Prefeitos mineiros atuam como cabos eleitorais do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na reta final da campanha. Para tentar inverter a derrota sofrida para o petista em Minas Gerais no primeiro turno,
Bolsonaro pretende diminuir a margem de 397 municípios conquistados pelo petista. Em 2 de outubro, Lula triunfou em 630 dos 853 municípios de Minas Gerais, ante 223 vitórias de Bolsonaro.
A diferença é de 563,3 mil votos a mais para a chapa liderada pelo PT. Em busca da reviravolta, Bolsonaro aposta no apoio do governador reeleito Romeu Zema (Novo) e, a reboque disso, na atuação de prefeitos como seus cabos eleitorais.
Um dos mais engajados é Marcos Vinícius Bizarro (PSDB), que administra Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, e preside a Associação Mineira dos Municípios (AMM). Ele, aliás, está à frente da organização de uma reunião entre prefeitos e Bolsonaro na próxima sexta-feira.
Embora Bizarro não trate a atividade como compromisso de campanha, a ideia é aproveitar a oportunidade para apresentar ao presidente demandas regionais.
Do outro lado, prefeitos como a petista Marília Campos, de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, trabalham para manter a vantagem conquistada por Lula no primeiro turno. No domingo, o ex-presidente recebeu apoio formal de Fuad Noman (PSD), prefeito da capital.
Sem palanque formal em Minas Gerais por causa da derrota de Alexandre Kalil (PSD) para Zema, os partidos da coligação de Lula apostam na comunicação das lideranças regionais para barrar a ofensiva liderada pela campanha de Bolsonaro e endossada por Zema.
Segundo cálculos de Marcos Vinícius Bizarro, ao menos 300 prefeitos já manifestaram o interesse em participar da atividade com Bolsonaro, que vai ocorrer em uma faculdade privada da Região Norte de BH. “O convite veio da campanha do PL e foi endossado depois pelo governador”, disse ele ao Estado de Minas, explicando os antecedentes do encontro. As articulações para tirar do papel a atividade começaram já no dia seguinte ao primeiro turno.
Em Poços de Caldas, no Sul de Minas, o prefeito Sérgio Azevedo (PSDB) vai declarar hoje apoio formal a Bolsonaro. Na cidade, o presidente venceu Lula por 51,42% a 38,72% — ante vitória por 48,29% a 43,60% do petista no plano estadual. Mesmo com a frente obtida por Bolsonaro no município gerido por Azevedo, o prefeito espera conquistar mais votos.
“Acho que os prefeitos têm que entrar na campanha. O prefeito é quem está mais próximo do povo, as pessoas ouvem a opinião dele. Muitas pessoas estavam votando (no primeiro turno), mas sem analisar muito o voto”, afirmou.
Para Marília Campos, os prefeitos que apoiam Lula precisam recorrer ao “legado” das gestões do PT para defender a frente conquistada pela chapa de oposição a Bolsonaro na primeira votação.
“Lula foi um presidente que garantiu investimento público em todos os municípios de Minas e do Brasil, que recebia os prefeitos, independentemente da coloração partidária. O prefeito que apresentava projetos levava recursos do orçamento geral da União ou recursos de financiamento. Esse legado tem de ser lembrado pelas pessoas”, afirmou.
Durante a mais recente passagem de Lula por BH, Fuad Noman recorreu a um argumento similar ao utilizado por Marília Campos.
“Belo Horizonte precisa estar junto com o candidato Lula, porque ele com certeza fará com que Belo Horizonte volte a receber as parcelas de recursos para construir casa popular, para poder combater as enchentes, para poder resolver o problema do Anel [Rodoviário], para poder resolver uma série de problemas que nós hoje temos”, declarou, afirmando que o petista foi “solícito” às demandas apresentadas pela capital. No primeiro turno, Lula perdeu para Bolsonaro em BH por 46,60% a 42,53%.
A AMM se organiza para apresentar um plano de reivindicações ao presidente da República. Segundo Marcos Vinícius Bizarro, o objetivo é reunir as necessidades das cidades considerando as diversas regiões de Minas e apontar também as convergências que podem beneficiar todo o estado.
“Minha realidade no Leste de Minas é uma; as do Sul e do Norte, outras. São várias realidades. Existem pautas individuais, de cada região, como é o caso da BR-381, questão importante para Coronel Fabriciano, por exemplo”, avalia.
“Tem também pontos de convergência, como a Lei Kandir, uma coisa que se fala há muitos anos e agora a gente pensa em tratar a parte do minério separada das outras commodities. É algo que atormenta todo o estado”, explicou o prefeito, em menção à compensação prometida pela lei que isenta de ICMS a exportação de produtos não industrializados.
Marcos Vinícius disse que pretende finalizar um documento com as reivindicações até a manhã de sexta-feira. À reportagem, o prefeito afirmou que o evento não faz parte de uma agenda de campanha, mas um encontro para discutir as necessidades das cidades mineiras. “Nós temos 786 prefeitos filiados, somos unidos e as pautas nossas têm diferentes bandeiras partidárias. Estamos abertos ao presidente Bolsonaro assim como estaríamos com Lula”.
Embora ressalte o teor imparcial do evento da AMM, Marcos Vinicius Bizarro já declarou apoio a Bolsonaro e é ativo nas redes sociais com postagens de endosso à campanha pela reeleição. Em vídeo publicado em seu perfil do Facebook, o prefeito aparece ao lado de Zema e do presidente tratando sobre o evento do dia 14, indicando que vai participar.
“A todos de Minas Gerais, muito obrigado pelo apoio e conside- ração. Nesse evento, vamos expor tudo o que fizemos no passado e nossas propostas para o futuro. Tenho certeza de que Minas Gerais vai gostar muito desse evento”, diz Bolsonaro no vídeo.
Zema também tem tratado publicamente do evento planejado pela AMM. “O que tenho agendado é que ele [Bolsonaro] viria no dia 14, quando teremos um encontro promovido pela AMM, com a presença de 500, 600 prefeitos. Dentro do possível, estarei ao lado dele. E, mesmo ele não estando, estarei fazendo divulgação do nome dele sempre que possível”, falou, em entrevista publicada ontem pela Folha de S.Paulo.
Forças regionais
O cientista político Adriano Cerqueira, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e do Ibmec, diz que o apoio de prefeitos, a reboque do posicionamento do governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo), pode dar fôlego à candidatura do presidente Jair Bolsonaro em Minas. Segundo ele, a vitória de congressistas alinhados ao chefe do Executivo federal também ajuda, porque é por meio deles que as lideranças municipais precisam buscar parte dos recursos de que precisam.
“É possível que aqui, em Minas, haja uma reversão de votos, quem votou em Lula no primeiro turno votando em Bolsonaro no segundo turno”, avalia, projetando a possibilidade de um movimento similar ocorrer em nível nacional.
Na visão do especialista, os prefeitos tendem a ser os “grandes eleitores” do segundo turno, porque vão comandar as gestões locais por, pelo menos, mais dois anos — o que pode indicar, em alguns casos, necessidade de diálogo constante com os governos estadual e federal.
“Esses prefeitos, ou vão disputar a reeleição, ou vão querer que os apoiados por eles ganhem. E, para que ganhem, vão precisar de apoio da máquina administrativa estadual, e também, federal, se for o caso. Vão precisar muito, ainda, de verbas do orçamento, discutidas por deputados federais e estaduais. O novo Congresso é que vai atuar em dois anos”, ressalta Cerqueira.
Zema venceu a corrida ao governo do estado em 659 cidades mineiras. A campanha dele contou com a adesão, até mesmo, de prefeitos de partidos que não compuseram a coligação de 10 legendas em torno do político do Novo. Sérgio Azevedo, de Poços de Caldas, é um desses casos: o PSDB, seu partido, se distanciou de Zema ao longo deste ano e lançou Marcus Pestana como candidato próprio.
“Apoiei Zema desde o início, mas não foi tão incisivo quanto poderia ser devido ao partido ter um candidato próprio. Agora estamos com as forças todas voltadas para as eleições presidenciais”, assinala ele, apontando “credibilidade” nos gestos do governador.
A prefeita de Contagem, Marília Campos, porém, caminha na direção oposta. “O governador tem o direito de falar o que ele acredita, mas não acho que ele tenha essa liderança para virar o voto dos cidadãos que estão nos municípios, porque o povo conhece a história”, opina.
Em Contagem, apesar dos esforços da prefeita, Bolsonaro bateu Lula por 47,76% a 42,15%. Marília, porém, já dá a direção do caminho a seguir nas três semanas que separam hoje do segundo turno. “Quem já tem posição cristalizada, é muito difícil virar o voto. Vou estimular as pessoas a irem votar e disputar os votos de Tebet e Ciro”.
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