Candidato à reeleição, o deputado federal Aécio Neves (PSDB) estava bem cotado em pesquisas sobre o Senado Federal, mas abriu mão da disputa em prol de ampliar o leque de alianças do correligionário Marcus Pestana, que concorre ao Palácio Tiradentes.
Ex-governador mineiro e ex-senador, Aécio disse, ontem, ao "EM Entrevista", podcast de Política do Estado de Minas, que, apesar da polarização entre Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (PSD), os tucanos buscam retornar ao poder Executivo estadual em breve.
"Independentemente do resultado da eleição, o PSDB está se preparando para voltar a governar Minas Gerais. Depois dos governos do PSDB, nada relevante ocorreu em Minas", afirmou. Perguntado se seria ele o concorrente tucano em 2026, Aécio ponderou que ainda é cedo para a tomada de decisão.
Em Minas, para amparar Pestana, o PSDB firmou aliança com o PDT, que indicou Bruno Miranda para concorrer ao Senado. No plano nacional, a legenda apoia a presidenciável Simone Tebet (MDB), que deve ter o voto de Aécio, embora ele tenha defendido a construção de chapa liderada pelo colega de legenda Eduardo Leite. Apesar de apoiar a emedebista, o deputado federal reconhece o domínio de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
"Nenhum dos dois é o perfil que gostaria de ver presidindo o Brasil", pontuou, embora tenha feito um adendo: "Com meu voto, o PT não voltará".
Leia, abaixo, os principais pontos da conversa. A íntegra da entrevista com o tucano, cotado para ser um dos "puxadores de voto" de sua legenda, pode ser assistida no canal do Portal Uai no YouTube.
O senhor liderava pesquisas para o Senado e, inclusive, apareceu à frente em pesquisas. Por que não se candidatou a senador?
A política não é uma ação solitária; é exercício de solidariedade. Fizemos uma opção prioritária: lançar a candidatura (ao governo) de Marcus Pestana para elevar o sarrafo da disputa e mostrar que Minas pode ter muito mais do que está tendo hoje. Precisávamos construir uma aliança em torno dele, para que pudesse ter mais apoio e tempo para divulgar suas ideias. Cedemos a vaga ao Senado para o PDT. Estou muito feliz de poder disputar uma vaga na Câmara. Meu papel no Congresso independe de estar na Câmara ou no Senado. Tenho o papel de ajudar a reorganizar o centro democrático no Brasil. Era, neste momento, mais adequado permitir que Pestana tivesse tempo maior para divulgar suas ideias e, quem sabe, fazer um remember (lembrar, em tradução livre) dos governos do PSDB, que transformaram a vida dos mineiros.
O PSDB compõe a coligação de Simone Tebet, mas, em Minas, o partido está com o PDT de Ciro Gomes - e, inclusive, dá palanque a ele. Quem o senhor, individualmente, apoia?
Fizemos um entendimento com o PDT e abrimos o palanque de Pestana às duas candidaturas. Isso é natural e elogiável na política. O PSDB tem uma coligação formal a nível nacional com a Simone, que deverá ser a minha candidata no 1° turno, porque prezo muito pelo respeito às decisões partidárias. Posso discordar delas, e discordei, porque achei que tínhamos um candidato em muito melhores condições de disputar um lugar no 2° turno: o ex-governador do RS (Eduardo Leite). Lutei até o limite para que ele pudesse vencer as prévias e ser o candidato, mas na hora que o PSDB toma a decisão (de apoiar Simone), devemos segui-la.
O PDT é aliado de toda a vida. Nas primeiras eleições majoritárias que disputei, era meu principal aliado, continua sendo parceiro importante do PSDB e participou dos nossos governos. É uma aliança muito natural para nós. Dentro da nossa coligação, há liberdade para votar em Simone ou Ciro. Mas meu voto será da Simone.
Como o PSDB sairá da eleição deste ano?
Considero o PSDB ainda essencial ao Brasil. Independentemente do vencedor - e a eleição parece estar para ser decidida entre Lula e Bolsonaro -, o PSDB terá papel vital na reaglutinação, reorganização e reinstitucionalização da política. Teremos de, em torno do PSDB, que terá as melhores condições, organizar um projeto de país que defenda as instituições democráticas e permita o respeito às liberdades individuais, mas que, por outro, tenha uma agenda econômica e de inclusão social.
O PSDB estará no centro. Radicalizar ao centro talvez seja o grande chamamento que eu e outros companheiros pretendemos fazer no futuro. O PSDB não sairá pequeno da eleição. Temos uma federação com o Cidadania que, muito provavelmente, vai se transformar em uma absorvição do Cidadania pelo PSDB. Teremos um partido em condição de fazer essa condução ao centro. Serei operário da reconstrução política do Brasil.
Se houver 2° turno entre Lula e Bolsonaro, o senhor caminhará ao lado de algum deles?
Nenhum dos dois é o perfil que gostaria de ver presidindo o Brasil. Terei sempre dificuldade enorme de compreender que o retorno do PT possa fazer bem ao país. Dilma quebrou o país em 2014 para se eleger e não conseguiu, sequer, se sustentar no cargo. O Brasil foi levado a três anos consecutivos de recessão, mais de 12 milhões de desempregados, um assalto organizado às empresas públicas - em especial à Petrobras - pelos aliados do governo.
Esse modelo, inclusive, do ponto de vista econômico, é atrasado. Nas relações externas, (é) esquizofrênico, quando nos leva a aliar e a ser conduzidos, na América do Sul, por um quase caricato bolivarianismo, liderado, antes, por Hugo Chávez e, depois, por (Nicolás) Maduro. Essa era a política externa apoiada pelo governo do PT. Não acho que isso faça bem ao país. Com meu voto, o PT não voltará.
O senhor citou restrições ao PT, mas por que Bolsonaro, em sua visão, não tem o perfil desejado para ser presidente?
Bolsonaro está jogando fora uma grande oportunidade de reorganizar e pacificar o Brasil. Presidi a Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara. O Brasil não tem sido feliz na condução da política externa. É ali que definimos os investimentos no país e os parceiros comerciais, que vão permitir que geremos emprego e renda. Política externa deve ser conduzida de forma pragmática, como é pelas várias nações do mundo. Acordos como o da União Europeia-Mercosul estão paralisados por equívocos do governo.
Saímos do radicalismo à esquerda que nos subordinava a esse bolivarianismo e a relações com países pouco importantes do ponto de vista estratégicos, mas caímos em outro extremo: uma política externa conduzida, até aquele tempo, por Ernesto Araújo, que negava o multilateralismo, buscava alianças apenas do ponto de vista ideológico, e não pragmático. Ajudamos muito a fazer essa construção ao centro. Hoje, temos um ministro (Carlos França) que, ao menos, compreende a importância da articulação com outras regiões do mundo.
Na economia, temos um Brasil muito melhor. Inflação em declínio e economia voltando a crescer. Nesse aspecto, não há comparação com o governo do PT. Mas Bolsonaro, do ponto de vista da gestão e da pauta de costumes que prega, representa, também, um atraso.
Como avalia a disputa entre Kalil e Zema em Minas?
Zema derrotou (Antonio) Anastasia, candidato do PSDB, no 2° turno. Foi uma eleição, não só em Minas, mas no Brasil, marcada pelo discurso da antipolítica. Não há nada mais nefasto e prejudicial aos avanços do que a negação da política. Assistimos, hoje, alguns candidatos insistirem nesse discurso atrás de votos. Depois, perdem as condições de fazer a boa política. Não existe transformação possível em uma sociedade democrática que não seja por meio da boa política, da articulação e da busca por consenso.
Mesmo tendo perdido no 2° turno, quem primeiro estendeu a mão ao governo Zema, por responsabilidade com Minas, foi o PSDB. Enquanto o Novo via parlamentares votando contra o governo, o líder governista foi o saudoso Luiz Humberto Carneiro e, depois, Gustavo Valadares (hoje no PMN). O PSDB sempre teve uma responsabilidade com Minas que vai muito além das questões eleitorais, que são circunstanciais e passageiras.
O PSDB jamais vai deixar de ajudar Minas, mas não estamos atrás de espaço e ocupação de cargos no governo, até porque todos nos foram ofertados. Se fosse isso, já estávamos aliados a ele. Preferimos mostrar, com a candidatura de Pestana, que há algumas funções públicas cuja responsabilidade vai muito além do corriqueiro, do pagamento em dia dos salários. Isso é obrigação.
O governador de Minas é uma figura política essencial ao Brasil e tem de estar presente nas grandes questões nacionais. É importante para o Brasil o equilíbrio e a liderança de Minas. Isso não existe hoje. É preciso que Minas tenha um governador que conheça e compreenda as necessidades do estado, mas com uma liderança nacional em favor do Brasil e de Minas.
O senhor é favorável à adesão de Minas à Recuperação Fiscal ou pensa que a dívida com a União pode ser rediscutida politicamente?
Teria um caminho diferente se houvesse capacidade e liderança, ou disposição de liderança do governador. No fim, ele ficou com poucas alternativas e foi pelo caminho mais cômodo: o da adesão. Discutimos isso na bancada (de Minas no Congresso) e faltou, desde o início do governo, disposição de ouvir os que tinham mais experiência. Ele é até muito razoável nisso, porque fala de sua falta de experiência no traquejo político. Isso acontecia na Assembleia. Percebemos a dificuldade que Zema tinha de avançar nas pautas aqui e, também, na pauta nacional. Mas, em nenhum momento, percebemos disposição do governador de buscar interlocução conosco. Mesmo assim, o PSDB ajudou no que foi possível.
Se Zema for reeleito, é possível que os congressistas mineiros se juntem para apresentar ao governador um caminho político para a dívida do estado?
Tenho esperança que sim, mas a iniciativa vai ter de ser sempre do governador. Não adianta termos um conjunto de boas intenções se não há reciprocidade. Essas atitudes, do ponto de vista legal e formal, têm de ser tomadas pelo governo. A interlocução junto ao STF e ao Congresso passam pela disposição do governador. Ninguém ganha eleição de véspera, mas o que for de interesse de Minas, independentemente do vitorioso, o PSDB estará pronto para ajudar, sem qualquer necessidade de participação em governo.
Independentemente do resultado da eleição, o PSDB está se preparando para voltar a governar Minas Gerais. Depois dos governos do PSDB, nada relevante ocorreu em Minas. Em nossos governos, levamos o estado a ter a melhor educação fundamental do Brasil, a melhor saúde do Sudeste, o maior programa de infraestrutura do estado, em que 219 cidades sem ligação asfáltica foram ligadas, os maiores investimentos em segurança, com valorização dos servidores. Na educação, a mesma coisa. (Houve) políticas de inclusão extraordinária nos vales do Jequitinhonha e Mucuri e no Norte. Tudo foi jogado fora.
Precisamos resgatar o tempo em que Minas atendia os mineiros e liderava a discussão das grandes pautas nacionais. Foi no Senado que construí, inclusive, uma candidatura presidencial que por muito pouco não venceu as eleições e teria mudado profundamente a realidade do Brasil.
Pode ser o senhor o candidato do PSDB ao governo de Minas 2026?
Isso ainda está muito longe, mas defendo que o PSDB se reorganize, reaglutine suas forças políticas. Eu escuto, por onde ando, e tenho andado muito por Minas, um grande saudosismo. As pessoas se lembram do que fizemos educação, na saúde, na segurança e na infraestrutura. Em Belo Horizonte, há a Linha Verde, a (duplicação da) Cristiano Machado, a duplicação da Antônio Carlos, o Centro Cultural da Praça da Liberdade, a duplicação do Expominas e a Cidade Administrativa. Tudo foi feito no nosso governo. Desafio qualquer mineiro a dizer a obra ou programa estruturante de inclusão ou desenvolvimento feito depois dos governos do PSDB. Nenhum.
Em 2014 o senhor teve 47,6% dos votos em Minas. O que faltou para bater Dilma Rousseff em Minas Gerais? Vencer aqui poderia ser decisivo para o resultado final.
Faltaram votos. Faço uma análise muito pessoal do que ocorreu. Disputei com uma máquina que não tinha limites. A operação foi tão acintosa e criminosa que a presidente sequer conseguiu ficar no governo. O custo foram três anos de recessão, o que só tinha acontecido no Brasil à época do boom de 1929. (Houve) inflação disparando e desemprego nas alturas. Esse foi o saldo da eleição de Dilma e, consequentemente, do impeachment.
Temos, ainda, no Brasil, uma faixa do eleitorado, situada principalmente no Nordeste e em parcela importante do Norte mineiro e dos Vales, que sofre influência muito forte dos programas assistenciais, do Bolsa Família, e creditam esses programas ao PT, com uma parte de razão. Não toda, porque o Bolsa Família é a junção do Bolsa Escola e do Bolsa Alimentação, que vieram dos governos do PSDB. Mas Lula ampliou e soube capitalizar isso.
Não perdi para a Dilma, mas para o Bolsa Família. Enquanto não houver políticas emancipadoras, que permitam que essas pessoas tenham, além do Bolsa Família, uma perspectiva de vida e sejam qualificadas para o mercado de trabalho e as empresas sejam estimuladas a incorporá-las, vamos ter um eleitorado cada vez mais dependente. A consequência pode ser perversa para o país. Bolsonaro percebeu isso e vai na mesma linha.
O que achou da afirmação do ex-presidente Lula, de que o senhor é responsável pelo clima de animosidade que se instaurou no país?
Tenho de me sentir lisonjeado pelas homenagens que vem me fazendo Lula. Em primeiro lugar, responsabilizou minha atuação no Senado pelo impeachment de Dilma, se esquecendo - talvez uma falta de memória conveniente às vésperas da eleição - dos três anos consecutivos de recessão, do desemprego avassalador em que ela mergulhou o país, dos crimes de responsabilidades comprovados que ela cometeu e do assalto à Petrobras, aos fundos de pensão e ao BNDES, feito por seus aliados. Foram as causas principais da queda de Dilma.
Agora, ele me acusa pelo clima de polarização do país, se esquecendo que foi ele próprio que criou o nós contra eles, que dizia que os tucanos tinham de ser dizimados e apanhar nas ruas e nas urnas. Me lembro que Mário Covas foi a vítima física dessas agressões do PT nas ruas. Esse clima do 'nós contra eles', de animosidade, é criação - e está no DNA - do PT. Enfrentei isso na eleição de 2014. Agora, ele avança, também, com as posições dos aliados a Bolsonaro.
Faria melhor o presidente Lula se fosse fiel aos fatos, e não apenas a versões criadas única e exclusivamente com objetivos eleitorais. Não tenho a força política a que ele me atribui. Se eu tivesse essa força, e gostaria muito de ter tido, para vencer a eleição, derrotar Dilma e impedir tudo o que ocorreu de trágico no Brasil após a eleição da minha adversária. O que estamos vivendo é, ainda, consequência daquilo que o PT fez no Brasil.
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