ELEIÇÕES 2022

Lula e Bolsonaro iniciam disputa por eleitores de Tebet e Ciro

Tebet prometeu se posicionar em relação ao segundo turno e disse que não vai pecar por omissão. Ciro Gomes, por sua vez, pediu um tempo para pensar

Ingrid Soares
Taísa Medeiros
Victor Correia
Raphael Pati*
postado em 03/10/2022 03:55
 (crédito: Divulgação)
(crédito: Divulgação)

Na disputa pelo segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) vão ter como alvo o eleitorado do centro político, cujos candidatos não lograram êxito na rodada inicial de votação. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) — representante da chamada terceira via, em coligação com PSDB e Cidadania — e Ciro Gomes (PDT) terminaram com um saldo menor de votos do que o esperado. A parlamentar teve pouco mais de 4% dos votos, e o ex-governador, 3%.

Tebet prometeu se posicionar em relação ao segundo turno e disse que não vai pecar por omissão. "Foi difícil chegar aonde nós chegamos. Apesar de tudo, saímos do zero e conseguimos provar que nossa candidatura era para valer. Foi uma caminhada muito feliz. Estou satisfeita com o resultado", frisou. "Agora, é hora de os presidentes dos nossos partidos se posicionarem. Precisamos analisar os resultados das urnas para nos posicionar. Não esperem de mim omissão, porque a minha decisão já está tomada. Eu tenho lado e vou me pronunciar no momento certo. Espero que vocês entendam que esse não é um momento qualquer no Brasil. É um momento de decisão e de ação."

Nos debates em que os candidatos estiveram frente a frente, Lula acenou a Ciro e a Simone — ainda que ambos tivessem feito duros ataques às gestões petistas, inclusive com denúncias de corrupção e crítica à recessão registrada no governo Dilma Rousseff (PT), alvo de impeachment em 2016. Nos bastidores, interlocutores do PT também conversam com nomes do PDT e do MDB — uma ala do partido, inclusive, já declarou voto no petista no primeiro turno.

De olho no segundo turno, Lula não apresentou a versão final do programa de governo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sob a justificativa de não criar desconforto com aliados. Esse espectro de apoios é fundamental para definir a eleição e a formação de um eventual governo petista. Na sexta-feira, o ex-presidente sinalizava a necessidade de ampliar o leque de apoio, até agora majoritariamente formado por partidos de esquerda e líderes do centro. "A gente não tem de ficar com melindre de conversar com quem quer que seja. Nosso barco é que nem a Arca de Noé. Basta querer viver para entrar lá, e nós vamos salvar todo mundo", afirmou Lula, em entrevista coletiva.

Ciro Gomes, por sua vez, pediu um tempo para pensar em possíveis alianças e apoios no segundo turno. "Eu peço a vocês que me deem algumas horas para conversar com os meus amigos, com os candidatos do meu partido, para que a gente possa achar o melhor caminho, o melhor equilíbrio, para bem servir à nação brasileira", frisou o quarto colocado nas eleições, em entrevista coletiva.

O pedetista disse estar "profundamente preocupado com o que está acontecendo no Brasil". "Vou inteirar 65 anos de vida e tenho 42 deles dedicados ao amor e à minha paixão pelo Brasil. Eu nunca vi uma situação tão complexa, tão desafiadora, tão potencialmente ameaçadora sobre a nossa sorte como nação", destacou.

Pesquisas

O cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, destacou que, nesta reta final das eleições, o presidente enfatizará a agenda de costumes e visitará estados onde tenha obtido menos votos. "Bolsonaro buscará tratar da questão conservadora e Lula vai acenar de forma contundente ao eleitor de Tebet e Ciro. Os números surpreenderam, quando todos os institutos indicaram Bolsonaro bem atrás. O presidente vai bater pesado nisso, além de dar atenção especial a locais nos quais tenha ficado abaixo do esperado", frisou.

Na avaliação do cientista político André Rosa, a diferença apertada entre os dois presidenciáveis "levanta ainda mais a candidatura de Bolsonaro, pelo fato de questionar as pesquisas dos institutos que cravaram Lula com mais de 10% de vantagem". "Bolsonaro termina o primeiro turno com uma perspectiva bem melhor", disse.

Ricardo Caichiolo, cientista político do Ibmec-DF, ressaltou que Bolsonaro tentará uma aproximação com Tebet e Ciro "ainda que não prospere". Ele disse não ser possível distinguir para onde vão os votos dos candidatos do PDT e do MDB. "É uma questão aberta. Mesmo que Tebet tenha sinalizado aproximação com o PT para o segundo turno e o PDT também, apesar de Ciro se dizer mais neutro, o partido tem um alinhamento mais natural com Lula. No entanto, uma aproximação com esses dois partidos não significa que os votos dos eleitores vão para um ou outro", afirmou. "O pleito teve 20% de abstenções, mais de 30 milhões de votos. Vai ser um trabalho de convencimento por esse eleitor que se absteve de optar por um dos dois lados. É um cenário ainda bem indefinido."

A advogada constitucionalista Vera Chemin, mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), avaliou que Bolsonaro tentará cooptar votos nulos e brancos, além de incrementar uma propaganda eleitoral que tenha como foco principal as minorias, de modo especial, as mulheres.

(Com Agência Estado)

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