O presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcou, ontem à noite, em Nova York, onde abre, na manhã de hoje, a 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas. A 13 dias do primeiro turno das eleições, ele vai dispor de 10 a 15 minutos para um pronunciamento. Mas, apesar de tratar-se de uma tribuna voltada para questões internacionais, espera-se que Bolsonaro faça um resumo do seu governo e, como em Londres — onde estava, horas antes, para a cerimônia fúnebre da rainha Elizabeth II —, acene à base eleitoral interna. Entre os temas, a melhora da economia brasileira, as pautas de costume, o ataque ao "comunismo" e ao PT e ênfase à afirmação de que não há corrupção no governo.
Temas como as consequências da pandemia, a guerra na Ucrânia, mudanças climáticas, energias renováveis, meio ambiente e segurança alimentar também foram sugeridos pelo Itamaraty para que o presidente inclua no pronunciamento. Esta é a quarta vez que Bolsonaro abre a Assembleia Geral.
A previsão é que, antes do pronunciamento, ele esteja com o secretário-geral das Nações Unidas e, depois de discursar, com o líder polonês Andrzej Duda. Bolsonaro também deverá ter reuniões com os presidentes Guillermo Lasso (Equador), Alejandro Giammattei (Guatemala) e Aleksandar Vui (Sérvia).
Em paralelo, o chanceler Carlos França participará de eventos com os embaixadores de Japão, Rússia, Bielorrússia, El Salvador, Suriname, Emirados Árabes, Irã, Bahrein, Guiana, Camboja, Indonésia, Senegal e Turquia — além de encontro com o secretário-geral da Liga Árabe e de uma reunião do grupo formado por Japão, Alemanha, Brasil e Índia, que discute a reforma e ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
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Irritação
Ainda em Londres, Bolsonaro negou que tivesse feito uso eleitoral da viagem para o funeral de Elizabeth II. E irritou-se quando foi indagado sobre isso. "Acha que vim aqui fazer política? Pelo amor de Deus! Não vou te responder, não. Se eu não viesse, estaria sendo criticado do mesmo jeito. Acabou a conversa", reagiu, interrompendo a conversa com os jornalistas.
Mas, antes de pôr um ponto final na entrevista, Bolsonaro aproveitou para atacar o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de votos. "Por quê a insistência em querer botar um ladrão na Presidência? Alguém acha que é uma maravilha ser presidente? Botar um ladrão, com aquela quadrilha toda na Presidência", criticou.
Segundo ele, a manifestação de apoio que recebeu em Londres "representa o que realmente acontece no Brasil". "Sabemos quem é o outro lado e o que eles querem implantar em nosso Brasil. A nossa bandeira sempre será dessas cores que temos aqui: verde e amarelo", observou.
Mesmo negando ter feito uso eleitoral do funeral, a imprensa inglesa acusou o presidente de desrespeitar a liturgia do momento e manter a campanha à reeleição. O The Guardian destacou que "Jair Bolsonaro usa visita em Londres para funeral da rainha como palanque" e que "voou para Londres para discursar aos seus apoiadores sobre os perigos dos esquerdistas, do aborto e da 'ideologia de gênero'".
O Daily Mail reforçou a crítica: "Enquanto líderes globais chegam ao Reino Unido para manifestar seu respeito pela rainha, o líder da direita radical populista Jair Bolsonaro fez um comício em tom agressivo da janela da embaixada de seu país incitando uma multidão com bandeiras".
Já o The Independent foi na mesma direção. "O polêmico Bolsonaro aproveitou a viagem a Londres para tentar convencer os eleitores indecisos de sua importância internacional, levando sua campanha política para a viagem", criticou.
Ao mesmo tempo, o The Times acusou Bolsonaro de aproveitar "a ida ao funeral da rainha para mostrar ao seu país como o combustível é caro em Londres".