O presidente Jair Bolsonaro (PL) retornou na madrugada desta quarta-feira (21/9) a Brasília após participação na abertura da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Ao deixar o Palácio da Alvorada rumo ao Palácio do Planalto, o chefe do Executivo conversou com apoiadores e criticou a linguagem neutra, na qual os pronomes contemplam pessoas de gênero não binário no lugar de "ele/ela".
“Uma parte da garotada nem sabe português e quer a linguagem neutra. É impressionante”, reclamou.
“Antes de explicar o pronome neutro pergunta se sabe a diferença do pronome pessoal do caso reto, do caso oblíquo”, emendou um dos simpatizantes, provocando risos de Bolsonaro.
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Em outro trecho da conversa, o chefe do Executivo perguntou: “O que que soma isso daí?” “Quer ver, o pessoal começa: 'Bom dia a todos e todas'. Isso não existe. Vão falar que eu sou machista agora. O plural é todos. Quando o cara começa assim, eu já: 'opa, qual é a desse cara aí? Não querendo persegui-lo, nada disso”.
Em dezembro do ano passado, o presidente comentou sobre o que chamou de "linguagem neutra dos gays". O chefe do Executivo citou como exemplo uma questão da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2018 e reclamou que a utilização dos termos neutros "estraga a garotada". "Lembra dois anos atrás a questão da linguagem neutra dos gays? Não tenho nada contra, nem a favor. Cada um faz o que bem entender com seu corpo. Mas por que a linguagem neutra dos gays? O que soma para gente numa redação? Agora, estimula a molecada a se interessar por essa coisa, por…", apontou a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, sem terminar a frase.
Um dos homens presentes emendou que a utilização acaba "estragando a linguagem". Foi então que Bolsonaro rebateu que "a linguagem é o de menos, vai estragando a garotada", disse na ocasião.
"Você não aprende nada hoje em dia"
Ainda hoje, Bolsonaro também afirmou saber que o salário dos professores “não é bom”, mas que o investimento a ser feito em educação é no “currículo” e no “conteúdo”. Segundo ele, os livros de antigamente eram “bem diferentes” dos atuais e que os estudantes "não aprendem nada hoje em dia”.
“A nossa economia vem do campo, tecnologia e tem países que estão numa situação muito melhor do que nós dado ao estudo. Esses países começaram, nos anos 40, a investir pesado na educação. Investir pesado não é igual a petralhada fala de 'botar dinheiro'. Eu sei que o salário não é bom, dos professores. Eu sei disso, mas o investimento é no currículo, é no conteúdo. O tipo dos livros do nosso tempo é bem diferente dos de hoje em dia. Você não aprende nada hoje em dia”, emendou.
Ataques a Lula
Bolsonaro voltou a atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que investidores têm confiança em seu governo, o que pode mudar caso o petista seja eleito. “O pessoal está investindo, está vindo porque está com confiança no governo. Agora, se há a possibilidade de voltar à roubalheira que sempre foi o Brasil, esse pessoal deixa de investir.”
Sobre o preço ainda alto de itens alimentícios, Bolsonaro rebateu que não pode impedir a exportação dos mesmos. “Quando alguns falam: ‘Ah, você deve evitar que tais produtos sejam exportados porque está encarecendo aqui’. Por que você não vai fazer aquilo que aquele cara está fazendo? Vai plantar, pô.”
ONU
Em tom de campanha no discurso de abertura da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), na terça-feira (20), o presidente usou a exposição internacional para se dirigir à base eleitoral interna. A menos de duas semanas do primeiro turno das eleições, falou por 20 minutos e fez um balanço de sua gestão, citando principalmente a melhora do desempenho da economia.
Ainda que sem nomear diretamente o ex-presidente Lula, líder nas pesquisas de intenção de voto, lembrou escândalos na Petrobras e acenou às mulheres citando a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Na opinião de especialistas, no entanto, Bolsonaro não conseguiu atingir novos eleitores e continua “pregando para convertidos”.
Falando sobre o “Brasil do passado”, alegou que seu governo “extirpou a corrupção sistêmica no país”, mas não mencionou denúncias envolvendo sua família e ex-ministros, como o da Educação, Milton Ribeiro. Também não fez críticas ao sistema eleitoral e às urnas, mas, em ataque ao petista, aproveitou para ressaltar que “o responsável” pela má gestão e desvios na petroleira, que segundo ele chegaram à casa dos US$ 170 bilhões, “foi condenado em três instâncias, por unanimidade”.