A disputa pelo voto cristão por Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está rachando as igrejas evangélicas. Enquanto as cúpulas das denominações abraçaram o bolsonarismo e tentam influenciar o voto dos fiéis, evangélicos jovens e de baixa renda rompem com grandes congregações e declaram apoio ao petista. Jovens, mulheres e eleitores de periferia, onde Lula se sai melhor, lideram o movimento. Há, ainda, casos de fiéis que, cansados do debate político, se afastaram dos cultos.
Na avaliação do diretor do Observatório Evangélico, Vinicius do Valle, as igrejas evangélicas passam por um "efeito bumerangue" nesta campanha. Ele confirmou que o apoio a Bolsonaro por pastores e a politização dos cultos têm afastado o público. "Muitos deixaram de ir aos cultos, e tivemos uma reação dos fiéis demonstrando desconforto com a discussão eleitoral nos templos. O evangélico quer ver seus valores na política, mas não concorda com a campanha eleitoral nas igrejas", observou.
Ao mesmo tempo que a diferença nas pesquisas eleitorais entre os dois candidatos mais bem colocados na disputa presidencial cai no segmento, coordenadores das campanhas intensificam as agendas com líderes e eleitores evangélicos. Nas últimas semanas, Lula se encontrou com religiosos, na Região Metropolitana do Rio. Bolsonaro participou de culto do pastor Silas Malafaia, um de seus apoiadores, na capital fluminense.
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Rompimento
Do lado dos fiéis, há reclamações sobre o uso político da religião. Eles reclamam do desvio da finalidade das igrejas e de tentativas de imposição de voto por pastores que apoiam Bolsonaro.
Uma das insatisfeitas é a ativista Débora Amorim, de 34 anos. Desconfortável com a politização da igreja que frequentava, a Metodista, rompeu com a congregação. Ela foi criada em templos evangélicos e, agora, integra o coletivo Novas Narrativas Evangélicas.
O grupo tem fiéis de diferentes denominações protestantes. Foi criado para defender a liberdade do voto. Uma das suas estratégias é a produção e divulgação de conteúdo nas redes sociais. Nas últimas semanas, lançou as palavras de ordem #LivrePraVotar e "Deus não tem candidato".
Para Débora, como a maioria dos evangélicos é formada por mulheres pretas e de periferia, é esse o público simpático à candidatura de Lula. Segundo ela, a tentativa de imposição de valores morais por parte dos pastores midiáticos e de consolidação de uma única narrativa como "o caminho para a salvação" tem afastado parte dos fiéis.
Um dos idealizadores do movimento, o advogado Daniel Wanderley destacou que existem inúmeros "crentes" dispostos a construir e expressar "novas narrativas evangélicas". "São pessoas que estavam sofrendo represálias e diversos desafios dentro de suas comunidades à medida que o bolsonarismo foi se apropriando e instrumentalizando a fé evangélica. O movimento evangélico é muito mais plural", explica.
Dani Marinho, 24, evangélica da Igreja Batista do Caminho, foi criada "dentro da Universal" — liderada por Edir Macedo, apoiador de Bolsonaro. "Sempre houve a influência da política na igreja, mas hoje está mais escancarada. Há uma tentativa de imposição de um candidato", afirma.
Os evangélicos representam 31% da população (cerca de 65 milhões de pessoas), segundo pesquisa Datafolha de 2020. De acordo com o Censo Brasileiro, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 60% (25,3 milhões) dos evangélicos eram pentecostais. Pesquisas mostram que a diferença entre o Lula e Bolsonaro tem recuado, embora permaneça grande. A mais recente rodada do Ipec, de 19 de setembro, mostrou o presidente em estabilidade, com 48% das intenções de voto entre evangélicos. Lula cresceu seis pontos (32%).
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