O presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou tom de campanha em discurso na Esplanada dos Ministérios no 7 de Setembro, em Brasília, e chamou o público para votar em 2 de outubro.
"Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós", disse Bolsonaro, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de inteções de voto, atrás do candidato do PT e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante o discurso, Bolsonaro disse que há "uma luta do bem contra o mal", puxou gritos para si mesmo de "imbrochável", sugeriu comparação entre primeira-damas e terminou com um "uivo".
Antes do Dia da Independência, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontaram que o presidente correria risco de cometer crimes eleitorais ao participar de manifestações neste 7 de setembro.
A lei eleitoral veda o uso de bens, recursos e espaços da administração pública para a promoção de candidatos, ou seja, quando um agente público se vale da sua função para beneficiar eleitoralmente a si mesmo ou outro candidato.
Antes de o presidente discursar, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, fez um discurso recheado de menções religiosas.
Antes de participar dos eventos na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro também disse que "o bem sempre venceu o mal", após citar rupturas e eleição.
"Queria dizer que o Brasil já passou por momentos difíceis, mas por momentos bons, 22 [revolta tenentista], 35 [intentona comunista], 64 [golpe militar], 16 [impeachment de Dilma Rousseff (PT)], 18 [eleição presidencial] e agora, 22. A história pode se repetir, o bem sempre venceu o mal. Estamos aqui porque acreditamos em nosso povo e nosso povo acredita em Deus", disse.
A seguir, veja as 5 frases que marcaram discurso de Bolsonaro em Brasília no 7 de Setembro:
1. 'Vamos todos votar'
Em meio a dúvidas sobre se adotaria tom de campanha em discursos do Dia da Independência, Bolsonaro conclamou o público a votar nas eleições.
"A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil", disse.
2. 'Luta do bem contra o mal'
Após dizer que o Brasil estava "à beira do abismo" há poucos anos, Bolsonaro disse que há "uma luta do bem contra o mal".
"O mal que perdurou por 14 anos no nosso país, que quase quebrou nossa pátria e que deseja voltar à cena do crime. Não voltarão, o povo está do lado do bem, o povo sabe o que quer", disse o presidente.
3. Comparação 'entre primeiras-damas'
Em um momento do discurso, o presidente sugere comparações "entre as primeiras-damas", sem citar nomes.
"Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir. Uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é ao meu lado não. Muitas vezes ela está é na minha frente. Tenho falado para os homens solteiros: procurem uma mulher, uma princesa, se case com ela para serem mais felizes ainda", disse, beijando a primeira-dama em seguida.
4. 'Imbrochável, imbrochável'
Depois de beijar a primeira-dama e dizer "obrigada, meu Deus, pela minha segunda vida", Bolsonarou tentou puxar coro de "imbrochável" para si mesmo. Ele repetiu a palavra cinco vezes seguidas.
5. 'Indireta' ao Supremo
O presidente citou o Supremo Tribunal Federal em sua fala após dizer que "é obrigação que todos jogarem dentro das quatro linhas da nossa Constituição" e dizer que "Deus está ajudando chegar até vocês a verdade".
"Hoje todos sabem quem é o Poder Executivo. Hoje todos sabem o que é a Câmara dos Deputados. Todos sabem o que é o Senado Federal. E também todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal", disse.
Houve vaias no público após o presidente mencionar o Supremo.
Uma das principais bandeiras das mobilizações a favor de Bolsonaro é a crítica ao Supremo, devido a decisões de ministros da Corte que contrariam o governo e atingem seus apoiadores, como a liminar que Edson Fachin deu na segunda-feira (5/9) restringindo o número de armas e munições que podem ser obtidas por CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), sob a justificativa de conter o risco de violência política na campanha eleitoral.
É o caso também das investigações contra o presidente e seus aliados realizadas sob a jurisdição do ministro Alexandre de Moraes, que em agosto determinou uma operação da Polícia Federal contra oito empresários bolsonaristas suspeitos de apoiar a realização de atos antidemocráticos, o que eles negam.
Atos de natureza político-partidária
Antes do início do desfile, o Ministério Público Federal do Distrito Federal divulgou nota na qual diz ter pedido que o Poder Executivo adote medidas para garantir que "os atos oficiais e o desfile cívico-militar de 7 de setembro não sejam confundidos com atos de natureza político-partidária".
"As medidas foram motivadas diante das manifestações político-partidárias agendadas para o mesmo dia, horário e local do desfile cívico-militar que acontecerá amanhã, 7, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF). Nesse contexto, foram distribuídos convites a servidores civis lotados nos ministérios para que comparecessem ao evento", diz a nota.
O órgão disse que solicitou medidas para garantir "a integridade de militares que atuarão no evento e a ida de servidores civis de forma livre, sem coação".
Tribuna de honra com Luciano Hang
Antes, o empresário Luciano Hang, conhecido como 'Véio da Havan', desfilou ao lado de Bolsonaro no evento oficial de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Após caminhar ao lado do presidente, Hang subiu na tribuna de honra e se posicionou do lado esquerdo de Bolsonaro, na primeira fila. Ele apareceu entre Bolsonaro e o presidente português, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa.
A tribuna de honra é a área em que ficam as autoridades e onde estariam os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), da Câmara e do Senado, que não compareceram ao evento neste ano.
Hang é um dos oito empresários alvos de operação da Polícia Federal em agosto por suspeita de terem defendido um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições presidenciais deste ano.
A defesa teria sido feita em um grupo privado de mensagens no aplicativo WhatsApp. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e faz parte do inquérito que apura o funcionamento de milícias digitais.
Segundo o portal Metrópoles, Hang é um dos integrantes do grupo. Nas reportagens publicadas pelo portal, não há menção de que Hang tenha defendido a realização de um golpe caso Lula vença as eleições.
À BBC News Brasil, a assessoria de imprensa de Hang enviou uma nota informando que o empresário estaria "tranquilo" e negando que tenha falado em golpe no grupo de empresários.
"Que eu saiba, no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião. Em minhas mensagens em um grupo fechado de WhatsApp está claro que eu nunca, em momento algum falei sobre Golpe ou sobre STF", disse.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62821211
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