A oito dias das eleições, os dois principais candidatos à Presidência, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), jogam os últimos lances para a semana final antes do primeiro turno de votação, em 2 de outubro. Mas, se na campanha petista a recomendação é de calçar as "sandálias da humildade" e evitar a euforia da cada vez maior possibilidade de vitória no primeiro turno, na do presidente acendeu a luz de emergência.
O comitê de campanha tenta uma correção de rumo por causa das seguidas diminuições no percentual de votos apontado pelas pesquisa de opinião. A mais recente, do Datafolha, divulgada na última quinta-feira, mostrou que Bolsonaro está parado com 33% — Lula foi a 47%.
Fontes da campanha do presidente concluíram que, ao ser impedida a utilização, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das imagens do 7 de Setembro e do discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, frustraram-se os ganhos políticos que eram esperados. Assim, o investimento, agora, passa a ser nas viagens aos maiores colégios eleitorais, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e ao Nordeste, na tentativa de aumentar o desgaste da imagem de Lula.
Bolsonaro também continuará batendo firme na corrupção durante os governos do PT e enfatizará que o ex-presidente esteve preso por causa disso. O primeiro passo dessa estratégia será dado, hoje, no debate entre os postulantes ao Palácio do Planalto, no SBT, do qual o presidente participará, mas o petista, não.
Ainda assim, atacar Lula e o PT com todas as forças pode não dar tração suficiente a Bolsonaro. Integrantes da campanha lamentam que ele não tem conseguido atrair novos eleitores por pregar apenas para sua base fiel. Além disso, já detectaram que voltar a atacar as urnas eletrônicas e ressuscitar a necessidade do voto impresso — como defendem alguns dos seus principais auxiliares — nada agrega ao presidente numericamente. Ao contrário: membros menos radicais do QG bolsonarista acreditam que isso só afasta os indecisos, além de não tirar um único voto dos adversários.
Para reforçar o apoio a aliados locais — e fazer com que alguns dos mais bem colocados consigam lhe devolver em votos esse atrelamento —, Bolsonaro tem feito, diariamente, lives pelas redes sociais. Mas até mesmo esta estratégia apresenta problemas, pois integrantes do governo avaliam que colar à imagem do presidente pode trazer prejuízos nesta reta final.
Para piorar, emergem sinais de dentro do bunker bolsonarista de que a derrota está muito próxima. Como o que passou o coordenador da campanha e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que na última quinta-feira anunciou que entraria em férias para colaborar na eleição da ex-mulher, Iracema Portela, a vice-governadora do Piauí. A iniciativa repercutiu pessimamente entre os apoiadores do presidente e dentro do governo, e ele voltou atrás horas depois.
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Estrelas da música
Já a campanha de Lula amarra as pontas soltas para a semana decisiva. Mirando nos votos úteis, nos indecisos e tentando reduzir a abstenção, na segunda-feira ocorre o "último grande ato" do petista em São Paulo, com direito a tapete vermelho para artistas. O comício terá participações presenciais e à distância, com nomes como Anitta, Caetano Veloso — que anunciou voto no petista, abandonando o presidenciável Ciro Gomes (PDT) —, Ludmilla e Chico Buarque.
O objetivo do evento é dar uma demonstração de força e de apoio entre diferentes segmentos — a chamada "frente ampla" que Lula vem tentando costurar desde a pré-campanha. Na última segunda, ele conseguiu reunir em uma mesma mesa ex-presidenciáveis de espectros antagônicos, como Luciana Genro (PSol), Marina Silva (Rede) e o economista Henrique Meirelles (União). O petista ainda somou ao seu leque de apoios a nota do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendando o voto em candidatos comprometidos com a defesa do Estado Democrático de Direito, com as igualdades e com a defesa do meio ambiente — tudo que Bolsonaro tem se mostrado contrário.
Entre os estrategistas da chapa, o maior alvo no momento é a vitória no primeiro turno. As pesquisas divulgadas nesta semana, como a Datafolha de quinta, mostraram um crescimento do petista e uma chance concreta para liquidar a disputa. Segundo o instituto, o ex-presidente subiu de 45% para 47% das intenções de voto, atingindo ainda 50% dos votos válidos. "Devemos estimular a campanha do Voto por Democracia, Voto Pelo Brasil, para a vitória no primeiro turno!", disse ao Correio o ex-governador do Piauí e coordenador da campanha de Lula, Wellington Dias, sobre a reta final.
Em paralelo ao "showmício" da segunda-feira, o PT mobilizou sua militância, em reunião na última quinta-feira, para realizar "mobilização máxima nas ruas" hoje e amanhã. A orientação da sigla é a realização de "caminhadas, carreatas, bandeiraços e adesivações", com o objetivo de dar visibilidade a Lula e estimular o "comparecimento do eleitorado" nas eleições. Isso porque, de acordo com uma fonte próxima ao setor jurídico da campanha petista, uma das preocupações é que os recentes casos de de violência política desestimulem os eleitores a comparecerem no dia da votação.
Comícios em Minas
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fizeram campanha, ontem, em Minas Gerais, demonstrando a preocupação com a busca de votos no estado que é considerado definidor das eleições presidenciais. O que os diferenciou, porém, foi o tom que utilizaram diante do eleitorado.
No comício que realizou em Divinópolis, Bolsonaro voltou a falar em botar um "ponto final" nos "abusos de outro Poder", em referência velada ao Supremo Tribunal Federal (STF). "O Brasil é um país livre. Vocês sabem que estão tendo cada dia mais a sua liberdade ameaçada por outro poder, que não é o Executivo. E nós sabemos que devemos botar um ponto final nesse abuso que existe por parte de outro Poder", disse.
Bolsonaro novamente assegurou que, se reeleito, "todos, sem exceção, jogarão dentro das quatro linhas da Constituição". "Ninguém é dono de nada aqui. Eu não mando na presidência, tenho limites. Assim é dentro de cada Poder. Ninguém manda na República a não ser o nosso povo. A vontade desse povo se fará presente após as eleições em sua plenitude", disse ao lado do vice da chapa, Walter Braga Netto.
Nas redes sociais, Bolsonaro rebateu as declarações de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que na participação que fez, na última quinta-feira, no Programa do Ratinho, no SBT, classificou Bolsonaro como um "ignorantão", "meio xucro" e "capiau". O presidente fez um trocadilho e chamou Lula de "mula".
Em Ipatinga, Lula criticou a mineradora Vale por deixar de indenizar as vítimas de Brumadinho, inundada por rejeitos após o rompimento de uma barragem. "Não é possível que nossa querida Vale está fazendo propaganda das grandes árvores dela, mas não pagou ainda o desastre de Brumadinho, não pagou a casa das vítimas", cobrou.
No discurso, Lula deixou explícita a preocupação com a dificuldade em transferir suas intenções de voto para seu candidato a governador, Alexandre Kalil (PSD). "Diz para o povo, gente: 'Você vai votar no 13 para presidente? Então vota no 55 para governador'", pediu. O petista lidera a corrida eleitoral em Minas mas Kalil periga perder em primeiro turno para o governador Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição.
Lula fez, ainda, novo aceno ao público religioso. "A gente tem que agradecer a Deus todo dia. Sou um homem católico, um homem que crê em Deus. Eu tive um ano com câncer na garganta, eu tinha muito medo não apenas de morrer, porque a morte é certa, virá a qualquer momento. Mas eu tinha medo de ficar sem conseguir falar", lembrou o petista sobre o período em que teve câncer.
O petista ainda prometeu formalizar o emprego de trabalhadores de aplicativos. "Queremos primeiro formalizar essa gente para gerar emprego. Depois, a gente vai criar política e financiamento para pequenos e microempreendedores", assegurou.
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