O ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, é o convidado desta semana do Podcast do Correio. Durante a conversa com os jornalistas Ana Maria Campos e Carlos Alexandre de Souza, o atualmente consultor jurídico e professor do Instituto Brasiliense de Direito Público comentou a forte polarização sobre as eleições de 2022 e fez reflexões sobre o Brasil atual.
Everardo Maciel fez uma leitura sobre o cenário em que o próximo presidente terá que atuar, ressaltando os reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia, alta inflação no pós-pandemia e desaceleração da economia Chinesa. Para ele, não existe a possibilidade de uma governança tranquila no início de 2023. “Para complicar um pouco mais, ainda temos as mudanças climáticas que podem gerar eventos climáticos extremos, tudo isso é uma corrida muito desfavorável”, considerou.
Além dos fatores econômicos, a polarização extrema também deve ser um empecilho para uma crescente brasileira na opinião de Everardo. “Nós estamos vivendo um clima de instabilidade institucional completa. Todos os poderes brigando entre si. Fora isso, tem que acrescentar no plano fiscal, questões como orçamento secreto e mais. São questões que têm uma repercussão fiscal severa. Quer dizer, não tem nada simpático”.
O ex-secretário avalia que o motivo desse cenário extremo seja o “acirramento da paixão política”. “Nada que acontece, que segue numa direção, acontece impunemente, provoca um outro polo. Uma provocação, uma reação. E se essas provocações são continuadas, são recíprocas, você vai cristalizando. Você forma um país dividido. O país perdeu a unidade”.
Para Maciel, o fato de os fundos partidários ocuparem uma fatia significativa do orçamento público é “um absurdo”. O professor avalia que os partidos nacionais perderam completamente a legitimidade e que o modelo de distribuição e fiscalização de recursos só poderia ser permitido por um “desavisado”.
Outra crítica de Everardo é sobre a quantidade de cargos políticos sustentados com recursos públicos. “Quanto desperdício no país. Para que cargo de vice? Tem que compreender que o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos foi criado porque os EUA estavam em muitas guerras e se morresse o presidente, o vice assumiria imediatamente. Não é o caso. Aqui nós temos vice-prefeito. Para que isso?”, questionou.
Durante a conversa, Everardo considerou que o cenário de crise não se isola apenas nos poderes políticos mas também no campo da cultura. “Veja do ponto de vista cultural o que aconteceu com o cinema brasileiro? Com a música brasileira? Uma decadência absoluta. (O Brasil) Perdeu sua identidade", avaliou.
Para o ex-secretário, o cerne do problema sócio-político brasileiro atual é a educação, mas não somente a acadêmica, a emocional também. “A educação só em si não resolve. É a educação civilizatória. Mas sobretudo é educação emocional. Todos são muito emocionais, muito volúveis. De repente aparece qualquer fato, muda tudo”.
Como exemplo dessa tese, Maciel lembrou a comoção com a morte de Getúlio. “Eu me recordo na minha infância, a semana que precedeu a morte de Getúlio Vargas. Na minha cidade no interior de Pernambuco, Getúlio Vargas era execrado. Corrupto. Suicidou-se. No dia seguinte, uma manifestação enorme defendendo Getúlio Vargas”, recordou o ex-secretário com bom humor.
Assista ao Podcast do Correio na íntegra:
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*Estagiário sob a supervisão de Ronayre Nunes
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