ELEIÇÕES 2022

Adiado em 2018, embate entre Lula e Bolsonaro será decidido em 30 de outubro

Adiado em 2018, o embate entre Lula e Bolsonaro será definido em 30 de outubro, no segundo turno das eleições. Petista venceu a rodada inicial de votação, mas por diferença bem menor do que indicavam as pesquisas

Vinicius Doria
postado em 03/10/2022 03:55
 (crédito:  Reprodução/TV Globo)
(crédito: Reprodução/TV Globo)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) vão decidir, em segundo turno, em 30 de outubro, quem governará o país a partir de 1º de janeiro de 2023. Contrariando as pesquisas de intenção de voto, que não captaram o crescimento do bolsonarismo, principalmente em São Paulo, o chefe do Executivo vai defender seu mandato com uma diferença bem menor para o petista do que apontavam os institutos de pesquisa.

Lula recebeu, no primeiro turno, 48,4% dos votos válidos, contra 43,2% de Bolsonaro. Uma diferença de menos de cinco pontos percentuais, bem inferior ao que indicavam as últimas sondagens do eleitorado. O percentual de votos do petista ficou aderente às pesquisas, mas o do presidente supera em quase 10 pontos percentuais os prognósticos pré-eleição.

O domingo de votação transcorreu em clima de tranquilidade, com poucas ocorrências em todo o país. Para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, "os eleitores demonstraram extrema maturidade democrática". Ele também reafirmou a segurança das urnas eletrônicas.

Lula acompanhou a totalização dos votos em um hotel no centro de São Paulo. Antes do fim da apuração, mas com números que definiram o resultado, conversou com a imprensa e, depois, foi à Avenida Paulista, onde um grande grupo de apoiadores o aguardava.

O ex-presidente lamentou não ter decidido o jogo no primeiro turno, mas mandou recados otimistas para manter a mobilização da militância no segundo turno. "Em toda eleição, tenho vontade de ganhar no primeiro turno. Mas nem sempre é possível. Isso é apenas uma prorrogação. Quem sabe, para a desgraça de alguns, eu tenho mais 30 dias para fazer campanha. Eu adoro fazer campanha. Adoro fazer comício, subir em caminhão."

Bolsonaro — que votou no Rio de Janeiro no começo da manhã — também foi comedido nas declarações, após acompanhar a apuração no Palácio da Alvorada. Ele creditou o bom desempenho à recuperação da economia do país após a pandemia de covid-19. "A mensagem é de que o Brasil, levando em conta a grande maioria dos países do mundo, foi o que melhor se saiu e está se saindo na questão da economia. Nós só temos dados positivos, e acredito que, como vai ser um (período do) primeiro para o segundo turno bastante elástico, vai ter quatro semanas — e não três, como geralmente acontecia — para a gente explicar bem para a população o que aconteceu."

Embate adiado

Lula e Bolsonaro deveriam ter medido forças quatro anos atrás, mas a prisão do ex-presidente por ordem do então juiz Sergio Moro, que comandava a Operação Lava-Jato, mudou os rumos daquele pleito. Bolsonaro foi eleito ao vencer o substituto de Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, no segundo turno. De lá para cá, ele e o petista protagonizaram uma polarização nunca vista na política brasileira no período pós-ditadura militar.

As vitórias de Lula na Justiça reabilitaram o ex-presidente para a nova disputa pelo Palácio do Planalto. Bolsonaro, por sua vez, passou os últimos quatro anos alimentando a polarização, com um governo polêmico, em que defendeu suas pautas conservadoras, brigou com o Supremo Tribunal Federal (STF), enfrentou com críticas a pandemia e afastou o Brasil dos principais foros multilaterais do mundo. Mas não perdeu o apelo eleitoral com seu discurso de extrema-direita dirigido à sua base "raiz".

O presidente vai para o segundo turno fortalecido pelo bom desempenho de ex-ministros e correligionários ligados ao Planalto nas disputas dos governos estaduais e para o Senado, que aproveitaram a carona das "motociatas" do chefe do Executivo e impuseram derrotas duras a aliados de Lula.

No Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni (PL) larga na frente do governador Eduardo Leite (PSDB). Para o Senado, apesar do favoritismo de Olívio Dutra (PT), quem se elegeu foi o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos).

Ainda na disputa pelo Senado, no DF, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) atropelou as adversárias Flávia Arruda (PL) e Rosilene (PT). Em Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina (PP) confirmou o favoritismo.

Em Santa Catarina, o ex-secretário da Pesca Jorge Seif (PL) foi eleito com tranquilidade. Mas a maior surpresa foi a vitória do astronauta Marcos Pontes (PL) na eleição de São Paulo, derrotando o favoritismo do ex-governador Márcio França (PSB). É com essa bancada fortalecida que Bolsonaro espera governar, caso reeleito.

Se Lula assumir a cadeira do Planalto, terá de lidar com um Congresso mais hostil, com uma forte bancada bolsonarista e conservadora. Precisará ser um "encantador de serpentes", como disse Ciro Gomes (PDT). E ainda verá, no Parlamento, os comandantes da Operação Lava-Jato, como Sergio Moro (União Brasil) e o ex-procurador da República Deltan Dallagnol (Podemos), eleitos senador e deputado federal, respectivamente, que ressuscitaram a República de Curitiba.

O PL, partido do presidente, foi a sigla que mais elegeu parlamentares. Bolsonaro, por sua vez, se conseguir reverter a vantagem do adversário, terá um apoio ainda maior do que tem na atual legislatura.

Fator São Paulo

No Sudeste, São Paulo foi o anticlímax da campanha petista. Além da derrota de Márcio França para o ex-ministro astronauta, os aliados de Lula frustraram-se com o segundo lugar do ex-prefeito Fernando Haddad, atrás do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), por 35,7% a 42,3%. Os dois disputarão em segundo turno pelo comando do Palácio dos Bandeirantes.

O próprio desempenho de Lula ficou abaixo das expectativas da coordenação de campanha. Bolsonaro foi o mais votado no estado de domicílio do ex-presidente e berço do movimento sindical que deu origem ao PT. A diferença, de quase sete pontos percentuais para o chefe do Executivo (47,7% a 40,9%), também não foi captada pelos institutos de pesquisa. No segundo turno, em São Paulo, tanto as eleições para presidente quanto para governador serão movidas pela polarização.

No Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral do país, outra derrota expressiva do ex-presidente. Bolsonaro venceu por mais de 10 pontos percentuais de diferença (51% a 40%) e ainda ajudou a reeleger o governador Cláudio Castro (PL) em primeiro turno. O chefe do Executivo também superou o petista no Espírito Santo com folga (52% a 40%).

Lula só venceu em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, por 48% a 43% — uma diferença inferior ao que as pesquisas indicavam. E não conseguiu ajudar seu aliado Alexandre Kalil (PSD) a impedir a reeleição de Romeu Zema (Novo) para o governo estadual em primeiro turno.

No Nordeste, Lula confirmou o que as pesquisas já apontavam: mostrou-se imbatível com vitórias expressivas em todos os estados. Também ajudou aliados como Jerônimo Rodrigues (PT), na Bahia, que ficou muito perto de definir a disputa contra o então favorito ACM Neto, do União Brasil, em primeiro turno (49,2% a 40,9%). Para o senado, ainda emplacou a reeleição de Otto Alencar (PSD), que presidiu a CPI da Covid.

Outra vitória expressiva se deu no Ceará, com a eleição em primeiro turno de Elmano de Freitas (PT), que bateu Capitão Wagner (União Brasil). A força do PT na região assegurou, ainda, a reeleição de Fátima Bezerra (RN) e Rafael Fonteneles (PI). Os aliados de Lula vão disputar o segundo turno, além da Bahia, em Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

Na Região Norte, Lula só não venceu em Roraima e no Acre. É da região o campeão de votos deste ano: o governador Helder Barbalho (MDB) foi reeleito com 70% dos votos. No Centro-Oeste, porém, perdeu em todos os estados.

No balanço final, a eleição foi definida em primeiro turno em 15 das 27 unidades da Federação. O PT elegeu três governadores, seguido por PP, MDB e União Brasil, com dois, cada. Solidariedade, PSB, Novo, PSD, PL e Republicanos asseguraram pelo menos um governador eleito. É com esse mapa que os estrategistas das duas campanhas vão trabalhar, nas próximas horas, para definir o plano de ação do segundo turno (veja o mapa das eleições nos estados nas páginas 4 e 6).

Terceira via

A apuração confirmou as expectativas em relação à chamada terceira via. Simone Tebet (MDB) termina a corrida eleitoral em terceiro lugar, com 4,1% dos votos válidos, ultrapassando Ciro Gomes (PDT), que desidratou na reta final e se despede de sua quarta tentativa de chegar ao Palácio do Planalto com apenas 3% dos votos, seu pior desempenho em corridas pela Presidência.

Os demais — Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D'Ávila (Novo), Padre Kelmon (PTB), Léo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB), Vera Lúcia (PSTU) e Constituinte Eymael (DC) — não atingiram 1% da preferência do eleitorado. (Colaboraram Victor Correia e Ingrid Soares).

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