Na eleição mais polarizada da história, em que praticamente não houve espaço para a chamada terceira via, políticos e partidos que não se alinham a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou a Jair Bolsonaro (PL) nem pretendem apoiá-los no segundo formam, agora, o "bloco da neutralidade". Divergências ideológicas, disputas locais e até um bárbaro assassinato são os motivos apontados por quem não pretende se aliar a nenhuma das duas candidaturas à Presidência da República. Nessa conta estão, por enquanto, seis partidos. Cinco ainda não anunciaram qual o caminho que seguirão.
Entre os políticos com algum protagonismo no primeiro turno, quatro candidatos que disputam governos estaduais em segundo turno, uma candidata à Presidência e uma a vice-presidente também anunciaram distanciamento da polarização, assim como lideranças partidárias importantes, como o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB).
Depois de apoiar Jair Bolsonaro em 2018, a senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) virou oposição ao governo e declarou que votará em branco no segundo turno. "A maioria dos brasileiros é contra a polarização e, em respeito, irei me abster. Não apoio nenhum dos candidatos que estão no 2° turno. Silêncio também é liberdade de expressão", escreveu Soraya no Twitter.
Na mesma linha do voto em branco seguirá Mara Gabrilli (PSDB-SP), vice na chapa de Simone Tebet (MDB). "No 2° turno, opto pelo voto em branco. Não dou meu voto para nenhum dos dois. Fico ao lado dos brasileiros e apoiarei o governo que defender meus ideais de país. Serei oposição sensata", postou a senadora por São Paulo em suas redes sociais.
O ex-governador João Doria, que teve sua pretensão de chegar à Presidência abatida em pleno voo pelos seus pares do PSDB, tem outra postura em relação à neutralidade: decidiu anular o voto em 30 de outubro. "Nem Lula nem Bolsonaro. Meu voto será o da neutralidade, será nulo", disse ele, em entrevista ao Portal Uol.
Já o ex-presidente Temer, sondado por aliados de Bolsonaro para apoiar a campanha da reeleição, não revelou como votará, apenas disse que ficará neutro. "Aplaudirei a candidatura que defender a democracia, cumprir rigorosamente a Constituição, promover a pacificação, manter as reformas já realizadas no meu governo e propor ao Congresso Nacional as reformas que já estão na agenda do país", declarou, em nota, sem citar os nomes de Lula ou Bolsonaro.
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Geopolítica estadual
Dos onze partidos que não se alinharam a nenhuma das duas candidaturas à Presidência, seis liberaram seus filiados: União Brasil, MDB, PSD, PSDB, Novo e DC. Cinco ainda não se pronunciaram — Podemos, Patriota, PRTB, PCO e Unidade Popular —, mas anunciarão suas decisões na semana que vem.
O Novo decidiu liberar os filiados e recomendou que votem "com sua consciência e com os valores e princípios partidários", em uma nota oficial com viés declaradamente antipetista. "O partido se vê na obrigação de reforçar seu posicionamento institucional histórico, totalmente contrário ao PT, ao lulismo e a tudo o que eles representam", declarou a agremiação.
A decisão dá suporte para o governador reeleito pelo partido em Minas Gerais, Romeu Zema, apoiar o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno sem comprar briga com correligionários que votaram em Lula, principalmente, no interior do estado.
Nos partidos maiores, a neutralidade se impôs por causa dos cenários estaduais, que envolvem a disputa de segundo turno. É o caso de MDB, União Brasil, PSD e PSDB. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o PSD compõe chapa com o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa com o petista Fernando Haddad. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, defende a presença da agremiação na base de apoio de um futuro governo Lula, mas, por causa de São Paulo, vai manter-se à distância da polarização.
No Rio Grande do Sul, o PSDB precisa dos votos petistas se quiser vencer o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que venceu o primeiro turno. Apesar de ter declarado voto no presidente em 2018, Leite, agora, tenta se manter afastado da disputa presidencial. "Não vou abrir meu voto para presidente para não contaminar o debate e não deixar que se discuta apenas o Brasil e não o Rio Grande", disse, ontem, em entrevista.
No Nordeste, o medo de espantar o eleitor de Lula — amplamente vitorioso na Região — impede uma aliança formal com Bolsonaro. É o cenário da Bahia, com ACM Neto (União Brasil); da Paraíba, com Pedro Cunha Lima (PSDB); e de Alagoas, com Rodrigo Cunha (União Brasil). Os três disputam contra adversários identificados com o ex-presidente e precisam do voto lulopetista se quiserem ganhar as eleições.
Pedro Cunha Lima, que disputa o segundo turno contra João Azevedo (PSB), recebeu o apoio de Veneziano Vital do Rego, do MDB pró-Lula, que ficou em quarto lugar no primeiro turno, e não quer ver seu nome ligado ao bolsonarismo. Situação semelhante à de ACM Neto, que precisa tirar a vantagem de quase 700 mil votos imposta pelo adversário, o petista Jerônimo Rodrigues, que não venceu a disputa em primeiro turno por apenas 0,5% dos votos válidos.
Crime de mando
A situação de Rodrigo Cunha (União Brasil), que disputa o segundo turno em Alagoas contra Paulo Dantas (MDB pró-Lula), é um pouco diferente por causa de uma tragédia familiar. Apesar de pressionado pelo diretório estadual do União Brasil para que empreste apoio à reeleição do presidente, Cunha resiste porque Bolsonaro foi o único parlamentar a votar contra a cassação do mandato do deputado federal Talvanes Albuquerque, mandante do assassinato de sua mãe, a deputada federal Ceci Cunha, um crime que abalou a política alagoana em novembro de 2018. Mesmo assim, nos últimos meses, participou de eventos políticos ao lado do presidente da Câmara dos Deputados e um dos principais líderes do bolsonarismo no Congresso, Arthur Lira (PP), que renovou seu mandato com a maior votação do estado.
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