A viagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) a Londres, para o funeral da rainha Elizabeth II, está sendo vista por setores do governo como uma manobra arriscada. Apesar de o objetivo da ida à cerimônia seja, como se comenta nos bastidores do governo, o de demostrar prestigio internacional — além de reunir imagens para serem usadas durante a campanha —, a preocupação é de que Bolsonaro fique isolado entre os chefes de Estado e de governo que estarão presentes.
Interlocutores do governo reconhecem que dificilmente o presidente será recebido na capital da Inglaterra com alguma deferência — estará incluído no protocolo que os britânicos dispensarão a todos os representantes dos países. Há ainda o temor de que, durante a cerimônia na Abadia de Westminster, ele seja colocado em uma posição de pouco destaque ou que circulem imagens nas quais os demais chefes de Estado e de governo lhe sejam indiferentes.
Tais fatores poderiam ser aproveitados pela campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal adversário na disputa pelo Palácio do Planalto — e a poucos dias do primeiro turno das eleições gerais. Isso daria mais munição ao petista, que frequentemente ataca a política externa de Bolsonaro e o acusa de levar o Brasil a uma posição de irrelevância no cenário internacional.
Ontem, em Brasília, o presidente deu um primeiro passo na busca de prestígio junto ao governo britânico: compareceu à embaixada do Reino Unido, em Brasília, para assinar o livro de condolências pela morte de Elizabeth II. Estava acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e do chanceler Carlos França, e ficou aproximadamente cinco minutos na representação. Quando da morte da monarca, decretou luto oficial de três dias e disse, por meio de nota, que ela foi "uma rainha para todos nós".
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Nações Unidas
De Londres, Bolsonaro viaja para Nova York, onde participa da abertura da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas — em 20 de setembro. O discurso do presidente brasileiro tradicionalmente abre a conferência.
Para o evento, a expectativa é de que Bolsonaro se dirija, mesmo numa tribuna internacional, para seu próprio público, a fim de que as imagens e a exposição sejam divulgadas pelas redes sociais bolsonaristas e usadas pela campanha. Assim, é esperado que os temas do discurso sejam aqueles que ele sempre repisa quando nos palanques: críticas a uma suposta ameaça comunista a que o país esteve sujeito durante os governos do PT — e que desponta no horizonte sul-americano com as recentes eleições de governos de esquerda no Chile, na Bolívia e na Colômbia; a pujança das exportações do agronegócio brasileiro — com ênfase para o conceito de "celeiro do mundo" que vem desde o regime militar; a cobiça da Amazônia pelas principais potências mundiais e os esforços do atual governo para contê-la; além de questões relacionadas aos costumes — como aborto, rejeição da formação de famílias homoafetivas, educação conservadora e acusação à esquerda de ser favorável à liberação das drogas.