A campanha de Jair Bolsonaro (PL) declarou, na prestação parcial de contas à Justiça Eleitoral, o gasto de somente R$ 30 mil com os atos do 7 de Setembro, em Brasília e no Rio de Janeiro. Os custos da campanha do presidente se resumiram a R$ 22 mil para captação de imagens dos eventos e de R$ 7,9 mil para locação de 300 grades na capital fluminense.
Tanto em Brasília quanto no Rio, os desfiles cívico-militares foram sucedidos por atos da campanha eleitoral e comícios. Na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro discursou de cima de um carro de som patrocinado por apoiadores do agronegócio. No evento, ele voltou a acenar à base eleitoral ao repetir o repúdio ao aborto e à legalização das drogas, e defendeu a ideologia de gênero. Também destacou a queda no preço da gasolina, melhoras na economia e os programas sociais promovidos pelo governo — como o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600. Houve espaço, também, para atacar o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que lidera as pesquisas de intenção de votos.
O Correio consultou o site de divulgação dos dados eleitorais do TSE, mas, até o fechamento desta edição, os números relacionados à declaração de gastos parciais pelo PL não haviam sido atualizados. O prazo para tornar públicas as prestações de contas parciais termina hoje. A reportagem também contatou a assessoria de campanha de Bolsonaro, que não quis comentar o assunto.
Em decisão na última terça-feira, os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mantiveram, por unanimidade, as decisões do corregedor-geral eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, que proíbe a campanha do presidente de usar os atos de 7 de Setembro na propaganda eleitoral.
O magistrado determinou, ainda, que a Empresa Brasil Comunicação (EBC) retire do canal da TV Brasil no YouTube os vídeos com os atos eleitorais do presidente na data cívica. Bolsonaro e o vice na chapa da reeleição, Walter Braga Netto, devem, também, ser intimados para pararem de veicular material de propaganda eleitoral que tenha como base imagens do 7 de Setembro.
A decisão estabelece, ainda, que não devem ser produzidos novos conteúdos com o mesmo teor. Em caso de descumprimento da determinação do TSE, o corregedor-geral fixou multa de R$ 10 mil para cada item descumprido.
No último dia 8, na transmissão de live que mantém nas redes sociais, o presidente disse que "houve separação clara" entre atos cívicos e políticos nas comemorações do 7 de Setembro. Negou, também, que houve abuso de poder econômico.
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Ameaças
Na campanha que fez em Presidente Prudente (SP), Bolsonaro defendeu-se sobre a campanha no 7 de Setembro. "O que é abuso de poder? Não gastei um centavo, paguei todas as minhas despesas. Houve uma separação clara entre o ato cívico-militar e o ato do lado de fora, meu Deus do céu. É perder tempo", indignou-se.
O presidente mais uma vez ameaçou os integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) de "trazer a minoria que pensa que pode tudo para dentro das quatro linhas da nossa Constituição" — caso consiga se reeleger. Ele foi além ao defender que a população ande armada quando disse que se trata de direito à legítima defesa.
"Um presidente que defende seus policiais e seus militares, que defende a família, defende a liberdade de seu povo... Um presidente que, cada vez mais, fala da legítima defesa, que não quer desarmar o seu povo — muito pelo contrário. Esperem acabar as eleições. Todos jogarão dentro das quatro linhas da Constituição", garantiu.
Bolsonaro aproveitou para atacar o PT e o ministro Edson Fachin, que proibiu o porte de arma durante a eleição — exceto para quem dependa dela para trabalhar.
"O outro lado, o tempo todo, fala e já fez desarmar o cidadão de bem, não fala em desarmar os vagabundos. Como nós tivemos, por decisão de um ministro... Temos áreas de exclusão no Rio, onde a polícia não pode entrar. Isso não é política de Estado, isso é início de ditadura", comparou.
Indecisos são o alvo
A última pesquisa Ipec frustrou a equipe da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro (PL). A expectativa era ver reduzida a distância que o separa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e consolidar a tendência de definição no segundo turno. A estratégia para a reta final da corrida será investir nos indecisos e, paralelamente, avançar sobre o eleitor antipetista que não declara voto em Bolsonaro para impedir que a disputa termine em 2 de outubro.
Na propaganda de rádio e tevê, a imagem do presidente vem sendo trabalhada pelos marqueteiros no sentido de torná-lo mais equilibrado em suas declarações, com o objetivo de quebrar a rejeição de parte do eleitorado — principalmente entre as mulheres. Nas redes sociais, as imagens dos atos de 7 de Setembro também estão sendo usadas à exaustão para reforçar a imagem de que as pesquisas de intenção de votos não refletem a realidade do cenário eleitoral.
Para evitar a migração de votos de Ciro Gomes para Lula, as redes bolsonaristas têm exibido vídeos com críticas cada vez mais fortes do candidato do PDT ao ex-presidente. Até mesmo a linha de frente da equipe de campanha do presidente entrou na corrente. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e diversos parlamentares representantes do bolsonarismo têm retuitado em suas próprias contas as declarações ácidas do pedetista contra Lula.
Ao comentar o uso de suas falas pelos aliados do presidente Bolsonaro, Ciro deu uma espécie de conselho à equipe de campanha do petista. Disse que suas opiniões sobre o atual presidente deveriam também ser usadas pelos estrategistas da campanha petista. Sempre que pode, o pedestista repete que Bolsonaro era um "deputado cretino, do baixo clero" — como afirmou na última segunda-feira, na sabatina no CIEE, em São Paulo.
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