ELEIÇÕES

Na ONU, Bolsonaro destaca economia, critica Lula e acena às mulheres

Na abertura da 77ª edição da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, o presidente falou por cerca de 20 minutos e, como esperado, fez um resumo de sua gestão com acenos diretos ao eleitorado interno, citando principalmente melhora do desempenho da economia e aceno às mulheres

Ingrid Soares
postado em 20/09/2022 11:42 / atualizado em 20/09/2022 11:54
 (crédito: Yuki IWAMURA / AFP)
(crédito: Yuki IWAMURA / AFP)

No discurso de abertura da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) que tem como lema Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados, o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a exposição internacional, nesta terça-feira (20/9), para fazer palanque e se dirigir à base eleitoral interna. A 12 dias do primeiro turno das eleições, o presidente falou por cerca de 20 minutos e, como esperado, fez um resumo de sua gestão com acenos diretos ao eleitorado interno, citando principalmente melhora do desempenho da economia e aceno às mulheres.

Sobre a pandemia de covid-19, alegou que o Brasil "não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos" e citou programas do governo. "Como tantos outros países, concentramos nossa atenção, desde a primeira hora, em garantir um auxílio financeiro emergencial aos mais necessitados. O nosso objetivo foi proteger a renda das famílias para que elas conseguissem enfrentar as dificuldades econômicas decorrentes da pandemia. Beneficiamos mais de 68 milhões de pessoas, o equivalente a um terço da nossa população."

Bolsonaro também citou a vacinação contra a covid-19, relatando ter respeitado a liberdade individual de cada um. "Em paralelo, lançamos um amplo programa de imunização, inclusive com produção doméstica de vacinas. Somos uma nação com 210 milhões de habitantes e já temos mais de 80% da população vacinada contra a covid-19. Todos foram vacinados de forma voluntária, respeitando a liberdade individual de cada um."

Sem citar diretamente Lula, comentou sobre escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras. "No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político e desvios chegaram à casa dos US$ 170 bilhões."

"O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade. Delatores devolveram US$ 1 bilhão e pagamos para a bolsa americana outro bilhão por perdas de seus acionistas. Esse é o Brasil do passado”, acrescentou.

O presidente disse ainda trabalhar para que o Brasil tenha "mulheres fortes e independentes, para que possam chegar aonde quiserem" e mencionou a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. "Trabalhamos no Brasil para que tenhamos mulheres fortes e independentes, para que possam chegar aonde elas quiserem. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, trouxe novo significado ao trabalho de voluntariado desde 2019, com especial atenção aos portadores de deficiências e doenças raras”, pontuou, emendando ter sancionado mais de 70 leis sobre o tema desde o início do governo. "É a prova cabal desse compromisso", disse. 

"Combatemos a violência contra as mulheres com todo o rigor. Isso é parte da nossa prioridade mais ampla de garantir segurança pública a todos os brasileiros. Os resultados aparecem em nosso governo: queda de 7,7% no número de feminicídios e diminuição do número geral de mortes por homicídio. Em 2017 eram 30 mortes por 100 mil habitantes. Agora são 19."

Bolsonaro reforçou que 80% dos títulos de terra entregues em sua gestão estão em nome de mulheres. Na área da economia, disse que apesar da crise mundial, "o Brasil chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação".

"Temos emprego em alta e inflação em baixa. A economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil, ela já começou a cair de forma acentuada."


E destacou o Auxílio Brasil, afirmando que faz pagamentos de quase US$ 4 por dia às famílias. “Os números falam por si só. A estimativa é de que, no final de 2022, 4% das famílias brasileiras estejam vivendo abaixo da linha da pobreza extrema. Em 2019, eram 5,1%. Isso representa uma queda de mais de 20%. O Auxílio Brasil, programa de renda mínima criado pelo meu governo, durante a pandemia, que atende 20 milhões de famílias, faz pagamentos de quase US$ 4 por dia as mesmas”.

"O desemprego caiu cinco pontos percentuais, chegando a 9,1%, taxa que não se via há 7 anos. Reduzimos a inflação, com estimativa de 6% no corrente ano. Tenho a satisfação de anunciar que tivemos deflação inédita no Brasil nos meses de julho e agosto."

Bolsonaro também comentou sobre a queda no preço da gasolina. "Desde junho, o preço da gasolina caiu mais de 30%. Hoje, um litro no Brasil custa cerca de US$ 0,90. O preço da energia elétrica também teve uma queda de mais de 15%. Quero ressaltar que o custo da energia não caiu por causa de tabelamento de preços ou qualquer outro tipo de intervenção estatal. Foi resultado de uma política de racionalização de impostos formulada e implementada com o apoio do Congresso Nacional”.

E disse que a projeção de crescimento para 2022 é de 3%. “No plano interno, também estamos batendo recordes em três áreas: arrecadação fiscal, lucros das empresas estatais e relação entre dívida pública e PIB. Aliás, em 2021 tivemos superavit no resultado consolidado de contas públicas. O PIB brasileiro aumentou 1,2% no segundo trimestre. A projeção de crescimento para 2022 chega a 3%."

"Temos a tranquilidade de quem está no bom caminho. O caminho de uma prosperidade compartilhada. Compartilhada entre os brasileiros e, mais além, compartilhada com nossos vizinhos e outros parceiros mundo afora."

Ao todo, 193 países se reunirão para discutir os principais desafios enfrentados pela comunidade internacional. Antes do discurso, Bolsonaro se encontrou com o secretário-geral da ONU, António Guterres. Às 11h, se encontrará com o presidente da República do Equador, Guillermo Lasso, e da Polônia, Andrzej Duda, ambos conservadores de direita. Às 14h, há a previsão de uma videoconferência com empresários do setor de supermercado. Às 18h, Bolsonaro deixa Nova York rumo a Brasília.

Essa é a quarta vez que Bolsonaro participa da ONU. No ano passado, questionou “qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa”, criticou medidas de isolamento em meio à pandemia, defendeu o “tratamento precoce” sem eficácia comprovada, destacou ser contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada à vacina e disse que o Brasil estava “à beira do socialismo”.
Em 2020, primeiro ano da pandemia, Bolsonaro participou do evento a distância e disse que o Brasil era "vítima" de uma campanha "brutal" de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.

Já em 2019, disse que era “uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo”, que o Brasil não aumentaria a área de demarcação indígena e citou ideologia de gênero.

Acompanham o presidente em comitiva o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e o chefe da SAE, almirante Flávio Rocha; além do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira, o chefe de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten e o pastor Silas Malafaia.

Ainda ontem, Bolsonaro esteve em Londres e rebateu uso político de sua viagem para o enterro da rainha Elizabeth II. "Você acha que eu vim aqui fazer política? Pelo amor de Deus. Não vou te responder, não. Se eu não viesse, estaria sendo criticado do mesmo jeito. Acabou a conversa”, disse, antes de interromper a entrevista com jornalistas na ocasião.

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