Na reta final para o primeiro turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL), tenta aumentar a rejeição ao opositor político e líder nas pesquisas de opinião, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em outra ponta, mesmo que em palcos internacionais, a exemplo da Assembleia da ONU, o chefe do Executivo fez acenos diretos a sua base eleitoral interna e tem prosseguido com a mesma estratégia em relação a questionar o sistema eleitoral. Especialistas avaliam que Bolsonaro erra em focar o eleitor raiz, já devoto. Ao contrário, deveria se concentrar em atrair novos eleitores e tirar voto de adversários, maneirando o tom bélico utilizado nos últimos dias contra as urnas e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ontem, em tom de ameaça, Bolsonaro voltou a falar em botar um "ponto final" em “abusos de outro Poder”, em referência a Corte. A declaração ocorreu durante comício em Divinópolis, Minas Gerais. O estado é o segundo maior colégio eleitoral, com 10,41% do total de eleitores do país, e tem histórico decisivo nas eleições. A visita faz parte da ofensiva final das eleições.
No último dia 22, o chefe do Executivo voltou a fazer ataques às urnas e falar em voto impresso, o que preocupa membros menos radicais do QG bolsonarista que acredita que com essa ação Bolsonaro afaste ainda mais eleitores indecisos.
Na ocasião, o presidente disse que as Forças Armadas pretendem colocar militares para fiscalizar a ‘sala cofre’ do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no próximo dia 2 de outubro. Em tom de ironia, o chefe do Executivo relatou tratar de "uma sala que ninguém sabe o que acontece lá dentro" e disse que apenas o voto impresso, projeto já derrubado pelo Congresso, seria capaz de “zerar a chance de desvio e corrupção”. Em 25 anos de existência, a urna eletrônica nunca registrou fraude.
De forma errônea, Bolsonaro costuma chamar a sala cofre de "sala secreta". No entanto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já esclareceu que é falsa a afirmação. O local ao qual ele se refere é a Seção de Totalização, onde cerca de 20 funcionários fiscalizam o funcionamento dos programas durante as eleições, e, em caso de falha técnica, fazem os devidos ajustes.
Em outro afago a seu eleitorado, Bolsonaro segue criticando ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), os quais caracterizou que "atrapalham e muito" a gestão dele e, consequentemente, "o destino da nação". E emendou que, após as eleições, sendo reeleito, "o Brasil vai voltar à normalidade porque esses abusos vão deixar de existir".
O professor de Marketing Político da ESPM, Marcelo Vitorino, observou que a eleição segue polarizada ao máximo, com eleitores distribuídos em duas ideologias, a conservadora e a social democrata. Logo, o caminho mais seguro para um crescimento de Bolsonaro seria acenar ao eleitor menos ideológico, com posicionamento mais ponderado e sem tantas falas bélicas.
Ele destacou que a economia impacta diretamente o eleitor, que ainda sente no bolso o encarecimento de itens alimentícios.
“O eleitor mais agressivo do presidente não tem outra escolha dentre as opções. Mesmo com o tom mais moderado, não o abandonará para votar em seu adversário. Em relação ao foco, a economia deveria ser priorizada. A inflação impacta todas as camadas da população, mas atinge com mais força a população com menor poder aquisitivo. A gasolina baixou, mas os alimentos e outros itens de consumo continuam com preços elevados”, apontou.
O cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, analisou que Bolsonaro não conseguirá diminuir a rejeição, seja qual tática adotar. “Se fosse assim, ele já o teria feito por conta dos benefícios sociais, o preço do combustível, a participação da primeira-dama Michelle na campanha. Mas nada deu certo até o momento. Ele seguirá aumentando o tom contra Lula, tentando aumentar a rejeição dele”, completou.
Diante dos últimos levantamentos que mostram índices altos de rejeição ao presidente e na ofensiva de Lula sobre o voto útil, Bolsonaro se mostrará acuado e mais agressivo, apontou.
“Nas últimas pesquisas, Bolsonaro tem rejeição ultrapassando 50%, o que costuma ser impeditivo para que alguém seja reeleito. Essa questão de matematicamente Lula poder ganhar no primeiro turno e esse movimento de voto útil se intensificando, deixará Bolsonaro acuado e mais agressivo. Esses últimos dias serão intensos. Ciro Nogueira disse que a partir de 7 de setembro o presidente estaria à frente de Lula, mas não é o que estamos vendo. O sinal de pesquisas internas do partido já colocam numa situação difícil a reeleição”, explicou.
A advogada constitucionalista Vera Chemin, mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), observou que Bolsonaro precisará de um grande esforço para tentar diminuir a rejeição, especialmente frente ao eleitorado feminino.
“O presidente deve aproveitar os últimos dias para demonstrar mais sensibilidade e humildade quanto às possíveis falhas do seu governo, procurando convencer o eleitorado, de que se tiver outra oportunidade, irá implementar medidas mais eficazes para melhorar a economia e por consequência, a vida das pessoas de renda mais baixa. Contudo, a grande maioria do eleitorado já está convicta do destino do seu voto. A menos que ocorra um “fato novo” com forte potencial para mudar o atual cenário eleitoral, o que se espera é a continuidade do pleito eleitoral em um segundo turno. Mesmo assim, não se descarta uma decisão imediata, seja para Bolsonaro, seja para Lula, a depender, respectivamente, do voto envergonhado e do voto útil para Lula”.
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