O dia seguinte ao primeiro turno das eleições de 2022 foi de comemoração para os vereadores eleitos para os cargos de deputados estadual e federal.
A sessão de ontem da Câmara Municipal de Belo Horizonte teve início com a presidente da Casa, Nely Aquino (Podemos) parabenizando os candidatos eleitos.
Nikolas Ferreira (PL), Duda Salabert (PDT) e a própria Nely vão passar a representar Minas na Câmara dos Deputados. Já Bim da Ambulância (Avante), Macaé Evaristo (PT) e Bella Gonçalves (Psol) foram eleitos deputados estaduais.
Apenas Bella Gonçalves não esteve presente no Plenário Amynthas de Barros. Nikolas Ferreira chegou um pouco atrasado, mas foi bastante aplaudido por pessoas que assistiam à sessão. O vereador foi o deputado federal mais votado do país, com 1.492.047 votos. Ele foi muito assediado por servidores, recebeu cumprimentos e tirou fotos com várias pessoas da Câmara. Uma auxiliar de limpeza chegou a se emocionar ao pedir um registro ao vereador.
Nikolas disse que se surpreendeu com a votação recorde. “Inclusive, no bolão da minha família eu coloquei 585 mil votos. Foi surpreendente. Acredito que é a primeira vez na história que um deputado federal de Minas Gerais ganha no Brasil.”
O vereador acreditava que os candidatos de São Paulo seriam os mais votados. “Surpreendeu não somente a mim, mas a todos. Graças a Deus.” Segundo ele, a responsabilidade aumenta. Nikolas aproveitou a oportunidade para reclamar da mídia. “Peço que meus eleitores fiquem atentos. Eles batem na manchete e pedem desculpas nas entrelinhas.”
Disse ainda que o objetivo agora é batalhar para que o presidente Jair Bolsonaro (PL) seja eleito no segundo turno. “Ele conta 100% com a minha força e dedicação. Para quem estiver desanimado: já vencemos a mentira no primeiro turno.” Disse ainda que muitas pesquisas apontavam a eleição do ex-presidente Lula em primeiro turno. Na maioria delas, entretanto, o cenário tendia para segundo turno.
PROPOSTAS E CONFRONTO
Sobre suas propostas para a Câmara dos Deputados, Nikolas diz que pretende ampliar o trabalho feito como vereador. “Pautas da luta contra o aborto, ideologia de gênero, legalização das drogas. Contem comigo para a defesa da segurança pública: marginal e vagabundo devem ser tratados como tal.”
Ao chegar ao plenário, Duda se aproximou de Nikolas para parabenizá-lo pela vitória, mas não foi bem recebida. Quando teve a oportunidade de se manifestar no microfone, o vereador usou o tempo para agradecer aos eleitores pela votação, mas também para provocar Salabert.
Ele afirmou que a vereadora é a pessoa “mais cínica” que conhece e chamou-a de “víbora”. Lembrou ainda que Duda fez uma queixa-crime para impedi-lo de ter acesso ao porte de armas e acusou a vereadora de usar um episódio envolvendo seu tio para fazer politicagem.
No sábado, o tio de Nikolas se envolveu em uma briga durante uma carreata no entorno do Mineirão. O tio do vereador, que é policial militar, chegou a sacar uma arma. Em seguida, Nikolas leu uma postagem de Duda sobre o assunto feita nas redes sociais e disse que ela defende o desarmamento da população, mas anda com escolta armada.
Em seu tempo para se manifestar, a vereadora preferiu não responder aos ataques. “Que a política se construa no campo das ideias e não se materialize em violência física”, se limitou a dizer. Ela ainda parabenizou todos os candidatos eleitos.
Na saída do plenário, Nikolas comentou o episódio. “Preciso comprar um óleo de peroba aqui para a Câmara e entregar para ele”, afirmou, usando o pronome masculino para sereferir a Duda. “É um cinismo absurdo. Uma pessoa que passa pano para agressor que quebrou o nariz de um policial militar, com relação a essa agressão. E depois sou eu quem incita o ódio. As máscaras caem.”
O vereador disse ainda que Salabert sempre “cantou vitória” sobre ser a vereadora mais votada de BH. “Agora deixo esse título com ela. Pode ficar à vontade, eu fico com o do Brasil.” Questionado se os embates que tiveram na Câmara Municipal de BH, nos últimos anos, vão continuar em Brasília, Nikolas afirmou que Duda é irrelevante. “Acredito que temos pessoas melhores para combater no Congresso.”
Já Salabert afirmou que os dois têm visões opostas a respeito do assunto. “Ele defende que a militarização e o armamento da população são ferramentas importantes para a segurança pública. Eu já tenho uma visão diferente e sigo os números que mostram que armar a população aumenta a violência.”
A vereadora não quis falar sobre a má recepção de Nikolas ao seu cumprimento pela eleição para a Câmara dos Deputados. Disse apenas que desde que começaram a conviver na Câmara Municipal optaram por um embate de ideias que não entrasse no campo pessoal. Ela entende que, em Brasília, a tendência será a mesma. “A política tem que ter esse viés de debate político e ideológico. Temos propostas e visões de mundos diferentes.”
VOTAÇÃO HISTÓRICA
Duda Salabert (PDT) será a primeira mulher trans de Minas a ocupar uma cadeira na Câmara Federal. Ela se disse feliz pela votação. “É uma vitória dos direitos humanos e da construção de uma nova política no país, que leve em conta grupos que foram historicamente apagados e excluídos, como das pessoas travestis e transexuais.”
Salabert afirmou ainda que a geração atual é a única capaz de frear a crise climática. “Entendo que a minha participação agora é na criação de políticas públicas pautadas na justiça climática.” Ela ressaltou ainda ter ficado honrada de ser a deputada federal mais votada da história de Minas Gerais.
Sobre os desafios que vai enfrentar na Câmara dos Deputados, ela lembra que quando foi eleita vereadora de BH também ouvia que iria enfrentar a Câmara Municipal mais conservadora da história da capital. “Nós conseguimos aprovar projetos importantes para a cidade. O Congresso nunca deixou de ser conservador, temos que articular para replicar em esfera nacional o que fizemos aqui no campo municipal.”
Salabert destacou que seu mandato na Câmara dos Deputados tem como foco central a questão ambiental. “Sabemos que não há justiça social sem justiça ambiental. Vamos tentar construir um projeto para tirar Minas Gerais e o país dessa crise econômica, construindo um fundo nacional de diversificação econômica para superar essa mineriodependência dos municípios. Queremos efetivar uma política de desmatamento zero nos biomas nacionais e construir uma política de empregabilidade para grupos historicamente aviltados, como mulheres vítimas de violência, pessoas travestis, transexuais.”
DEPUTADOS ESTADUAIS
Os vereadores Macaé Evaristo (PT) e Bim da Ambulância (Avante), eleitos para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), também estiveram presentes à sessão. Macaé disse que tem boas expectativas para o mandato de deputada estadual e ressaltou que seu partido aumentou a bancada na ALMG. “A ampliação do número de mulheres na Assembleia e de mulheres negras. É bom que o Parlamento tenha a cara da sociedade e essa representatividade. O Parlamento é um espaço primordial para aprimorarmos a democracia.” Dos 77 parlamentares eleitos para Assembleia Legislativa, 15 são mulheres, cinco a mais que na atual legislatura. A presença de mulheres negras subiu de três para quatro deputadas, com a estreia de Macaé e a reeleição de Leninha (PT), Andréia de Jesus (PT) e Ana Paula Siqueira (Rede).
Macaé diz que Minas Gerais precisa pensar um modelo de desenvolvimento sustentável que supere o padrão da mineração. “Minhas pautas prioritárias são educação, cultura, defesa do serviço público. Quero educação integral para as crianças e adolescentes do estado, creche em tempo integral. Ainda não cumprimos as metas do Plano Nacional de Educação, que deveriam ser efetivadas até 2022. Temos muito trabalho pela frente.”
Já Bim da Ambulância disse que a eleição aumenta sua responsabilidade com seus eleitores. “Quero estar na Assembleia para dar resultado para o povo mineiro. Eu me sinto preparado para estar na Assembleia e conduzir qualquer tema com tranquilidade.”
O vereador destaca que suas propostas serão voltadas prioritariamente para a área da saúde. “Mas também quero trazer pautas que foram polêmicas aqui na Câmara, como o movimento periférico do ‘grau’, debates sobre caminhões arqueados e carros modificados.”
Cobertura do Correio Braziliense
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