina?", questionou o petista.
Bolsonaro se defendeu dizendo que não atrasou a vacina, pois "não havia venda em 2020".
"No Brasil, em janeiro de 2021 começaram a vacinar. Todos aqueles que quiseram se vacinar, se vacinaram. E o Brasil foi um dos países que vacinou mais rápido", afirmou o candidato do PL.
Lula, então, retrucou dizendo que esse "é um fato de concreto" de que a negligência de Bolsonaro levou brasileiros à morte na pandemia.
"A verdade é que o senhor debochou, o senhor gozou das pessoas e deixou as pessoas morrerem afogadas por falta de oxigênio em Manaus. Apareceu na TV imitando pessoas sem ar."
Bolsonaro, então, atacou Lula afirmando que "tem um vídeo de Lula dando graças a Deus que à natureza criou a covid".
"O que eu fui contra é protocolo do sr. Mandetta (então ministro da Saúde), que mandava à pessoa irem pra casa até sentir falta de ar. A vacina não é para quem está contaminado - é para quem ainda não foi", disse.
Bolsonaro também acusou o PT e políticos do Nordeste de corrupção na pandemia.
Benefícios sociais
Bolsonaro iniciou o debate dizendo que o Auxílio Brasil será mantido de "forma vitalícia", caso ele seja reeleito e que o PT era contra o benefício.
Lula respondeu dizendo que o PT havia feito proposta de Auxílio maior antes da determinação dos 600 reais. "O presidente só propunha 200 reais", disse o petista.
O petista disse ainda que "se souber planejar vai ter dinheiro para fazer as coisas" e fala em aprovar uma reforma tributária.
O ex-presidente citou feitos do seu governo: "Fizemos a maior política social que esse país já teve, geramos 22 mi de empregos" e cita criação de universidades. E questionou Bolsonaro sobre quantas universidades ele fez em seu governo.
Bolsonaro disse que "não tinha cabimento abrir universidade para ficar fechada (na pandemia)" e disse que deu anistia a dívidas do Fies.
Fake news
Uma declaração de Bolsonaro, dada em entrevista a um podcast, causou polêmica nas redes sociais nesta semana após ele narrar um episódio em que teria visto adolescentes venezuelanas em situação de vulnerabilidade no Distrito Federal. Vídeos mostram o presidente dizendo que "pintou um clima" ao passar pelas meninas que, segundo ele próprio, teriam entre 14 e 15 anos.
Bolsonaro aproveitou a pergunta de um jornalista para tocar no tema e chamar a campanha de Lula de mentirosa.
"O seu programa, influenciado por Gleisi Hoffmann, me acusou de pedofilia, tentando me atingir naquilo que tenho mais de sagrado: a defesa da família brasileira, defesa das crianças", afirmou Bolsonaro.
E usou uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, que mandou excluir vídeo sobre as meninas e também proibiu que o PT o use em sua campanha.
"O sr. Alexandre de Moraes dá uma sentença contrária a essas mentiras. Diz a sentença aqui: 'A postagem realizada pela representada Gleisi Hoffmann (que representa o PT), em 15 de outubro, agora, se descola da realidade por meio de inverdades, fazendo uso de recortes em encadeamentos inexistentes de falas gravemente descontextualizadas do representante Jair Bolsonaro, com o intuito de induzir o eleitorado negativamente. Tal contexto evidencia a divulgação de fato'."
Lula, por outro lado, diz que o adversário dele tem 36 processos por fake news
"A imprensa publica fartamente que pelo menos seis ou sete mentiras por dia são contadas (por Bolsonaro). Brinca-se de contar mentira. Levanta de madrugada, tem vontade, vai e conta uma mentira, faz uma live e conta uma mentira, sabe? Levanta até uma hora da manhã para fazer live", afirmou o petista.
Meio ambiente
Outro tema muito debatido entre Bolsonaro e Lula foi o meio ambiente, principalmente o desmatamento na Amazônia.
Lula afirmou que o Brasil era reconhecido como um país que preservava o meio ambiente.
"O Brasil participou da COP-15, em Copenhagen, e de um encontro em Paris, em que era elogiado porque era o país que menos desmatava e que mais cuidava da questão ambiental. Não existiu nenhum governo que fizesse o que a gente fez na questão ambiental", afirmou.
O candidato petista dise que, caso seja eleito, vai implantar políticas de preservação que vão atrair investimento internacional para o país.
"E agora nós vamos fazer mais, porque nós vamos fazer com que a agricultura de baixo carbono possa fazer com que o Brasil receba, quem sabe, muito dinheiro da União Europeia e de outros países, por conta do sequestro de gás de efeito estufa que nós vamos fazer preservando a Amazônia, coisa que você (Bolsonaro) não sabe. Nós vamos tentar fazer da biodiversidade da Amazônia uma forma de enriquecimento daquele povo", afirmou.
Já Bolsonaro disse que a intenção do candidato petista é dar parte da riqueza da Floresta Amazônica a outros países.
"Lula, tu acabou de dizer, há poucas semanas, que ia dividir a biodiversidade da Amazônia com o mundo. Você já está se curvando ao mundo. Em vez de você falar que a Amazônia é nossa, você quer dividir a nossa biodiversidade", afirmou Bolsonaro.
O candidato à reeleição disse ainda que Lula não executou políticas para proteger a floresta durante os anos em que ele e Dilma Rousseff foram presidentes do país.
"Em 14 anos, você não fez nada. Está prometendo que vai fazer pela Amazônia agora? Você não fez nada! Você passeou por aí, nas suas viagens, mas nada além disso", disse.
Corrupção
Lula disse que houve corrupção no governo Bolsonaro durante a compra de vacinas, algo que foi investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
"O senhor atrasou a vacina, depois tendo um processo inclusive de corrupção definido e denunciado pela CPI. E o fato concreto é que a sua negligência fez com que 680 mil pessoas morressem quando mais da metade poderia ter sido salva. A verdade é que o senhor não cuidou, debochou, riu, dizia que quem tomava vacina virava jacaré, virava homossexual, que não podia tomar vacina. O senhor gozou das pessoas, imitou as pessoas morrendo afogada por falta de oxigênio em Manaus", disse o petista.
Bolsonaro disse que Lula mentiu e disse que "não teve corrupção porque não teve vacina no Brasil". E retrucou dizendo que o PT se envolveu em corrupção durante a pandemia.
"Corrupção fez o seu partido na covid. Quando chegou na CPI a notícia de 50 milhões de reais desviados do sr. Carlos Gabas, ex-ministro de Dilma Rousseff, que passeava de bicicleta com ela, a CPI, dos seus amigos Renan Calheiros e Omar Aziz, não quis investigar. 50 milhões torrados em uma casa de maconha, não chegou nenhum respirador, e daí sim irmãos nordestinos morreram por falta de ar, por corrupção do sr. Carlos Gabas, deixar bem claro, e, em especial, o seu governador da Bahia, Rui Costa", afirmou o candidato à reeleição.
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