ATOS

7 de Setembro vira comício com multidão; oposição vai ao TSE

No palco montado para autoridades, Bolsonaro era o único chefe de Poder brasileiro. Os presidentes do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, não compareceram

Ingrid Soares
Tainá Andrade
Raphael Felice
Taísa Medeiros
Victor Correia
postado em 08/09/2022 05:41 / atualizado em 08/09/2022 05:42
No discurso para os milhares de apoiadores, Bolsonaro não citou os 200 anos da Independência do Brasil e, sim, as ações do seu governo -  (crédito: Fotos: Ed Alves/CB)
No discurso para os milhares de apoiadores, Bolsonaro não citou os 200 anos da Independência do Brasil e, sim, as ações do seu governo - (crédito: Fotos: Ed Alves/CB)

Em uma demonstração de força eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou as comemorações do 7 de Setembro em comícios de campanha que mobilizaram multidões em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na capital federal, a Esplanada dos Ministérios foi tomada por apoiadores do chefe do Executivo. Após o desfile cívico-militar, em homenagem ao bicentenário da Independência do Brasil, o candidato à reeleição fez discurso em tom eleitoreiro e foi ovacionado pelo público.

Logo na chegada à Esplanada, em um Rolls Royce, Bolsonaro quebrou o protocolo de segurança, desceu do carro e, a pé, saudou os apoiadores. Em retribuição, os militantes entoaram gritos de "mito" e repetiram ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto. O chefe do Executivo chegou a abraçar uma apoiadora.

No palco montado para autoridades, Bolsonaro era o único chefe de Poder brasileiro. Os presidentes do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, não compareceram. O chefe do Executivo teve ao seu lado o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e o empresário Luciano Hang, dono da rede varejista Havan. Também estiveram no local os presidentes de Cabo Verde, José Maria Neves; e de Guiné Bissau, Umaro Sissoco Embaló; e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Ao fim do desfile, do outro lado da avenida, Bolsonaro subiu em um carro de som ao lado do vice de sua chapa, o general Braga Netto, e do vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos). No discurso, transmitido pela TV Brasil, uma emissora pública, o chefe do Executivo moderou nas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). "É obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da Constituição. Com uma reeleição, nós traremos para as quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora delas", ressaltou.

A postura é diferente da adotada em 2021. No 7 de Setembro do ano passado, Bolsonaro disse que não cumpriria decisão do STF e chamou o ministro Alexandre de Moraes de "canalha". Na ocasião, também disse que o sistema eleitoral não oferece "qualquer segurança". "Hoje, todos sabem quem é o Poder Executivo. Todos sabem o que é a Câmara dos Deputados, sabem o que é o Senado Federal e o que é o Supremo Tribunal Federal", enumerou. Quando o presidente citou a Corte, manifestantes vaiaram. "A voz do povo é a voz de Deus", emendou o chefe do Executivo.

Sem citar o nome de Lula, Bolsonaro fez críticas aos governos anteriores. Ele voltou a falar em uma "luta do bem contra o mal". Um mal que "perdurou por 14 anos, que quase quebrou a nossa pátria e que agora deseja voltar à cena do crime". "Não voltarão", enfatizou. "A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós. Vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil", convocou.

Bolsonaro ainda comparou Michelle à esposa de Lula, a antropóloga Rosângela da Silva, a Janja. "Não há o que discutir. Uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é ao meu lado, não. Muitas vezes, ela está na minha frente. E eu tenho falado para os homens solteiros, para os solteiros que estão cansados de serem infelizes: procurem uma mulher, uma princesa, se casem com ela para serem mais felizes ainda", discursou.

Logo depois, após beijar a mulher, o próprio Bolsonaro puxou um coro de "imbrochável, imbrochável, imbrochável" para os manifestantes. Michelle não chegou a discursar, mas endossou os gritos de "nossa bandeira jamais será vermelha", comandados pelos apoiadores do presidente.

Bolsonaro voltou a acenar à base eleitoral ao repetir ser contra aborto, legalização das drogas e ideologia de gênero. Ele também elogiou seu governo, ao destacar a queda no preço dos combustíveis, recuperação da economia e as turbinadas nos programas sociais, como o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600.

Pacheco

O presidente do Congresso não compareceu à cerimônia, mas fez uma postagem no Twitter sobre a data: "As comemorações deste 7 de setembro, que marca 200 anos da Independência do Brasil, precisam ser pacíficas, respeitosas e celebrar o amor à pátria, à democracia e o Estado de direito", escreveu.

Chefes de Estado

Líderes mundiais parabenizam o Brasil pelo bicentenário da Independência. A rainha Elizabeth II, da Inglaterra, usou a rede social para enviar felicitações ao Brasil. Ela aproveitou a mensagem para mencionar a visita que fez ao país em 1986, da qual disse que lembra "com carinho".

"Que continuemos trabalhando com esperança e determinação para superar os desafios globais juntos", desejou a rainha. A mensagem foi compartilhada pela encarregada de negócios do Reino Unido no Brasil, Melaine Hopkins.

Os Estados Unidos, por meio do secretário de Estado, Antony Blinken, preferiu destacar a democracia que, em suas palavras, está entre as maiores do Ocidente. "Os EUA e o Brasil compartilham o compromisso de apoiar a democracia em toda a região e demonstrar seus benefícios para todas as pessoas", assegurou.

Segundo ele, os países podem "garantir a paz e a segurança nacional", além de reforçar os direitos humanos para as próximas gerações e trabalhar para "aprofundar nosso relacionamento estratégico e econômico vital".

Vladimir Putin, presidente Rússia, que recebeu a visita de Bolsonaro em fevereiro, parabenizou o Brasil e destacou a "parceria estratégica" entre os países. "Estou seguro de que, pelos esforços mútuos, asseguraremos o reforço da parceria estratégica entre a Rússia e o Brasil em prol dos nossos povos", divulgou a agência de notíciasa Sputnik.

O presidente da China, Xi Jinping, declarou que o Brasil se desenvolveu de forma pacífica, com "independência e autonomia" e tem projeção importante nos assuntos regionais e internacionais. Na avaliação do chefe de Estado, as relações sino-brasileiras estão em ascensão.

Moraes saúda a data; oposição vai ao TSE

Sem mencionar o presidente da República, Jair Bolsonaro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, saudou o bicentenário da Independência e o início da concretização do Estado democrático de direito.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) postou uma mensagem no Twitter minutos após o desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios, enquanto o público aguardava o discurso de Bolsonaro em cima de um carro de som em frente ao Congresso.

"O bicentenário de nossa Independência merece ser comemorado com muito orgulho e honra por todos os brasileiros e brasileiras, pois, há 200 anos, demos início à construção de um Brasil livre e à histórica marcha pela concretização de nosso Estado democrático de direito", diz a mensagem.

Já o STF divulgou um vídeo, em seu perfil no Twitter, no qual explica como são indicados e nomeados os integrantes da Corte. "Respeitar a Constituição é defender a democracia", diz a gravação. A postagem ocorreu em meio à realização de atos bolsonaristas no 7 de Setembro. Alguns manifestantes levaram faixas com pedidos de intervenção militar e destituição de ministros do STF.

O material foi publicado com o questionamento "Sabe por que você não votou em nenhum ministro do STF? Entenda aqui". No vídeo, é explicado que, conforme a Constituição, os ministros do Supremo são indicados pelo presidente e depois passam por uma sabatina no Senado. Só então, se aprovados, são nomeados à Corte.

"Você não vota diretamente, mas participa da escolha", diz ainda a gravação. O argumento é o de que, por escolher o chefe do Executivo e os parlamentares que integram o Congresso Nacional, a população participa, indiretamente, do processo.

Ontem, o prédio do STF recebeu reforço de policiamento. Grades de ferro foram colocadas próximas ao Ministério da Saúde, deixando as pessoas que acompanharam o discurso de Bolsonaro mais distante da Corte do que no ano passado.

Em 2021, as grades de proteção estavam após o Itamaraty, e houve várias tentativas por parte dos manifestantes, que estavam acampados na Esplanada, de ultrapassar a barreira.

A segurança para o 7 de setembro foi planejada em conjunto com as Forças de Segurança do Distrito Federal, do Judiciário, do Legislativo e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. O acesso à Esplanada foi fechado na terça-feira e proibida a circulação de veículos.

Judicialização

PSol e PT vão acionar o TSE apontando abuso de poder econômico e político por parte do chefe do Executivo nos atos do 7 de setembro. "Bolsonaro fez uso indiscutível de um evento oficial para discursar como candidato. Há abuso de poder econômico e político acachapante, com o uso de recursos públicos, de uma grande estrutura pública, para fazer campanha", afirmam os advogados que representam a Coligação Brasil da Esperança, que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como candidato. "Os discursos desse comício escancarado foram transmitidos ao vivo para toda a nação, inclusive por meio da TV Brasil, uma TV estatal", acrescentaram.

A deputada Sâmia Bomfim, líder da bancada do PSol na Câmara, enfatizou que "Bolsonaro convocou os manifestantes às urnas, usou o slogan de campanha e usou as Forças Armadas para construir um comício".

O PDT já pediu ao TSE que investigue se foram usados recursos de campanha para patrocinar manifestações e caravanas de apoiadores nos atos.

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