Eleições 2022

Casos de violência política aumentam 400% em relação a 2018, diz pesquisa

Estudo divulgado nesta segunda (10/10) levantou 523 casos de violência entre setembro de 2020 e outubro de 2022 com participação direta de agentes políticos

Victor Correia
postado em 10/10/2022 18:56 / atualizado em 10/10/2022 20:38
 (crédito: Fernando Lopes/CB/D.A Press)
(crédito: Fernando Lopes/CB/D.A Press)

Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (10/10) mostra um aumento de mais de 400% nos casos de violência política neste ano em comparação a 2018, quando ocorreu a última eleição presidencial. O estudo foi realizado pelas organizações Terra de Direitos e Justiça Global, constatando 523 episódios de violência entre 2 de setembro de 2020 e 2 de outubro de 2022, data do primeiro turno das eleições.

Foram considerados no levantamento, intitulado Violência política e eleitoral no Brasil, apenas casos nos quais os alvos foram candidatos, pré-candidatos, pessoas em cargos políticos ou eletivos, assessores parlamentares e dirigentes partidários. Ao todo foram 482 vítimas, sendo que algumas delas sofreram violência mais de uma vez. É a segunda edição do estudo, sendo que a primeira abrange de 1º de janeiro de 2016 a 1º de setembro de 2020.

Entre os casos registrados estão 54 assassinatos, 109 atentados, 151 ameaças, 94 agressões, 104 ofensas, seis de criminalização e cinco de invasão. No período eleitoral, entre 1º de agosto e 2 de outubro, data do primeiro turno, foram 121 casos de violência, uma média de dois por dia. Considerando o ano de 2022 até agora, a média é de um caso a cada 26 horas. 

Em 2018, foram registrados 48 episódios de violência política. O valor saltou para 136 em 2019, 151 em 2020, caiu para 125 em 2021 e atingiu 247 em 2022.

Pesquisa aponta aumento nos casos de violência política entre 2018 e 2022
Pesquisa aponta aumento nos casos de violência política entre 2018 e 2022 (foto: Divulgação/Terra de Direitos e Justiça Global)

Ranking dos estados

O estudo mostra ainda que ocorreu um assassinato ou atentado à vida por motivação política a cada cinco dias. O estado de São Paulo lidera em número de casos, com 24. Em seguida estão Rio de Janeiro, com 22, e Bahia, com 20. Pará (14), Pernambuco (8) e Paraíba (7) também figuram no topo da lista.

"Esse aumento vertiginoso nos casos de violência política, principalmente no período eleitoral, demonstra o quanto esse fenômeno é estrutural e vem sendo utilizado sistematicamente para excluir determinados corpos dos espaços de poder e decisão", disse ao Correio a coordenadora de incidência política na Terra de Direitos, Gisele Barbieri. "Também tem sido utilizado para causar medo em grupos sub-representados dentro do sistema político, na intenção de que essas pessoas não cheguem a esses espaços. As mulheres, mesmo que em menor representação nesses espaços, são vítimas recorrentes desse tipo de violência, principalmente as mulheres negras e transexuais", completou.

"O aumento da violência política e eleitoral demonstra as rachaduras na democracia brasileira. É resultado também da permissividade e apoio, inclusive pelo poder público, de um discurso de ódio contra os adversários políticos. Além disso, faltam no Brasil ações eficazes que impeçam a violência política", relatou a coordenadora da Justiça Global, Glaucia Marinho.

A coordenadora destaca que os números da violência podem ser maiores do que os verificados na pesquisa, e que é preciso se atentar para os efeitos da violência política e eleitoral na população em geral. "O que nos chamou atenção foi clima de medo que se instalou no período eleitoral. Vale destacar que o discurso do presidente [Jair] Bolsonaro, de desconfiança no processo eleitoral e no resultado das eleições, também alimenta o clima de violência e medo que ronda as ruas do Brasil", disse Marinho.

Partidos progressistas e de esquerda são o principal alvo

O estudo também avaliou quais partidos sofrem mais casos de violência política. PT e PSol figuram primeiro, sofrendo 14,42% e 13,42% dos casos, respectivamente. Juntas, as siglas somam mais de um quarto dos episódios de violência registrados. PSD e PSDB ocupam o terceiro lugar, ambos com 5,47% dos casos. O PL está em quarto, com 4,73%. Na primeira edição da pesquisa, os casos estavam distribuídos pelo espectro político.

Pesquisa mostra partidos mais afetados em casos de violência política
Pesquisa mostra partidos mais afetados em casos de violência política (foto: Divulgação/Terra de Direitos e Justiça Global)

Perfil das vítimas

Entre as vítimas, 59% são homens e 36%, mulheres. Mulheres trans e travestis foram alvo em 5% dos casos. O estudo destaca, porém, que os homens são maioria nos espaços políticos e cita, por exemplo, que apenas 15,8% dos eleitos em 2020 são mulheres. 

Também minoria entre eleitos, os negros são vítimas em 48% dos episódios de violência política onde foi possível identificar cor e raça.

Como será no dia do segundo turno das eleições


Dia e horário de votação: o segundo turno será no domingo (30/10), das 8h às 17h, no horário de Brasília. A divulgação da apuração dos votos deve começar logo após o fechamento das urnas.


Onde votar: o eleitor pode conferir o local de votação no site do TSE. Ou por meio do aplicativo e-Título, acessando "onde votar".


Quem deve votar: todos os brasileiros alfabetizados, entre 18 e 70 anos, são obrigados a votar no dia da votação. O voto é facultativo apenas para quem tem entre 16 e 18 anos, pessoas com mais de 70 anos e analfabetos.

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  • Pesquisa aponta aumento nos casos de violência política entre 2018 e 2022
    Pesquisa aponta aumento nos casos de violência política entre 2018 e 2022 Foto: Divulgação/Terra de Direitos e Justiça Global
  • Pesquisa mostra partidos mais afetados em casos de violência política
    Pesquisa mostra partidos mais afetados em casos de violência política Foto: Divulgação/Terra de Direitos e Justiça Global
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