O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, ontem (17/9), de um comício em Curitiba, cidade na qual ficou preso por 580 dias após condenação pela Operação Lava-Jato. O petista negou nutrir ódio pela cidade e criticou a presença das Forças Armadas na fiscalização do processo eleitoral. O presidenciável voltou a prometer o fim da exploração ilegal de recursos naturais na Amazônia e fez forte aceno às mulheres. Os aliados, por sua vez, ocuparam o palanque para defender o voto útil no ex-presidente no primeiro turno.
"Nós queremos as Forças Armadas preparadas, equipadas, bem formadas, para ninguém se meter a invadir o Brasil. Não queremos as Forças Armadas se metendo nas eleições do nosso país e nem querendo controlar as urnas", discursou o petista. "É preciso que alguns de lá tratem a sociedade civil com respeito, que nós sabemos cuidar de nós e não precisamos ser tutelados", completou.
Logo na abertura do comício, na Boca Maldita, zona central da capital paranaense, Lula relembrou o período em que ficou preso na Superintendência da Polícia Federal até que o Supremo Tribunal Federal, no fim de 2019, derrubou a validade de prisões em segunda instância.
"Tem gente que pensa que eu fiquei com ódio de Curitiba porque eu fiquei preso aqui. Se vocês soubessem… A cadeia me fez amar Curitiba. Foi aqui, na cadeia, que eu conheci a Janja e foi aqui que nós decidimos nos casar", confidenciou Lula. Militante do PT, a socióloga participava das vigílias organizadas em frente à sede da PF.
O discurso do ex-presidente também abarcou o fim do garimpo e do corte ilegal de madeira, desafios da educação e críticas ao seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro.
"Eu queria que o Bolsonaro, ou o (ministro da Economia, Paulo) Guedes, pegasse o filho deles pelo braço e levasse numa escola para ver a qualidade da comida que as crianças estão comendo, para ver se eles gostariam de dar essa comida para os filhos deles", pontuou Lula, em referência aos cortes orçamentários que atingem verbas destinadas à merenda escolar.
Ele também falou diretamente ao eleitorado feminino, que quer, segundo ele, "um presidente que saiba que mulher não quer ser mais objeto de cama e mesa". "Mulher quer ser o que ela quiser. É preciso cumprir a Constituição e regular a lei para que a mulher ganhe igual ao homem se fizer a mesma função, ou ganhe mais", declarou.
Ponto comum no discurso dos aliados foi o apelo ao voto útil para atrair eleitores de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT).
"Eu tenho certeza de que, se Leonel Brizola estivesse vivo, ele estaria sentado aqui, hoje, ao lado de Lula", disse a ex-presidente Dilma Rousseff, citando o fundador e maior líder do partido de Ciro. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi mais direto: "Se vocês souberem de alguém que quiser votar no 15 (Tebet), no 12 (Ciro), digam que eles têm esse direito, mas que, se o fascismo ganhar, eles não terão esse direito no futuro", defendeu.