ELEIÇÕES 2022

'Polarização está levando o Brasil para o abismo', diz Simone Tebet

Senadora diz que só com estabilidade é possível gerar empregos e fazer o país crescer. Parlamentar defende o agronegócio

Candidata à Presidência pelo MDB, a senadora Simone Tebet criticou a polarização no Brasil e disse que o país tem de se voltar para a solução de problemas como fome e desigualdade social. “A população quer emprego. O Brasil não vai gerar emprego se não crescer, e não vai crescer se não tiver segurança jurídica, estabilidade. Essa coisa do nós contra eles, essa polarização está levando realmente o Brasil para o abismo”, enfatizou, em entrevista ao CB.Poder, parceria entre a TV Brasília e o Correio. O programa contou com a participação, também, de jornalistas da Super Rádio Tupi, do Rio de Janeiro.

Tebet também lamentou que a escolha seja “entre escândalo de corrupção do passado, do mensalão e do petrolão; e escândalos de corrupção do presente, na compra de vacina, do orçamento secreto, dos ônibus superfaturados”. “É menos Lula e Bolsonaro e mais Brasil”, frisou.

A senadora reprovou a forma como o chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), trata as mulheres. “É um presidente misógino, que agride as mulheres, que não as respeita, que estimula esse ambiente de ódio, dando um péssimo exemplo a esta geração”, frisou.

A presidenciável prometeu, se eleita, manter o Auxílio Brasil de R$ 600, destacou que a agenda social será uma prioridade de sua eventual gestão e saiu em defesa do agronegócio. “A gente não pode demonizar um setor que é tão importante para o Brasil. O único setor que está funcionando no Brasil”, afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 06/09/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - CB.Poder entrevista a Senadora Simone Tebet candidata a presidente da repúlbida.
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 06/09/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - CB.Poder entrevista a Senadora Simone Tebet candidata a presidente da repúlbida.
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 06/09/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - CB.Poder entrevista a Senadora Simone Tebet candidata a presidente da repúlbida.
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 06/09/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - CB.Poder entrevista a Senadora Simone Tebet candidata a presidente da repúlbida.
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 06/09/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - CB.Poder entrevista a Senadora Simone Tebet candidata a presidente da repúlbida.

Até agora, dois candidatos já prometeram manter o Auxílio Brasil, mas não explicaram de onde sairá o dinheiro para bancá-lo. A senhora pretende seguir com o benefício?

O primeiro eixo do nosso programa de governo é o social. A agenda social é prioridade hoje no Brasil. Tem duas grandes metas. Primeiro, a transferência de renda permanente. Ninguém vai dormir com fome no Brasil a partir de janeiro do ano que vem. Nenhuma criança vai dormir com fome no Brasil. Para isso, temos toda uma rede de proteção capaz de entrar na casa das pessoas e verificar como está a situação familiar. Estou falando basicamente dos nossos anjos da guarda, que são nossos assistentes sociais e agentes comunitários de saúde. Então, o programa de renda permanente seguirá de forma contínua. Mas o CadÚnico volta para os municípios, onde as pessoas que moram ali e os servidores públicos conhecem a realidade da população. Dito isso, não temos como não deixar de proteger essas famílias com o mínimo, que são os R$ 600, que mal estão dando hoje para cobrir a cesta básica.

De onde sairão os recursos?

Dinheiro tem, mas, lamentavelmente, hoje ele está indo para os desvios da corrupção, na falta de transparência. Nós não sabemos quais obras estão sendo executadas, que não têm prioridade na vida das pessoas. O que a gente não pode admitir mais é que este Brasil tão rico seja de tão poucos. O Brasil precisa ser de todos. Então, a prioridade absoluta é matar a fome, erradicar a miséria. E, paralelo a isso, o segundo grande eixo, como professora que sou, é colocar a educação como prioridade nacional, pela primeira vez na história do Brasil. A União vai coordenar esse trabalho com recursos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), que estão fora do teto. Já dobramos esses recursos pela legislação, para que os municípios garantam vagas no ensino infantil, nas creches, nas escolas. E que os governos consigam trazer de volta as nossas jovens do ensino médio para dentro de sala de aula.

O Orçamento de 2023 prevê o Auxílio Brasil de R$ 400. Ou seja, para pagar R$ 600, terá de fazer corte ou criar uma fonte de receita. O que fará para cortar o desperdício? Vai dar para identificá-lo até janeiro?

Há quase R$ 1 bilhão sendo usado, por ano, para alugar prédios privados voltados a acomodar servidores públicos, e sabemos que o que não falta em Brasília são órgãos, repartições públicas, inclusive com salas ou prédios inteiramente vazios. Esses servidores têm de voltar para os espaços públicos, porque o dinheiro é do povo, não pode ser usado para pagar aluguel para garantir ou beneficiar meia dúzia de empresários ou de donos de imóveis. Só daí nós temos R$ 1 bilhão. Do orçamento secreto, temos R$ 16 bilhões, sem falar que metade desse dinheiro está indo para meia dúzia de deputados e senadores, que dizem que mandam esses recursos lá para a ponta, lá para o Nordeste. Estamos falando de notas frias, falsificadas, em que 100% do dinheiro não está chegando lá, está indo para o bolso de alguém. Só metade do orçamento secreto são R$ 8 bilhões, mas vamos ser realistas, isso leva um, dois, três meses. A partir de janeiro, essas pessoas precisam estar com R$ 600 no bolso. Este ano ainda, eu sou senadora, se eleita presidente da República, temos condições de mexer no Orçamento, uma das formas que se tem diante do estado de calamidade social que o Brasil se encontra. Um país que voltou para o mapa da fome, que tem 33 milhões de pessoas passando fome. Estamos falando de estado de calamidade pública. Nada impede, e o mercado já assimilou hoje que se criou crédito extraordinário para que se possa, fora do teto, garantir que o Auxílio Brasil de R$ 600 esteja coberto em 2023, enquanto a gente faz o dever de casa.

Como pretende acabar com o orçamento secreto?

Com uma caneta, dando transparência absoluta. Primeiro ato: exigir que todos os ministros de Estado abram as contas públicas. No Portal da Transparência estará quem destinou recurso, para onde. Aí, vamos ver que temos meia dúzia de privilegiados no Congresso levando grande parte desse orçamento secreto para seus currais eleitorais. Veremos, ainda, que parte desse dinheiro não chega à ponta, portanto é 100% desviado. Estamos falando, se nós tivermos transparência como vamos dar e se tudo se encaminhar para onde eu acho que vai — tenho experiência legislativa, estou há sete anos de Congresso —, podemos estar diante do maior esquema de corrupção da história do Brasil.

Maior do que petrolão, mensalão e o próprio escândalo do orçamento da década de 1990?

Maior que o mensalão, com certeza. Não sei se é maior que o petrolão, porque o petrolão, não conseguimos, só arranhamos a casca. Não conseguimos avançar em todo o esquema de corrupção que existia lá dentro. Mas se conseguirmos avançar (no orçamento secreto), estamos falando em R$ 16 bilhões em um ano, e, em dois anos, de mais de R$ 30 bilhões. Estamos falando de 30% só desse dinheiro que está sendo desviado. Aqui é absolutamente um chute, porque não tem como saber. Então, estou colando um terço desse valor de R$ 30 bilhões, estamos falando de R$ 10 bilhões.

Assim já teria como cobrir uma parte dos R$ 600 do Auxílio Brasil?

Dá para fazer o que precisa ser feito nas outras áreas. Acho que, independentemente disso, a gente tem de ter coragem de dizer o seguinte: o Brasil está passando fome, fruto da corrupção do governo passado, fruto do desgoverno deste atual presidente, que não tem planejamento, deixou correr solto. Não tem uma política de Estado na área social. Temos de enfrentar o problema com muita coragem. O ano que vem é excepcional. Mesmo eu, que cuido do teto de gastos, que tenho responsabilidade fiscal, sei que o ano que vem é excepcional. Vamos ter de criar um crédito, paralelo, para cobrir essa conta. O que não pode é ter uma família passando fome no Brasil.

Vai recriar o Ministério do Planejamento? Quantas pastas pretende ter? E quem vai ser o ministro da Economia?

Primeiro, temos de ganhar a eleição, esperar o resultado das urnas. Mas óbvio que a gente já tem uma boa equipe ao nosso lado. A meu ver, é a melhor equipe econômica do Brasil. Todos estão prontos para colaborar. Estamos falando de ex-ministro, ex-ministro do Banco Central, de gente que trabalhou no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Elena Landau está coordenando esse time todo, que está de livre e espontânea vontade, por amor ao Brasil, apresentando um projeto de Brasil responsável. Segundo: é importante dizer que se a gente não fizer o dever de casa de cuidar do dinheiro público, causa um efeito contrário. Por que a comida está cara na sua mesa? Por que a população menos desfavorecida não tem arroz e feijão na mesa? É arroz ou feijão? Porque a inflação é o maior imposto que a população paga, a inflação atingiu a classe média, ela está usando cartão de crédito para ir ao supermercado parcelar comida. Isso nunca aconteceu com a classe média. A maior parte da população brasileira, endividada. Isso acontece por quê? Porque nós temos uma inflação, entre outras coisas, porque a nossa moeda está desvalorizada. Tudo no Brasil é em dólar. O prato da população brasileira é o quê? É o pãozinho de manhã e o arroz na hora do almoço. O trigo é importado. O arroz é importado. Se o dólar está alto, não tem como conter o preço da inflação.

Como mudar essa situação?

Primeiro: uma candidatura e uma eleição de centro, que possa classificar o Brasil com equilíbrio, coordenação, com diálogo. Unir o Brasil novamente e dar credibilidade à nossa candidatura vai permitir isso. Segurança jurídica, previsibilidade, responsabilidade, investimentos privados internacionais para montar isso no Brasil, porque nossa economia vai ser verde, desenvolvimento sustentável. Esse é um primeiro passo. O segundo passo é termos responsabilidade com o dinheiro público. Por isso que a gente tem de ter alguma âncora. Se não tivesse essa âncora do teto de gasto, quanto seria o orçamento secreto? Acha que seria só de R$ 16 bilhões? Já estavam falando de querer subir para R$ 30 bilhões. Eles não sobem porque não podem gastar, o teto segura. Para mim, é inconcebível falar que conhecimento é gasto. Sou professora. Não tem como você falar que dinheiro para educação é gasto. Tanto que ele está fora do teto.

O que mais deve ficar fora do teto?

Ciência, tecnologia e inovação. A ciência colocou a vacina no nosso braço. A tecnologia é o que faz a indústria ser competitiva, gerar emprego e renda para população; inovação é tudo que o Brasil não tem e tudo que temos — com a genialidade dos nossos jovens, que têm uma mente brilhante — condições de fazer, inclusive, para exportar essa inovação. Se a gente pegar o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação e tirar do teto de gasto, ao lado da educação, em 10 anos nós temos outro Brasil. Temos um Orçamento no Brasil de quase R$ 5 trilhões. São R$ 4, 8 trilhões. Disso, tirando o serviço da dívida, sobra algo em torno de R$ 1,9 trilhão — do ano passado, não deste ano. Sabe qual é o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação? R$ 10 bilhões. Em um universo de quase R$ 5 trilhões. Então, você tira isso do teto de gastos. Não corta, não vai ter corte para as universidades, para os laboratórios descobrirem medicamentos mais baratos para população. Podemos patentear, exportar também para o mundo. Tecnologia à disposição e inovação. O Brasil não cresce porque não tem mais indústria. A indústria não consegue competir com o mundo. Não conseguimos competir por duas razões: nosso trabalhador não tem produtividade. Vai ter o ensino médio técnico. Vamos prepará-lo para isso. E segundo: não conseguimos investir em inovação, como o mundo investe. Então, queremos o quê? Parceria com o governo federal. Essa parceria vai ter porque o dinheiro estará ali à disposição, para que possamos garantir ciência, tecnologia, inovação e educação de qualidade.

A senhora vai governar com o MDB todo, até o MDB que hoje apoia o ex-presidente Lula? Qual vai ser sua base do governo?

Primeiro que não vou governar com o MDB, vou governar com o Brasil. Nosso governo vai ser diferente, vai ser olho no olho, conversando com as pessoas e trazendo as demandas para dentro do Congresso. Hoje, sou candidata numa frente democrática, com MDB, PSDB, Cidadania e Podemos. Vamos governar em parceria. Você tem de trocar esse presidencialismo do toma lá, dá cá, do dinheiro, para votar num amplo presidencialismo de conciliação. É isso que estamos precisando. Inclusive, 7 de setembro está chegando, e tenho certeza de que vai ser de paz. Tenho tranquilidade que a maioria absoluta da população não quer radicalismo. Mas vamos deixar muito claro que a nossa pátria, a nossa bandeira vai voltar a ser de todos os brasileiros e que essa pátria não é a pátria do dedo no gatilho. Essa é a pátria que acolhe com os braços, que sabe acolher a todos.

Um estudo realizado pela Universidade Federal Fluminense, em parceria com órgãos que mapeiam a violência no Rio de Janeiro, aponta que mais de 57% do território carioca é controlado por grupos milicianos. Como pretende, junto ao governo do estado, combater a milícia no Rio?

Vamos recriar o Ministério Nacional da Segurança Pública. Os governos estaduais não conseguem controlar e combater o crime organizado no Brasil sozinhos, nem poderiam. Fui vice-governadora e atuei muito na pasta de segurança pública do meu estado, que é de fronteira. Grande parte das armas que chega ao Complexo da Maré, à Rocinha, ao Morro do Alemão, passa pelo meu estado, Mato Grosso do Sul. Grande parte das drogas, também. Temos pelo menos cinco eixos, não dá para tratar aqui, mas três, muito rapidamente. Primeiro, uma polícia integrada: Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar fazendo o combate na fronteira brasileira. Temos um grande projeto, que vai sair do papel, chamado Sisfron. Trabalhei muito nessa área. É um projeto que vem desde Fernando Henrique, que é um serviço de inteligência de coordenação com satélites, drones e tudo mais. É relativamente barato, por tudo que vai oferecer. Todo ano entra dinheiro nos governos, o passado e o atual vão lá e cortam o dinheiro, e o projeto não consegue ser definitivamente instalado. Então, com os comandos militares regionalizados ao lado da Polícia Federal, das seguranças públicas dos seus estados e do governo federal, temos condições de cortar o mal pela raiz. Inclusive em relação ao crime organizado, que está saindo das nossas metrópoles e indo para a Amazônia. O segundo eixo é ter um olhar diferenciado para o policial. Temos de reciclar, dar todo o suporte para ele. Tem de entender que o papel da polícia é preventivo e repressivo, sim, mas que a polícia prende, não mata. Então, dentro desse processo, é proteger o policial para que ele possa proteger a sociedade no rigor da lei, jamais extrapolar, que é uma outra questão também complicada que precisa ser abordada.

É preciso mudar a legislação?

Temos o Código de Processo Penal que está parado no Congresso, mas engatilhado. Muita coisa tem de ser revista. Até para que a gente possa separar os presos provisórios, os que já têm condenação criminal, não misturar aqueles que roubam com os que, sei lá, furtaram alguma coisa no supermercado, com o crime organizado dentro das penitenciárias. Em relação às milícias é rigor absoluto, tolerância zero. Lugar de bandido é na cadeia. A polícia tem apenas de saber proteger melhor os cidadãos, que a gente não tenha famílias inteiras chorando a morte de seus filhos porque uma bala perdida ou porque um adolescente negro de uma comunidade é vítima da violência no Brasil. Acabei de assumir um compromisso — estive agora, recentemente, na sede da Polícia Federal — de dar autonomia administrativa para a Polícia Federal ter mandato. Polícia Federal não pode passar pelo que passa hoje. Em quatro anos, o atual presidente da República mudou quatro vezes a Polícia Federal. A polícia precisa ter autonomia, porque ela sabe como fazer.

É uma dificuldade o candidato a vice-governador do Rio pelo seu partido não apoiá-la?

Não. O MDB é o maior partido do Brasil, ninguém tem, nunca teve, nem terá unanimidade. Tenho hoje a unidade do partido. Na convenção, tivemos 97%. Já mostramos a que viemos, né? Deixamos para trás sete pré-candidatos do centro democrático. Ninguém apostava na nossa candidatura. Mas eu sempre disse que não tenho medo de cara feia. Sou resiliente, tenho coragem, sei do momento, que o Brasil está precisando. Não é possível continuarmos nessa polarização. Hoje, sou candidata à Presidência da República porque entendo que somente uma candidatura da frente democrática é capaz de pacificar o Brasil, unir o país para que o Brasil volte. Essa é uma súplica da população brasileira, que volte a tocar os reais problemas do Brasil, que são fome, miséria, desigualdade social, preço da comida. A população quer emprego. Nossa obsessão é essa: emprego. O Brasil não vai gerar emprego se não crescer, e não vai crescer se não tiver segurança jurídica, estabilidade. Essa coisa do nós contra eles, essa polarização está levando realmente o Brasil para o abismo.

Com avalia a resistência dentro do MDB?

Não é só o caso do candidato a vice-governador do Rio de Janeiro. Fui a única candidatura em que houve judicialização para tentar não ter convenção. Olha o medo. Qual é o medo de uma mulher candidata pelo MDB? Acho o simbolismo muito importante. O MDB é o partido mais democrático do Brasil, é o maior. Então, ter uma mulher, neste momento, para falar o que queremos para vocês, para os nossos filhos, para os nossos companheiros, elevar o debate, para falarmos de propostas e não desse populismo, desse personalismo. Triste Brasil que tem de escolher entre escândalo de corrupção do passado, do mensalão e do petrolão; escândalos de corrupção do presente, na compra de vacina, do orçamento secreto, dos ônibus superfaturados. É menos Lula e Bolsonaro e mais Brasil. Temos 215 milhões de brasileiros. Não podemos ficar personalizando a política em dois candidatos. Temos de parar de olhar para o retrovisor, olhar para o futuro e apresentar propostas reais. Diante disso, só preciso de um caixote e um microfone, só preciso da oportunidade que a TV Brasília me dá, por meio de vocês e também da TV Tupi e rádio. Oportunidade de falar para as pessoas com o que eu sou, com a minha coragem, com a minha verdade. Sem saber tudo, mas, ao mesmo tempo, com muita vontade de servir ao Brasil.

É a favor de novas demarcações de terras? Como resolver a questão entre indígenas e ruralistas? Nas redes sociais, tem gente dizendo que há conflito entre sua família e grupos indígenas por causa de terras. Como é que essa questão e o que defende para pacificar indígenas e ruralistas?

Defendo a paz no campo, como defendo na cidade. Não é desenvolvimento ou meio ambiente. Como não é agricultura ou meio ambiente. Como não é pecuária ou meio ambiente. É uma coisa e outra. O agronegócio brasileiro é sustentável. Venho do campo, sim, e a minha área nunca teve conflito indígena. Aliás, quando fui vice-governadora, construímos mais de 10 escolas em aldeias indígenas e mais de mil casas populares, e temos a segunda maior população indígena fora da Amazônia Legal. O que defendo é a justiça. Se houver uma área considerada de povos originários, que se dê destino a ela, depois da demarcação. E indenize aquele proprietário que está há 100 anos, 120 anos com o título na mão, desde que a posse seja pacífica, desde que ele tenha, efetivamente, a escritura, tenha comprado uma área que não seja pública — fora da Amazônia Legal, estou falando do resto do Brasil. Indeniza-se o proprietário, ele sai, e os povos originários entram. Quem não quer essa solução, quer continuar com conflito, porque interessa ter pautas ideológicas. Estou falando de valores baixíssimos dentro de um orçamento. Nós mesmos tentamos, e foi aprovado por unanimidade dentro do Senado. Ajudamos no texto. Parou na Câmara. O Senado aprovou uma PEC (proposta de emenda à Constituição) dizendo isso: quando a Funai vai, quando se faz o estudo antropológico, percebe-se que, mesmo o proprietário estando lá, há 500, 400 anos atrás, aquela área era dos povos originários. E o que nós dissemos: em vez de se pagar em título, como se faz hoje, e você desocupa o agricultor familiar que tem 30 hectares, 50 hectares, que planta ali, deixando essa família ao relento, você paga em dinheiro. Essa família sai, e os povos originários voltam para as suas terras. Está aprovado no Senado por unanimidade, inclusive com o apoio da oposição. É isso. É paz no campo, é paz na cidade, é tudo o que nós precisamos.

Demarcaria, então, novas terras indígenas?

Não sou eu que demarco. Vou estimular que os órgãos cumpram o seu papel. No caso, se você está com um estudo que comprove, não há nenhum problema. Se você perguntar, inclusive, para o agronegócio, ele prefere sair de lá. O que não falta é terra no Brasil para se comprar. Se vai para outro lugar e se produz. O que a gente não pode é demonizar um setor que é tão importante para o Brasil. O único setor que está funcionando no Brasil. Eu pergunto: de onde vem o seu arroz? De onde vem o seu feijão? De onde vem a carne que você come? E se a gente tivesse que importar isso? Não comeríamos arroz, não comeríamos feijão, não comeríamos nada. A população brasileira sofreria. É importante dizer que o agronegócio é sustentável e, sim, nós temos bandidos infiltrados, temos pessoas que desmatam de forma ilegal. Tolerância zero, desmatamento ilegal zero na Amazônia. Temos grileiros de áreas públicas, que vão ocupando os espaços, vendem a madeira, ficam ali e, depois de alguns anos, vão para o Congresso e falam: “Vamos aumentar o arco, considerado legal, para depois eu ter o título da posse da Amazônia, para poder vender”. Isso é errado. Não pode acontecer. Nesse caso, é tolerância zero. Para eles, os rigores da lei. Porque isso é crime, e eles têm de ser enquadrados no código penal.

A senhora estará com embaixadores da União Europeia. Qual é a mensagem que vai levar para eles em um momento em que essa questão ambiental está tão aflorada, especialmente na Europa?

Eles têm três preocupações, e nós vamos tranquilizá-los em relação às três. Primeiro: que nós estamos em uma democracia e não abrimos mão dela. Estamos prontos. Este é um Estado democrático de direito, não só na Constituição, mas de fato. É o que a população quer e exige. Noventa e nove por cento dela está pronta para defender a democracia. Ela é estável, é segura, e ninguém vai tirar do povo o direito da liberdade, de ir e vir, de ir às urnas a cada quatro anos, escolher aquele que vai comandar os destinos de sua vida. E temos uma imprensa livre, vamos defendê-la. Segundo: eles querem ter certeza de que teremos um desenvolvimento econômico sustentável. Nosso programa é de desmatamento ilegal zero. Vamos fazer do Brasil um exemplo para um mundo. Diremos que já temos energia renovável. A nossa energia é verde, tem condições de ficar ainda mais verde. A nossa energia produzida é limpa. Vamos mostrar isso e mostrar, inclusive, que vamos devolver para o Amazonas os órgãos de fiscalização e controle para proteger a Amazônia. Com isso, vamos fazer dinheiro. O dinheiro que está faltando para fazer obras, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos — gerando, com isso, milhões de empregos diretos e indiretos — vai vir de fora. E quando eles perceberem que estamos prontos para vender crédito de carbono, oxigênio que nós produzimos. Vamos fazer com que o Brasil não só produza duas safras anuais, muitas vezes a soja e o milho, mas temos uma terceira safra, que é floresta em pé, vendendo o que o mundo precisa, que é o oxigênio. Com isso, vamos fazer investimentos em dólar. E o terceiro: eles querem saber como é que fica a questão da política comercial. Vamos mostrar que um dos ministros mais importantes do nosso governo vai ser o das Relações Exteriores. E vai fazer essa ponte com o mundo. Nós, hoje, lamentavelmente, viramos as costas para o mundo. Precisamos cuidar e proteger, em um amplo acordo de cooperação com os irmãos vizinhos do Mercosul, com um olhar especial para o mercado europeu, inclusive fazendo essa ponte do Mercosul com o Mercado Comum Europeu. Temos condições de promover trocas que farão não só com que o Brasil exporte mais, mas também importe. E importe mais barato, diminuindo gradativamente o imposto de importação de determinados produtos, para que cheguem esses produtos mais baratos a quem mais precisa.

De onde tirar dinheiro para a rede de proteção que a senhora deseja criar na Amazônia?

Nesse caso específico, a estrutura está ali. Simplesmente, o atual presidente mandou tirar a gasolina da kombi, da caminhonete. Vamos colocar toda a estrutura, inclusive o próprio INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que foi desmantelado, toda a estrutura de apoio de volta para a Amazônia. Não estamos falando de despesas extras, falamos de devolver os órgãos de fiscalização e controle para dentro da Amazônia. No mais, no processo paralelo, o Sisfron, temos condições de fazer com que as próprias Forças Armadas, a própria Polícia Militar da região, a Polícia Civil e a Federal estejam nessa rede de proteção também.

O que fará para acabar com o apoio político em troca de favores e cargos públicos?

São duas coisas que precisam ser pontuadas. Primeiro: se unindo aos bons. Há um equívoco ao se dizer que a maioria do Congresso não é correta, não serve à população. É estando ao lado, não só dos partidos que têm o mesmo propósito que o nosso, e dividindo os espaços, que são duas coisas distintas. É trazendo para o nosso lado, dentro do ministério, as pessoas boas dos partidos que nos apoiam e que estão conosco. Esse é um ponto. O segundo ponto é ser honesto. Se você for honesto, apresentar boas propostas, tem condições de governar sem o toma lá, dá cá. O toma lá, dá cá começou lá no governo passado, com o mensalão. Era a mesada para comprar consciências. Foi descoberto esse escândalo, e virou petrolão. Quebraram a Petrobras — inclusive, com parte do meu partido, e sempre condenei isso — para poder permanecer no poder. E por quê? Porque, uma vez envolvido em escândalo, o candidato a presidente da República eleito fica refém do Congresso. Como não ficar refém do Congresso? Sendo honesto, não roubando, não deixando roubar, porque aí não tem impeachment, não tem aquela denúncia: “Vou entrar com um processo de impeachment se você não me der isso”.

Saiba Mais

Mas é preciso ter a maioria do Congresso, não?

Por isso que eu disse: não só sendo honesto como tendo boas propostas. O primeiro passo: nós vamos ter de dar a “vacina econômica” no braço do Brasil. A vacina econômica se chama reforma tributária. Ela está pronta para votar na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), só não tem vontade política. Simplifica os impostos, dá rapidez para as indústrias, economiza. Inclusive, o setor empresarial vai economizar. Com isso, ele vai ser mais competitivo para o mercado nacional e vai gerar emprego e renda. Isso aquece a economia e diminui imposto do pobre. Não é justo o pobre pagar o mesmo preço do arroz e do feijão na cesta básica que eu pago. Ali tem muito imposto. Esse imposto, de quem é pobre e está no Auxílio Brasil, tem de ser devolvido nesse cartãozinho para esse cidadão. E isso não é ideia minha, não é fantasia nem promessa de candidato. É o que está pronto para ser votado no Senado. Pela primeira vez, tem a unanimidade dos governadores, porque sempre que se falava em reforma tributária, não se aprovava por conta dos governadores. Sei que é um tema chato. O que a reforma tributária tem a ver com a minha vida? Tudo. Você quer comer mais barato, quer ter mais emprego no Brasil, fazer o Brasil voltar a crescer, melhorar o salário e a renda, precisamos da reforma tributária. Ela é neutra, não cria impostos, simplifica impostos, faz a máquina da economia brasileira girar mais rápido. Dá o que hoje a indústria precisa para voltar a crescer, que é o fato de ela poder economizar na burocracia e jogar esse dinheiro em ciência, tecnologia, contratação e abertura de portas, para que a gente volte a gerar emprego e renda para a população.

Qual é a sua proposta de governo e política pública de assistência social?

Além da transferência de renda permanente, com o auxílio — mas com condicionantes, como criança vacinada e na escola —, vamos ter assistente social e agente comunitário olhando se não está tendo caso de pedofilia, se não está tendo caso de abuso sexual, se a mulher não está apanhando. E vendo de que forma a gente pode dar autonomia para essa família. A mulher sendo qualificada, entrando no mercado de trabalho, entrando no banco da escola. Além disso, acho que é o maior projeto social que nós podemos fazer nos nossos jovens e para as nossas crianças: garantir educação de qualidade. Não vou sossegar, como professora, enquanto o filho do pobre não tiver a mesma qualidade de ensino do filho do rico. Essa é a única coisa que vai tornar este Brasil verdadeiramente de todos. Paralelo a isso, como assistência social é algo feito pelos municípios, a União vai ser parceira dos municípios nas políticas públicas sociais.

Quais são as propostas para a saúde?

Temos dois problemas. A saúde, lamentavelmente, está subfinanciada. A União já mandou dinheiro para os estados e municípios em percentual muito maior do que hoje. Então, o primeiro passo é repor isso. A União tem de entrar com 50%. Hoje, entra com 40%, 42%. Mas temos uma demanda ainda mais grave. A pandemia nos deixou dois anos com os hospitais só atendendo os casos de covid-19, porque não podia misturar, é claro. Nosso compromisso é zerar as filas em dois anos. Decretar, para efeitos de saúde, uma calamidade. O município e o estado cumprirem exames, consultas e cirurgias atrasadas pela pandemia, e nós vamos depositando dinheiro para, em dois anos, zerar essas filas. E pagando à medida em que eles forem executando os serviços atrasados. Não podemos perder uma vida porque não fez uma mamografia, não fez um exame de próstata, porque sobrou argumento que não tem dinheiro. Dinheiro tem. Ele só está sendo mal aplicado e indo para o desvão da corrupção. E o segundo é, nos quatro anos, melhorar a tabela do SUS. Aumentar em 25% o valor da tabela por ano, para que os hospitais filantrópicos e as Santas Casas possam abrir mais portas para as famílias. Tive uma informação muito triste recentemente, quando fui ao hospital do amor, do Hospital do Câncer de Barretos, onde o Henrique me falou o seguinte: “Simone, 25% do pobre no Brasil morre sem precisar morrer, prematuramente, por conta do câncer, porque não conseguimos atender mais gente, porque a tabela do SUS está parada. Há 20 anos que não se atualiza, ou seja, se vocês pagarem um pouquinho melhor para nós, temos condições de abriram essas portas para todos os exames preventivos de câncer no Brasil”. Imagine, 25% pobre morrem prematuramente de câncer porque, simplesmente, os hospitais filantrópicos não conseguem atender à demanda, porque não têm dinheiro. Então, temos que fazer um sacrifício. Tirar de despesas supérfluas e colocar nos hospitais filantrópicos e nas Santas Casas para beneficiar a população. E um último dado importante: 60% da população brasileira mora em locais que não têm hospitais públicos, que dependem da filantropia das Santas Casas. Quero aqui homenageá-las, porque fazem, com menos dinheiro e com muito amor, um serviço fundamental para o Brasil.

Como acabar de vez com a situação de pessoas que moram nos puxadinhos? As favelas com esgoto a céu aberto?

Lamentavelmente, este governo cortou 98%, ele zerou o orçamento para construir casas para quem ganha um salário mínimo e meio. Olha a quantidade de casas que nós vamos ter de fazer. No nosso programa, vamos construir 250 mil casas por ano para quem ganha até um salário mínimo e meio. Mas não é só isso. Vamos procurar as melhores práticas. Aluguel social, pegando espaços públicos, casas, muitas vezes de pessoas que não pagaram seus impostos e que já a perderam, para que a gente possa colocar famílias inteiras, fazer o tal do mutirão. Fui a prefeita que mais construiu casas na minha cidade. Depois, fui superada — que bom — pelos gestores posteriormente. Sei que há várias formas de fazer casa. Estive recentemente em um dos quatro estados mais ricos do Brasil, o Pará. Em matéria de riqueza, mas com uma das populações mais pobres. Lá, quase 50% das casas são consideradas puxadinhos, ou seja, são consideradas subnormais. É possível, com vontade, garantir isso, mas com uma condição: no meu governo, a chave da casa própria vai, realmente, para a mão das mulheres que mais precisam. É preciso fazer um corte aí, especialmente para a mulher monoparental, ou seja, para a família monoparental, seja homem ou seja mulher. Aquela onde não tem o suporte do homem ou o companheiro que não tem o suporte de uma mulher, ou seja, em uma situação cheia de filhos.

Como vai lidar com a violência política que ocorre contra as mulheres?

Lido com isso há 20 anos. Desde o primeiro dia do meu mandato, já sofria violência política, e falo que isso me fortaleceu. Na primeira vez, fui chorar no banheiro. Foi algo que eu não consegui lidar. Não estava preparada para lidar com esse tipo de violência, porque é uma violência que dói, machuca, não precisa ser física, mas a forma como ela vem, o gesto, a fala, no que ele agride, naquilo que atingem mais a mulher. Atinge a família, atinge a nossa condição de ser. A segunda vez, fui para uma reação que não deu muito certo. Falei: da terceira vez não passa. E tive o privilégio de ser, dentro desse sete anos, a primeira líder da bancada feminina. A gente mexeu na legislação para punir realmente aquele que comete, nas redes sociais, ou no mundo real, a violência política no Brasil. A violência contra a mulher na política é muito séria, afasta as mulheres de bem, as competentes, porque elas não querem se envolver. A quantidade de fake news que a mulher sofre na política é infinitamente maior do que a quantidade de fake news que atinge os homens. E, normalmente, não é só na nossa atividade, é aquilo que estamos fazendo, em relação à nossa família, aos nossos companheiros e aos nossos filhos. Ameaças físicas, inclusive, e, lamentavelmente, temos um presidente que dá mau exemplo. É um presidente misógino, um presidente que agride as mulheres, que não respeita as mulheres, que estimula esse ambiente de ódio, dando um péssimo exemplo a esta geração. Que bom que essa geração mais nova de meninos está vindo muito diferente. Essas meninas e esses meninos que estão vindo aí, na faixa dos 30 anos para baixo, estão vindo com uma outra mentalidade. Tenho muita expectativa de que isso, em um curto espaço de tempo, mude no Brasil.

Qual é a política para as universidades públicas e como tratará a primeira infância?

Nós dobramos os recursos do Fundeb, então, temos dinheiro, e ele está fora do teto. É justamente para isso. Vamos cumprir o Plano Nacional de Educação. Vamos zerar a fila. Faltam 300 mil vagas para a faixa de 4, 5 anos, que é uma parte da primeira infância. Todos eles têm de estar na escola com recurso federal e aí, nesse caso específico, dá para misturar, ou seja, é possível contratar vagas em creches privadas nos municípios que não têm vagas. Vamos terminar as creches inacabadas no Brasil, tem mais de duas mil escolas e creches inacabadas no Brasil. Enquanto isso, a gente não pode deixar criança fora da escola. Temos de contratar vagas com participação do Ministério Público, com transparência, colocando recursos para o município fazer. No que se refere à primeira infância, sem dúvida nenhuma é prioridade absoluta.

E em relação ao ensino médio?

Estamos criando a Poupança Jovem. As pessoas não entenderam muito como é. Saiu um monte de meme, de historinha em relação a isso. Da mesma forma que nós pagamos lá atrás — na época de Fernando Henrique, pagamos para as famílias colocarem as crianças na escola, o chamado Bolsa Escola —, vamos pagar para ter os nossos jovens de volta ao ensino médio. Trinta e sete por cento do nosso jovem estão fora do ensino médio. Já aprovamos a nova reforma do ensino médio técnico, que dá autonomia para o aluno. Ele tem de estudar português e matemática, tem de ter disciplinas que são obrigatórias, mas depois escolhe o que quer fazer. 'Ah, é responsabilidade do estado'. É, mas a União está na lei já. A União vai pagar R$ 2 mil por aluno, por escola, para que ele implante a reforma do ensino médio técnico, ou seja, curso no período integral, preservando o jovem que trabalha, para que ele tenha duas portas de saída: ou vai para a universidade ou vai para um curso técnico profissionalizante. E aí vem a poupança jovem. Não adianta a gente dar dinheiro. O estado faz essa escola em período integral, chama o aluno, e o aluno não quer sentar na cadeira. Por quê? Somos uma escola do século 19, com um aluno do século 21. Então, temos de ter a internet, a conectividade. Com o leilão do 5G, isso é possível. Vamos pagar para o aluno depositar todo o ano desde o ensino fundamental. Quando ele terminar o 3º ano, pode levantar esse dinheiro, que dá, em média, R$ 5 mil para que ele faça o que quiser. Vamos pagar para o aluno não desistir da escola.

De onde vão sair esses R$ 5 mil?

A gente tem um número limitado de alunos que se formam. Então, como é um depósito que vai fazendo, o gasto do poder público vai crescendo ao longo dos oito anos. Ele começa menor o ano que vem e vai crescendo ao longo dos oito anos. O Orçamento é de quase R$ 5 trilhões, e estamos falando aí, no primeiro momento, de R$ 3 bilhões, R$ 4 bilhões. A gente está fazendo essa conta, o que não é nada em um país de orçamento secreto de R$ 16 bilhões, de um cartão corporativo que o presidente da República tem e não se sabe o quanto gasta. Em uma viagem, gasta R$ 300 mil, outro já gasta R$ 500 mil. Estou falando em valores que nem nós conhecemos, porque o cartão corporativo é sigiloso. O nosso governo vai ser transparência absoluta. Educação não é custo, é investimento. É a única coisa para a qual não pode e não vai faltar dinheiro. Quando aprovamos o novo Fundeb, em 2020, a União só colocava 10% do Fundeb. Agora, será de 23% daqui a dois anos, já está em 16% neste ano. Está dobrando o recurso do Fundeb. O dinheiro vai para a valorização dos professores, para as escolas. Com isso, sobra recurso de outro lado, para o Ministério da Educação bancar as universidades públicas. Sou professora universitária e dei aula por 12 anos. Acho que, agora, a gente precisa enfrentar um grande problema. Precisamos rever o conteúdo dos nossos professores. Se nós não tivermos um professor preparado, com o que ensinar e como ensinar esse aluno, a escola não vale nada. Então é reformar obras de infraestrutura, garantir aluno na escola, internet, e tudo mais, e ter professores preparados. Eles precisam ser valorizados. Não é o que ensinar, mas como ensinar e empoderar esse professor. A partir do momento em que a gente honra essa grande profissão de professor, os nossos alunos também vão respeitar o professor em sala de aula.

Quais são suas expectativas para o 7 de Setembro?

O Brasil é um país de paz. Como tal, tenho certeza de que ocorrerá um 7 de Setembro com muitas comemorações, falando do bicentenário da nossa Independência. Mas lembrar que a independência do Brasil ainda não foi alcançada. Enquanto tiver uma criança dormindo com fome, não temos independência no Brasil. Enquanto nós tivermos trabalhadores, em forma de súplica, pedindo um prato de comida, em vez de estar com as mãos calejadas do trabalho, não teremos independência no Brasil. É erradicar a miséria, combater a pobreza e diminuir a desigualdade social. Essa é a nossa prioridade absoluta. Dar dignidade e cidadania. Eu termino aqui citando Ulysses Guimarães. Ele tem uma frase que, para mim, é uma das mais belas. Quando lhe perguntaram o que é cidadania, ele explicou que o cidadão é aquele que sabe o ABC, aquele que mora, que tem emprego e renda e tem lazer nos fins de semana. É isso que nós queremos para o povo brasileiro, e é possível. Um Brasil tão rico tem condições de dar dignidade e cidadania para o seu povo.

*Estagiários sob a supervisão de Cida Barbosa