A tese repetida no mundo político de que "quem ganha em Minas Gerais, ganha no Brasil" voltou a ser testada no primeiro turno das eleições presidenciais. E os resultados das urnas trouxeram mais um dado para fortalecer essa ideia: os percentuais obtidos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado foram muito semelhantes aos observados no cenário nacional.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lula venceu o primeiro turno com 48,43% dos votos enquanto Bolsonaro teve 43,2%. Em Minas Gerais, o percentual foi muito semelhante: 48,29% para Lula e 43,6% para Bolsonaro. O Estado foi fundamental para a vitória de Lula, uma vez que Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do país, com 16,2 milhões de eleitores, atrás apenas de São Paulo, com 34,6 milhões. Minas Gerais também foi o único Estado da região Sudeste onde Lula venceu. Em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, o vencedor foi Jair Bolsonaro.
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A BBC News Brasil conversou com especialistas para entender como é que as eleições mineiras refletiram o resultado nacional. Em agosto, a BBC News Brasil já havia conversado com cientistas políticos sobre o assunto. Eles sustentaram que Minas Gerais é reúne características presentes em praticamente todas as regiões do país e, por isso, quem for bem-sucedido no Estado tem chances de emplacar seu discurso em outras regiões do país. Agora, eles afirmam que os resultados das urnas voltaram a confirmar a tese.
'Espelho do Brasil'
O professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) Marco Antônio Teixeira afirma que o espelhamento dos resultados nacionais em Minas Gerais não é coincidência.
"Não foi por acaso que isso aconteceu. Minas tem várias características que se repetem pelo Brasil. Na região Norte do Estado, temos um perfil mais próximo do Nordeste brasileiro. No Oeste, Sul e Sudeste do Estado, temos um perfil mais parecido com São Paulo e o Centro-Oeste, que historicamente votam contra o PT. Os resultados das eleições confirmam isso", disse o professor.
A análise do mapa de votação por município de Minas Gerais mostra que Lula venceu em 630 municípios, enquanto Bolsonaro ficou com 223. O mapa também mostra que a grande maioria dos municípios que deram a vitória para o petista ficam na região central, norte e nordeste de Minas Gerais.
Segundo Teixeira, essas regiões têm um perfil social e demográfico mais parecido com o Nordeste, uma região que votou em peso em Lula neste primeiro turno.
"Ali, o perfil é muito parecido ao que vamos encontrar no Nordeste. Há questões relacionadas à água e agricultura familiar. São pontos em que o PT tem uma imagem muito boa na região", afirma o professor.
O mapa de votação também mostra a maior parte dos municípios mineiros em que Bolsonaro foi vitorioso fica na região Noroeste e Sudoeste.
"Essa região tem uma ligação muito mais forte com a cultura do café e a agropecuária como um todo. É muito parecido com o que acontece no Centro-Oeste e em grande parte de São Paulo. Nas regiões com esse perfil, Bolsonaro tende a se sair melhor", afirmou Teixeira.
'Amostra da nação'
O professor Claudio Couto, também da FGV-SP, concorda com Teixeira e diz que Minas Gerais funciona como uma espécie de "amostra da nação".
"A distribuição do eleitorado é muito semelhante com a que a gente encontra no restante do país e por isso os resultados lá são, em geral, muito parecidos com os nacionais", afirmou o professor.
Couto avalia, que é preciso inverter a tese sobre as eleições em Minas Gerais e no Brasil. "Não é que 'quem ganha em Minas Gerais, ganha no Brasil'. É quem ganha o Brasil, ganha em Minas Gerais, porque o Estado espelha o país", disse.
Segundo turno em aberto
A condição de Minas Gerais como ponto estratégico nas eleições deverá se manter no segundo turno, avalia Marco Antonio Teixeira. Segundo ele, avançar posições no Estado será fundamental tanto para Lula quanto para Bolsonaro.
"Não há garantia alguma de que os candidatos não possam perder votos nesse segundo turno. Por isso, Bolsonaro vai tentar o apoio do governador [reeleito em primeiro turno] Romeu Zema (Novo), para tentar reverter essa desvantagem. Lula, por outro lado, vai ter que buscar apoios de forma mais difusa porque não há mais palanque regional", disse o professor.
"Lula ainda tem alguma gordura eleitoral pra queimar, mas se desidratar demais, pode dar espaço para uma virada de Bolsonaro", alertou o professor.
Claudio Couto avalia que as estratégias de Lula e Bolsonaro em Minas Gerais não devem ser diferentes das que eles usarão no resto do país, até mesmo pelo fato de o Estado ser um "espelho" do Brasil na sua avaliação.
"Não acho que haverá algo específico para Minas Gerais. Se eles querem o voto do mineiro, vão ter que ir pra lá, conversar com o eleitor e com as lideranças locais. No caso do Lula, mais específico, para ampliar a diferença, vai ter que dialogar com o segmento religioso, especialmente o evangélico. Mas isso é algo que ele terá que fazer no Brasil como um todo", disse o professor.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63126618
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