Candidato do PT ao Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agregou mais apoios, ontem, na corrida do segundo turno. A senadora Simone Tebet (MDB-MS), terceira colocada na rodada inicial das eleições, com 4,2%, fechou com o petista. Após dois dias de articulação, a parlamentar reuniu-se com o candidato, em um almoço, e, horas depois, fez um pronunciamento transmitido em suas redes sociais. Também se posicionaram ao lado de Lula o governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
“Não anularei meu voto, não votarei em branco. Não cabe a omissão da neutralidade”, declarou Tebet. “Ainda que mantenha as críticas que fiz ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em especial nos últimos dias de campanha, quando cometeu o erro de chamar para si o voto útil, o que é legítimo, mas sem apresentar suas propostas para os reais problemas do Brasil, depositarei nele o meu voto. Porque reconheço seu compromisso com a democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente”, acrescentou.
A senadora criticou o governo de Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, cujo nome não citou. “De que vale irmos às nossas igrejas, proclamar a nossa fé, se não somos capazes de pregar o evangelho e respeitar o nosso próximo nos nossos lares, no nosso trabalho, nas ruas de nossa pátria?”, questionou a emedebista, citando o atraso na compra de vacinas, o armamento da população, o aumento na fome e o orçamento secreto.
Tebet citou propostas, previstas em seu programa de governo, que quer ver implementadas em uma eventual gestão Lula. Uma delas é o pagamento de uma poupança de R$ 5 mil reais aos estudantes que finalizarem o ensino médio, como uma forma de incentivá-los a se formarem. Outras são zerar a fila de cirurgias do Sistema Único de Saúde e resolver o endividamento das famílias, com foco nas que têm renda de até três salários mínimos. Ela pediu, ainda, por uma equipe plural nos ministérios, com homens, mulheres e negros.
“Até o dia 30 de outubro, estarei nas ruas, vigilante. Meu grito será pela defesa da democracia e por justiça social. Minhas preces, por uma campanha de paz”, finalizou.
A terceira colocada nas eleições almoçou com Lula em São Paulo, na casa da ex-prefeita Marta Suplicy. Também estavam presentes o candidato ao governo paulista, Fernando Haddad; a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann; e a esposa de Lula, Rosângela da Silva, a Janja. No dia anterior, a senadora havia conversado com Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice do petista. Ela entregou ao ex-tucano uma cópia do seu programa de governo e expressou preocupação com a falta de clareza nas propostas endossadas por Lula. Aproveitou para cobrar um debate mais qualificado até o fim do mês.
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Neutralidade
Enquanto Tebet enfatizou que “não cabe a omissão da neutralidade”, o partido dela resolveu, justamente, ficar neutro. Liberou os integrantes para escolherem o lado que quiserem. O informe assinado pelo presidente da sigla, Baleia Rossi, destacou que, “por ampla maioria, o MDB decidiu dar liberdade para que cada um se manifeste conforme sua consciência”. A decisão visa agradar tanto a ala do partido ligada a Lula quanto a que apoia Bolsonaro. Apesar da candidatura de Tebet, 11 diretórios estaduais da legenda declararam apoio ao ex-presidente já no primeiro turno, em um movimento liderado pelo senador Renan Calheiros (AL).
Outro apoio de peso agregado à campanha de Lula foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Neste segundo turno, voto por uma história de luta pela democracia e inclusão social. Voto em Luiz Inácio Lula da Silva”, declarou, em suas redes sociais. O tucano postou, ainda, duas fotos conversando com o petista. Uma antiga, em preto e branco, e outra mais recente. Assim como o MDB, o PSDB liberou seus membros. Somam-se a FHC outros tucanos históricos, os senadores Tasso Jereissati (CE) e José Serra (SP).
Por sua vez, o governador Helder Barbalho postou, nas redes sociais, uma foto com o ex-presidente e escreveu: “Nossa opção é pela democracia, pelo desenvolvimento econômico, retomada de aumento do emprego e da renda, defesa das instituições. Otimista pelo Brasil. Vamos em frente”.
Elogios a Ciro
Também ontem, Lula selou o acordo com o PDT, anunciado na terça-feira. Ele se reuniu com o presidente do partido, Carlos Lupi. Em uma breve conversa, aberta à imprensa, o petista agradeceu o aval e fez acenos a Ciro Gomes — presidenciável que ficou em quarto lugar nas eleições, com 3% dos votos. “A história de Ciro não são apenas 3,5% dos votos, é maior do que isso. Existem três políticos que aprendi a gostar mesmo que falassem mal de mim e do PT: Mário Covas, (Roberto) Requião e Ciro Gomes”, enfatizou o ex-presidente. “Conheço bem o Ciro Gomes. Ele foi meu ministro, almoçamos juntos, jogamos bola juntos. O Ciro é uma pessoa, às vezes, pessoalmente, muito diferente do que ele é no palco de luta.”
Lupi, por sua vez, elogiou o petista e defendeu a necessidade de alianças para derrotar Bolsonaro, a quem responsabilizou por parte das 700 mil mortes durante a pandemia da covid-19. “Bolsonaro representa tudo o que a gente lutou durante a vida toda contra. Eu falei ontem e repito: nós somos o partido dos caçados, dos exilados, dos torturados. Jamais estaremos ao lado dos torturadores”, afirmou Lupi. “Na minha Bíblia está ‘amai-vos uns aos outros’. O que está aí sendo vendido como cristão, na verdade, é o diabo em forma de gente. Estar ao seu lado (Lula) não é um favor, é uma obrigação”, completou ele, que foi convidado pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, para compor a coordenação da campanha do segundo turno.
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