O senador José Antônio Reguffe (sem partido-DF) montou uma empresa de comunicação e está faturando na campanha eleitoral. No prazo final para registro de candidaturas, em 15 de agosto, ele criou a RF Consultoria Política e Comunicação, tendo como sócia-administradora a mãe, Silvia Helena Machado Reguffe. O parlamentar — eleito em 2014 com mais de 800 mil votos e no exercício do mandato até janeiro de 2023 — figura como sócio.
Na corrida eleitoral deste ano, a consultoria de Antônio Reguffe tem dois clientes no Distrito Federal: a candidata à Câmara dos Deputados Samantha Meyer (PP), de quem a empresa recebeu R$ 500 mil, registrados na Justiça Eleitoral; e Joe Valle (PDT), que concorre ao Senado. Da campanha de Joe Valle, a RF recebeu R$ 200 mil.
Reguffe se envolveu diretamente nas duas campanhas. No horário eleitoral transmitido pela tevê e na internet, anunciou apoio aos dois políticos. No caso de Samantha Meyer, afirma que defende a candidatura dela porque há um compromisso com o chamado "protocolo Reguffe": abrir mão de todos os privilégios parlamentares, como verba indenizatória e aposentadoria parlamentar; votar contra aumento de impostos; destinar recursos de emendas ao Orçamento para construção de creches e reforma de hospitais públicos.
Desde o começo da campanha, Samantha, que é novata na política, e seu marido, Fernando Marques, que já concorreu como candidato ao Senado, têm apostado na reputação de Reguffe para angariar votos. O senador e agora consultor se tornou cabo eleitoral. Aparece nas redes sociais ao lado da candidata e no horário eleitoral, com o slogan "Juntos pelo Distrito Federal". Ao se dirigir a Reguffe, Samantha o chama de "senador".
Em relação a Joe Valle, Reguffe afirma: "Conheço Joe Valle há muito tempo. É sério, preparado e tenho certeza de que vai representar o DF no Senado com a dignidade que o cargo público precisa para ser exercido". O candidato, por sua vez, assegura: "O Reguffe sempre foi minha referência na política, pela coerência e pelo exemplo. Eu quero continuar fazendo esse trabalho no Senado".
"Nada errado"
Procurado pelo Correio, Reguffe apresenta suas explicações. "Primeiro me tiraram da política, me impediram de ser candidato. Depois querem me impedir de trabalhar? A legislação me permite trabalhar", alega. "Quando eu perdi a possibilidade de ser candidato, no dia 5 de agosto, pensei o que ia fazer da minha vida. E no dia 15 de agosto, 10 dias depois, resolvi abrir essa empresa. Como não posso ser sócio-administrador, coloquei minha mãe. Posso trabalhar normalmente, fora do meu horário no Senado. Tanto que não perdi nenhuma sessão no Senado."
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No novo emprego, o consultor Reguffe diz que elabora o "conceito" das campanhas e o planejamento estratégico. "Fiz todo o marketing da campanha", ressalta. Em relação aos valores pagos, afirma que os R$ 500 mil provenientes da campanha de Samantha Meyer vieram da conta de "doações privadas". O repasse da campanha de Joe Valle, na quantia de R$ 200 mil, veio do Fundo Eleitoral. "Não tem nada errado. Ele tem de contratar uma empresa de consultoria política, e resolveu me contratar", diz.
Paralelamente ao trabalho de marketing político, Reguffe empresta sua imagem pública aos candidatos. Esse gesto, segundo ele, não está previsto na sua atuação como consultor. "Meu apoio a eles se dá porque adotaram o protocolo Reguffe. Não tem, no meu trabalho, a obrigação de ter de apoiar. Eu apoiei porque eu quis", esclarece.
"O apoio não tem no contrato. Não sou obrigado a gravar vídeo, a pedir voto. Decidi fazer porque eles adotaram todo o protocolo Reguffe. Aí, eu me sinto também à vontade para apoiá-los. Assim como estou fazendo para outros candidatos a distrital, que também adotaram o protocolo Reguffe, e não estou recebendo nada por isso."
Reguffe afirma exercer diferentes papéis nesta campanha eleitoral. "Quem faz o trabalho de planejamento estratégico é a empresa. Quem pede voto é o cidadão Reguffe. E o cidadão Reguffe pede voto baseado nos compromissos de abrir mão dos privilégios parlamentares. São coisas que eu fiz. Estou saindo da política sem ter direito à aposentadoria parlamentar. Sem ter direito ao plano de saúde vitalício dos senadores", argumenta.
O parlamentar pretende continuar com as atividades de consultor quando encerrar o mandato. "Montei a empresa para isso. Pretendo fazer isso da minha vida, dando assessoria na área de comunicação. Sou jornalista por formação." Em relação à vida pública, diz que "a partir do momento que não sou candidato, não vou ter mandato, minha vida pública está encerrada". "Pode ser que daqui a quatro anos eu volte, mas não é obrigação", frisa. "Eu vou deixar o mandato, vou ficar sem trabalhar?"
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