A senadora Simone Tebet (MDB) sai do primeiro turno das eleições com maior gabarito político do que entrou. Avaliada por analistas e comentaristas como a candidata à Presidência da República com melhor desempenho e mais propostas apresentadas durante os debates, a emedebista conquista importante espaço de diálogo para futuros cenários eleitorais. A performance nas urnas também marcou o partido: pela primeira vez uma candidata do MDB chega à marca de 4.915.423 votos — o equivalente a 4,2%. Tebet foi a quarta candidata do partido à Presidência. As outras candidaturas foram lançadas em 1989, 1994 e 2018.
Após o primeiro turno, a senadora se uniu à campanha de Lula condicionando seu apoio à adoção de propostas de seu programa de governo, como o pagamento de uma bolsa de R$ 5 mil para alunos que terminarem o ensino médio. Ela agora usa seu capital político para percorrer estados estratégicos e angariar votos à direita para o petista.
Ontem, por exemplo, Tebet participou de uma caminhada no Rio de Janeiro ao lado do deputado federal Alessandro Molon (PSB) e do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), coordenador de campanha de Lula, e pediu votos para o ex-presidente. "Se puder, até o dia 30 estarei em cada praça pública, em cada comício, para podermos acabar de uma vez com esse retrocesso que é hoje o bolsonarismo no Brasil", disse a senadora sobre sua atuação nas ruas. "Eu sou dona somente do meu voto, mas espero que os quase cinco milhões que vieram para mim, a favor da democracia, agora migrem para o único candidato democrata do Brasil", acrescentou.
Nos bastidores, porém, Tebet está atuando para auxiliar Lula a conquistar os votos resistentes ao ex-presidente e à esquerda em geral. Na terça passada, em Belford Roxo, Rio de Janeiro, o palanque petista chamou atenção pela falta de roupas vermelhas em seus representantes, incluindo o candidato. A senadora chamou atenção da campanha para o fato do vermelho, historicamente associado ao Partido dos Trabalhadores, afastar eleitores mais conservadores, e sugeriu a mudança para o branco. Nos atos realizados na semana passada, incluindo no Nordeste — reduto eleitoral de Lula — os líderes da campanha usaram branco.
A senadora defende publicamente que Lula "não pode pregar para convertidos", e insiste que o ex-presidente precisa fazer um aceno também ao setor liberal da economia. Uma das medidas mais citadas pelo petista em seus discursos é revogar o teto de gastos implementado durante o governo de Michel Temer. Tebet, porém, insiste que é preciso apresentar uma âncora fiscal para dar maior tranquilidade ao mercado. Entre membros próximos à campanha de Lula, ela também é cotada para chefiar algum ministério em um eventual governo, mas a parlamentar nega a pretensão.
"Não foi discutido isso com o Lula. Não precisamos de cargo para continuar trabalhando pelo Brasil. Meu amor ao país é maior do que tudo, e o povo brasileiro pode ter certeza que vai continuar a contar comigo", explicou Tebet. "Podemos ter as nossas diferenças, mas é infinitamente menor do que aquilo que nos une, que é o Brasil que nós queremos: que seja de todos, generoso, inclusivo", completou.
Segundo fontes próximas à senadora, ela deve aparecer ao lado de Lula em Minas Gerais e em Manaus, no Amazonas, na próxima sexta-feira. Além disso, Tebet manterá sua agenda independente de viagens para fazer campanha em prol de Lula.
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Vai e volta
Demonstrada como bem-sucedida após o primeiro turno, a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB) teve que enfrentar forte resistência por parte de aliados e dentro do próprio partido para poder tentar uma vaga ao Planalto. Após MDB, PSDB e Cidadania se juntarem para uma candidatura única, iniciou-se um confronto entre as legendas para decidir quem encabeçaria a chapa.
Além de Tebet, o ex-governador de São Paulo João Doria também era cotado, mas era pivô de uma crise interna de seu partido e sofria ataques da ala que defendia a candidatura de Eduardo Leite à Presidência, mesmo Doria tendo vencido as prévias partidárias no final do ano passado. O tucano também não conseguiu decolar nas pesquisas e tinha índices de rejeição que chegaram a ultrapassar os de Jair Bolsonaro, batendo nos 63%, de acordo com o Datafolha.
Em 18 de maio, os presidentes dos três partidos decidiram por Tebet como candidata ao Planalto após pesquisas qualitativa e quantitativas encomendadas pelas siglas. O entendimento foi que a senadora tinha mais espaço para crescer devido ao seu desconhecimento pelo público, baixa rejeição e por atrair as mulheres. Cinco dias depois, Doria anunciou a desistência de sua pré-candidatura e Tebet deu um importante passo na direção de sua futura candidatura.
Uma ala considerável do MDB, liderada pelo senador Renan Calheiros, se mobilizou para tentar derrubar a candidatura de Tebet e formar uma aliança com o ex-presidente Lula, favorito nas pesquisas de intenção de votos. Ao todo, 11 diretórios estaduais do MDB declararam apoio ao petista já no primeiro turno. Combatida pela ala emedebista próxima ao petista, que queria descartar sua candidatura, Tebet eventualmente aderiu ao apoio ao ex-presidente após o primeiro turno.
Pouco tempo antes da convenção nacional do MDB, que consolidaria Tebet como candidata, Calheiros ameaçou uma judicialização. "Sem diálogo, sem avaliações realistas sobre o desempenho da pré-candidatura, sem competitividade nas pesquisas, é insanidade sacrificar o MDB nos estados. A persistir a obsessão, não restará alternativa senão a judicialização da própria convenção", escreveu o senador em sua conta no Twitter. A maior preocupação era que Tebet repetisse o desempenho do economista Henrique Meirelles em 2018, que teve apenas 1,2% dos votos e não se projetou no processo eleitoral.
A ofensiva judicial ocorreu e a ala liderada por Calheiros acionou o Tribunal Superior Eleitoral pedindo o adiamento da convenção, usando como pretexto o modelo de votação híbrido — presencial e on-line — escolhido pelo partido. A iniciativa, porém, não teve efeito e Tebet foi eleita candidata em 27 de julho durante a convenção nacional.
Um dos maiores fiadores da senadora durante esses embates foi o presidente nacional do MDB, deputado federal reeleito Baleia Rossi. O apoio rendeu, inclusive, um discurso de agradecimento durante o lançamento da chapa de Tebet. "(Baleia) Não aceitou pressão, não aceitou conchavos. Não aceitou, como disse Roberto Freire (presidente do Cidadania), negociatas ou negociações não republicanas", declarou a senadora.
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