STF

Em live, Bolsonaro faz ataques a Moraes: 'Seja homem uma vez na vida'

O presidente ainda chamou o magistrado de "patife". O motivo das ofensas foi a quebra do sigilo bancário do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar, nesta quinta-feira (29/9), por meio de live transmitida por meio das redes sociais, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pela quebra do sigilo bancário de seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid. Em tom elevado, o chefe do Executivo pediu que o magistrado "seja homem uma vez na vida" e o chamou de "patife".

Algumas das mensagens trocadas levantaram suspeitas de investigadores sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República. O material indicava que algumas movimentações se destinavam a pagar contas pessoais da família presidencial e também de pessoas próximas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

“Prezado ministro Alexandre, primeiro seja homem, tá, Alexandre. Você quebrou o sigilo do meu ajudante de ordens. Ou seja, coisa de segredo de Estado. Meus quatro ajudantes de ordens têm informações privilegiadas de contatos que eu tenho com autoridades de várias partes do mundo, de informações confidenciais que circulam de um lado para o outro. E, agora, “contas, saques atípicos?”.

"Alexandre de Moraes, seja homem uma vez na vida. Bota os valores nas transações. Porque transação atípica no COAF é acima de R$ 10 mil. Quer dizer, pode não ser atípica, mas é uma possibilidade de ser atípica. Bota, Alexandre de Moraes, seja homem. Alexandre de Moraes, uma vez na vida. Bota, divulgue antes das eleições os valores das mensagens trocadas do ajudante comigo e com a minha esposa e dele para a minha esposa para depositar dinheiro para pagar a manicure, cabeleireiro, para comprar coisa que se compra no dia a dia, que ela deu dinheiro em alguns meses para a tia dela que toma conta da minha filha Laura em casa. A tia dela é uma pessoa humilde, pobre, da Ceilândia, tem que dar alguma coisa pra ela", alegou.

E seguiu atacando o magistrado, dizendo que o mesmo quer o retorno de Geraldo Alckmin (PSB) ao poder e que convém a ele ter um presidente como "refém".

"Alexandre de Moraes, seja homem, divulgue os valores. Sabemos de que lado você está. Você não quer o Lula? Você quer o Alckmin. O seu passado todo no governo Alckmin. A gente sabe que interessa para você ter um presidente refém teu. Que maravilha se o Lula for presidente, refém teu, com todas essa roubalheiras do passado, alguns processos rodando por aí ainda. A gente sabe que não foi inocentado, ele foi é descondenado (...) E você quer um presidente, Alexandre de Moraes, refém teu e eu não sou refém teu. Se eu fosse, não teria assinado indulto, a graça do deputado Daniel Silveira", apontou, emendando que o ministro "abusa do poder" para tripudiar.

"Eu brinco com qualquer coisa, mas eu não brinco, com meu caráter eu não podia deixar ele cumprir 9 anos de cadeia começando em regime fechado. Você abusa do seu poder para tripudiar em cima das pessoas. Deixa acabar as eleições", ameaçou em tom velado.

Bolsonaro também caracterizou a ação do ministro como "papel de moleque".

"O Alexandre de Moraes vem com essas baixarias. Quebra o sigilo do meu ajudante de ordens. Quebrou foi o meu sigilo, Alexandre. Isso não é papel de homem, é papel de moleque. É de moleque. E fica vazando para a imprensa. Seja homem uma vez na vida, Alexandre de Moraes. Deixa de ser um patife, Alexandre de Moraes. Um patife", bradou.

O presidente ainda repetiu acusações de que Moraes teria vazado o inquérito. O ministro do Supremo determinou apurações sobre o vazamento de informações no inquérito que quebrou do sigilo bancário do principal ajudante de ordens. O procedimento sobre o vazamento será conduzido pelo juiz Airton Vieira, do gabinete de Alexandre de Moraes.

A determinação foi protocolada terça-feira (27/9), dia seguinte da reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelar que mensagens encontradas pela PF no celular de Mauro Cid levantaram suspeitas sobre as movimentações financeiras da família do presidente, principalmente a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

"O inquérito que ele faz, não consulta MP, não toma satisfação com ninguém, bota delegado que ele quer à frente do inquérito e depois, se der algum problema, “a PF vazou”. Alexandre, que cara de pau! Mandou instaurar um inquérito para saber quem vazou o inquérito. Quem vazou foi você, Alexandre. Assuma, seja homem uma vez na vida".

Bolsonaro ainda voltou a colocar em dúvida o sistema eleitoral e pediu que a população compareça às urnas contra a abstenção.

"Eu apelo a todos vocês, vamos votar com a camisa verde e amarela, de preferência, amarela no domingo. Vamos votar. Participe. Deixe o resto com o lado de cá, deixa conosco, deixa a comissão de transparência eleitoral, que ali dentro está a Polícia Federal, as Forças Armadas, a CGU, entre outras instituições. Deixa com a gente. A gente desconfia? Desconfia, mas faz parte A gente desconfiar das coisas. A única coisa que eu não posso desconfiar é no que Alexandre de Moraes faz. Se olhar a vida pregressa do Alexandre de Moraes, para quem ele trabalhou, você cai para trás", continuou.

O presidente ainda criticou o sinal de degola feito por Moraes durante julgamento no momento em que o tribunal julgava uma ação contra o presidente por uso do Palácio da Alvorada na campanha que, inclusive, foi vetado pelo TSE.

"Está aqui agora o gestinho de degolar. Um assessor meu, Filipe Martins, foi um escândalo na mídia: “Ah, ele é supremacista branco, racista”, “cadeia nele, multa, perda do cargo”. Agora, aqui, claramente com raiva do ministro que votou para eu pudesse fazer a live dentro do Alvorada que é minha residência oficial, meu Deus do céu. E ele não gostou e fez sinal para cortar a cabeça de alguém, talvez a do ministro aí porque após o voto dele fez o gesto de cortar o pescoço".

"Uol, a mesma que fez a matéria dos imóveis, aquela mentira, diz que “Gesto de Moraes foi brincadeira para assessor”. O cara tá ali na mesa conduzindo o processo eleitoral onde está em jogo a liberdade do povo brasileiro. Ele vai para a brincadeira? É tudo medida para tentar me tirar do contato popular", disse.

Por fim, o chefe do Executivo apelou pela reeleição, afirmando não atuar em causa própria, mas pelo Brasil, para "botar todo mundo dentro das quatro linhas da Constituição".

"Eu peço a Deus uma reeleição. Não é por mim. É pelo Brasil. Eu boto todo mundo dentro das quatro linhas da Constituição. Alguns ficam nervosos, está na hora de fazer isso, aquilo, calma. vamos resolver. Nós estamos com a verdade, temos o povo do nosso lado, temos Deus do nosso lado. Eu acredito em Deus. Se não acreditasse não teria sobrevivido a facada e sido eleito", concluiu.

Ontem, em live diária, Bolsonaro teceu reclamações semelhantes sobre a quebra de sigilo.

"Minha esposa não tem escritório de advocacia. Então, contas... Valores atípicos... Bota o valor, Alexandre! Bota o valor! Seja homem, Alexandre de Moraes. Bota o valor. Você vazou a quebra do sigilo telemático, bota o valor agora. Para o povo tomar conhecimento dos valores que entraram pela Michele para pagar aí as atividades particulares dela que estão por aí. Bota os valores. Agora, recebi informação, abriu inquérito para investigar se a PF [Polícia Federal] ou MP [Ministério Público] vazou. Alexandre, quem vazou foi você. Seja homem, Alexandre", afirmou na ocasião.

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