As últimas pesquisas de intenção de voto para o governo de Alagoas, uma das disputas mais nacionalizadas do país, mostram uma reação do senador Rodrigo Cunha (União Brasil) em sua briga particular com o também senador Fernando Collor (PTB) por uma vaga no segundo turno, provavelmente contra o candidato do MDB, o atual governador do estado, Paulo Dantas. Os dois parlamentares buscam por votos na mesma faixa do eleitorado. A diferença é que Cunha evita se vincular ao bolsonarismo, enquanto Collor se declara o "candidato de Bolsonaro". Dantas, por sua vez, é ligado ao grupo do senador Renan Calheiros (MDB) — ele sucedeu Renan Calheiros Filho no governo do estado e, agora, tenta a reeleição —, que é um dos principais apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De acordo com o Instituto Ibrape, em pesquisa divulgada ontem, Dantas lidera a corrida pelo Palácio República dos Palmares com 36% das intenções de voto. Na briga por uma vaga no segundo turno estão Cunha, com 20%, ultrapassando Collor, agora em terceiro, com 17% — empatados na margem de erro. Números semelhantes foram divulgados na quinta-feira pela Paraná Pesquisas, que mostram Dantas com 30%; Cunha com 20,8%; e Collor com 18,9% das intenções de voto.
O cenário da disputa alagoana reflete a polarização nacional entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro e, como recorte, um fenômeno que vem se repetindo em outros estados: candidatos conservadores que evitam colar a imagem à do atual chefe do Executivo estão conseguindo avançar nas intenções de voto mais do que os bolsonaristas assumidos.
Cunha é o candidato do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que declarou que "ninguém representa mais o bolsonarismo do que ele". Mas o senador do União Brasil tem feito uma campanha descolada da imagem do presidente, ao contrário de Collor, que amarrou sua candidatura ao apoio a Bolsonaro.
No Ceará, o líder das pesquisas, Capitão Wagner (União Brasil), também evita vincular seu nome ao do presidente, para não ser contaminado pela rejeição de Bolsonaro, que é ainda mais alta entre os nordestinos do que no restante do país. Uma estratégia que vem se mostrando eficiente na corrida para tirar do poder o grupo ligado à família do candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, representado pela candidatura do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio. O pedetista perdeu, nas últimas rodadas de pesquisas, o segundo lugar na corrida eleitoral para o candidato do PT, Elmano Freitas.
Governadores que apoiaram direta ou indiretamente Bolsonaro na eleição de 2018 também estão adotando a estratégia de se afastar do presidente para evitar que a rejeição dele (na casa dos 50% do eleitorado nacional, de acordo com as pesquisas) atrapalhe as campanhas pela reeleição estadual.
O exemplo mais evidente está em Minas Gerais. O governador Romeu Zema (Novo) lidera com folga a disputa contra o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), em uma campanha em que decidiu não se aliar formalmente ao presidente. Com isso, pesca votos no eleitorado mais conservador, incluindo os bolsonaristas, e ainda alimenta o movimento "Luzema" — Lula para presidente, Zema para governador. Kalil, por sua vez, tenta chegar ao segundo turno abraçado com a candidatura do ex-presidente. O postulante oficial de Bolsonaro, Carlos Viana (PL), não decolou.
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Oposição
Em Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) também busca votos no bolsonarismo, mas assume uma postura de oposição ao presidente desde a pandemia, por não concordar com a gestão do governo federal na crise sanitária.
No Rio de Janeiro, o candidato do PL e líder nas pesquisas, governador Cláudio Castro, "esconde" o presidente em suas peças de propaganda, apesar de subir no palanque com ele, como fez no 7 de Setembro, na Praia de Copacabana.
Na Bahia, ACM Neto (União Brasil) é outro que adotou a estratégia de não se vincular ao presidente. No estado, o candidato oficial de Bolsonaro, o ex-ministro João Roma, sofre com a alta rejeição do presidente e não consegue escalar nas pesquisas, que apontam a possibilidade de segundo turno entre ACM Neto e o candidato do PT, Jerônimo Monteiro, que cresceu 12 pontos percentuais em duas semanas, conforme a última pesquisa Datafolha.
"Na eleição majoritária, os candidatos realmente se escondem de bolas divididas, precisam de votos em todos os segmentos da sociedade. As polêmicas funcionam mais nas eleições proporcionais, em que se disputam nichos do eleitorado. Por isso, (os candidatos a governos estaduais) tendem a omitir questões mais polêmicas — Bolsonaro é a polêmica em pessoa — e passam a adotar posturas mais neutras", avalia o cientista político Leonardo Barreto, da consultoria de risco político Vector Research. "São candidatos de centro-direita, da política tradicional, são experientes, sabem que essa característica de Bolsonaro (de alimentar polêmicas) não é transmissível."