O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, surpreendeu seus eleitores e adversários como uma imagem que, até então, não se tinha visto. Na entrevista que concedeu ao podcast evangélico Collab, na última segunda-feira, disse que, em caso de derrota, passará a faixa presidencial e se "recolherá". Também disse que "aloprou" quando, durante a pandemia, cobraram dele empatia com as vítimas e respondeu que não era "coveiro".
A postura mais amena do presidente coincide com algumas dificuldades enfrentadas pela campanha. A mais visível está no resultado das pesquisas de opinião. A do Ipec, divulgada também na noite da última segunda-feira, mostra seu principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), abrir 15 pontos percentuais (está com 46%) de vantagem sobre o presidente — que manteve os 31% da sondagem anterior, realizada no começo do mês. Era esperado pela campanha de Bolsonaro que a demostração de força no 7 de Setembro seria capaz de mexer com os percentuais das intenções de voto.
Mas as pesquisas mostram, ainda, que as iniciativas do governo para conquistar eleitores por meio de benefícios do Estado também não deram a tração esperada por alguns dos seus principais auxiliares — o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira chegou a prever a virada de Bolsonaro em meados de agosto. O aumento da mensalidade do Auxílio Brasil para R$ 600 e a redução nos preços dos combustíveis aparentemente não foram capazes de turbinar o presidente.
Tais resultados apontam que Bolsonaro não tem conseguido trazer eleitores em quantidade suficiente para avançar de forma que, caso haja um segundo turno, chegue em condições de uma disputa equilibrada com Lula. Na mesma pesquisa Ipec, o petista venceria o presidente por 53% a 36%.
No Programa do Ratinho, ontem à noite, no SBT, o presidente voltou dizer que entrega o governo em caso de derrota — embora fazendo a ressalva sobre a lisura no pleito. "Eleições limpas, você não tem que discutir. Eu que não consigo entender que em qualquer lugar que eu vá do Brasil, não é de agora, desde antes, a gente é recebido com muito carinho não só no local do evento, bem como na trajetória toda", disse, insinuando que as pesquisas não refletem a vontade do eleitorado.
E mais uma vez, no Ratinho, tentou amenizar a imagem ao se justificar sobre reações que teve ao longo do governo. "Falar alguns palavrões aí, de vez em quando, e o pessoal leva para um lado completamente diferente. No resto, tudo entendo que fizemos corretamente. Eu falo palavrão, mas não sou ladrão. É a maneira de falar um pouco grosseira e o pessoal me critica", salientou.
Mas, no comício que fez em Sorocaba, mais cedo, ao lado do candidato ao governo de São Paulo, Tarcisio Freitas (Republicanos), Bolsonaro despiu-se do figurino que assumiu nas entrevistas das últimas 24 horas. Chamou Lula de "capeta" e afirmou que o petista quer voltar à Presidência para "impor o comunismo".
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Arrecadação
Só que não é somente com o eleitorado, conforme refletem as pesquisas, que Bolsonaro enfrenta problemas. O partido do presidente, o PL, tem demonstrado preocupação com a baixa arrecadação de doações. Até o momento, Bolsonaro recebeu R$ 21 milhões em doações, sendo que pouco mais metade do valor saiu do repasse do Fundo Eleitoral da legenda — Lula obteve R$ 88,3 milhões. Para piorar, os coordenadores da campanha foram obrigados a devolver R$ 24,7 mil de nove doadores diferentes por inconsistências nos dados.
Ontem, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi às redes sociais para pedir doações para a campanha do pai via Pix. "Doação de qualquer valor é bem-vinda, desde que seja do seu coração. E, sim, estamos precisando", destacou.
Mas a ajuda financeira também trouxe problemas. Isso porque a campanha recebeu várias doações de apenas R$ 1 e, mesmo assim, é necessário que mesmo um pequeno valor seja declarado à Justiça Eleitoral. Para a contabilidade da campanha, o custo para declarar cada pequena quantia seria maior que o valor por doação — por causa disso, cogita-se devolver as contribuições.
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