A eleição presidencial deste ano está temperada por um componente que aprofunda a polarização verificada nas pesquisas de intenção de votos: crimes provocados por divergências políticas. O primeiro ataque envolvendo petistas e bolsonaristas foi em julho, quando o agente penitenciário federal Jorge Guaranho invadiu a festa de aniversário do dirigente do PT em Foz do Iguaçu (PR), Marcelo Arruda, e o assassinou a tiros. De lá para cá, vários registros tem sido feitos e noticiados.
No último final de semana foram pelo menos três. Em Angra dos Reis (RJ), foi a agressão contra a militante de esquerda Estefane de Oliveira Laudano, de 19 anos, pelo bolsonarista Robson Dekkers Alvino, de 52. Mas o ataque a Hildor Henker, em Rio do Sul (SC), por um petista e a facada recebida por Antônio Carlos Silva de Lima, de 39, em Cascavel (CE) por um bolsonarista somente vieram à tona ontem pela imprensa.
O ataque contra Hildor ocorreu por volta das 16h30 e, segundo testemunhas, deu-se por razões políticas. Ele e outra pessoa bebiam juntos quando se desentenderam. Já fora do bar em que estavam, o autor do crime atingiu o rosto da vítima com um tapa e o golpeou com uma faca. O caso é investigado pela Polícia Civil catarinense, que não divulgou a identidade do autor do crime — seria um homem de 58 anos com passagens na polícia por lesão corporal e injúria.
Na cidade cearense de Cascavel, Antônio Carlos Silva de Lima foi assassinado também a facadas por anunciar que votaria no presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. O homem que desferiu os golpes, Edmilson Freire da Silva, 59, já está preso preventivamente.
Segundo testemunhas, o suspeito teria chegado ao local gritando: "Quem é eleitor do Lula aqui?". Antônio teria dito: "Eu sou!". A partir daí, os dois começaram uma discussão. Quem presenciou afirma que os nomes do petista e do presidente Jair Bolsonaro (PT) foram ouvidos no bate-boca, até Edmilson atingir o outro nas costelas.
Atentado
No último domingo, o deputado federal Paulo Guedes (PT-MG), que faz campanha pela reeleição, foi alvo de um atentado à bala. Ele discursava em um trio elétrico em Montes Claros (MG) e foi alvo de três tiros. O autor dos disparos seria o policial militar Dhiego Souto de Jesus, 30, que estava à paisana, mas ninguém foi atingido.
O entrevero começou quando supostamente Dhiego passou perto do comício e uma mulher que o acompanhava gritou o nome de Bolsonaro. O carro em que estava teria sido cercado e o PM afirmou em depoimento que atirou para se proteger.
Guedes denunciou o caso pelo Twitter e anunciou ter acionado a Polícia Federal por se tratar de um crime eleitoral. Dhiego foi preso pela PM.
Também no domingo, a PM paulista tentou prender o chefe do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto Guilherme Boulos — em campanha para se eleger deputado federal pelo PSol — depois que integrantes do Movimento Brasil Livre acusaram o candidato de agredir um adolescente de 15 anos que o provocou. Foi durante uma caminhada na Avenida Paulista.
Boulos acusou os militantes do MBL de usarem o menor para provocar a equipe dele e depois o acusaram falsamente. O jovem ainda foi agredido por militantes do PSol, como mostram vídeos que circulam nas redes sociais.
Uma equipe da PM foi chamada e o tenente Waldson Ferreira de Moura Junior tentou levar Boulos preso. O candidato argumentou e outras pessoas impediram e, no fim da discussão, foi liberado. O policial, porém, foi apontado como apoiador de Bolsonaro, conforme registram suas redes sociais, e acusado de tentar efetuar uma prisão apenas baseado nas convicções políticas pessoais.
Em Brasília, o clima eleitoral também se mostra tenso. Por volta das 19h de domingo, uma mulher que usava uma bolsa estampada com o rosto de Lula foi agredida próximo da 710 norte. A vítima, que preferiu não se identificar, disse que estava voltando a pé empurrando sua bicicleta, depois de um evento realizado no Eixão, quando um homem a derrubou e começou a chutá-la.
"Ele chegou por trás, me puxou, mas não teve provocação. Se ele quisesse roubar, ele roubava, porque a bicicleta ficou no chão. O propósito foi me jogar no chão e ficar me chutando", relatou a vítima ao Correio, que disse que não costuma usar acessórios com estampas políticas por medo de agressões.
Ela disse que tentou fazer, ontem, um boletim de ocorrência, mas o sistema de duas delegacias que procurou estava fora do ar.
Tragédias em série
O primeiro registro de um assassinato causado por intolerância política foi em 9 de julho deste ano, quando Jorge Guaranho matou a tiros o tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda. Bolsonarista, o agente penitenciário federal soube de uma festa de aniversário com o tema Lula e o PT, realizada em um clube do qual era sócio, na cidade paranaense.
Guaranho foi até lá e provocou Arruda e seus convidados. Foi hostilizado, saiu e, ao voltar armado, cometeu o crime depois de uma troca de tiros com o petista. O policial está preso preventivamente no Complexo Médico Penal (CMP) em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, desde 13 de agosto.
A violência continuou escalando quando, em 9 de setembro, um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) matou a facadas um apoiador do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva depois de uma briga por divergência política. Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos, assassinou o colega de trabalho Benedito dos Santos com 15 facadas e um golpe de machado. O crime ocorreu na zona rural do município de Confresa, no Mato Grosso.
Mas nem mesmo os presidenciáveis têm passado incólumes a violência provocada por divergência política. No último dia 10, o candidato do PDT Ciro Gomes foi atacado por um apoiador de Bolsonaro durante compromissos de campanha, no Rio Grande do Sul. A Polícia Federal precisou agir para evitar uma agressão mais grave. O homem afirmou estar armado, mas a informação não foi confirmada.
Na motociata de 31 de agosto, em Campinas (SP), Bolsonaro foi alvo de ataque de um manifestante. Imagens mostram um homem realizando movimento de arremessar algo no presidente. As imagens, porém, não deixam claro se, de fato, algum objeto foi jogado.
Jornalistas também viraram alvo da intolerância. O caso de maior repercussão até agora foi a agressão do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) contra a jornalista Vera Magalhães, nos bastidores do debate dos presidenciáveis na TV Cultura.
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