Em mais uma recalibragem na estratégia eleitoral, a campanha do PT à Presidência abandonou a tática de poupar Ciro Gomes (PDT) de ataques e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu, ontem, de maneira escancarada, para disputar os eleitores que não apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL), abrindo uma frente pelo "voto útil". Sem citar o nome do pedetista, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de votos, Lula estimulou o comando da campanha a trabalhar pela vitória ainda no primeiro turno, falou sobre os demais adversários em pronunciamento (e não apenas sobre Bolsonaro) e disse que "tem candidato" que não consegue "juntar gente" em comício.
"Eu quero dizer que, de todas as eleições, nunca tivemos a chance de resolver no primeiro turno como temos nessas eleições. E a gente não tem que ter vergonha de dizer isso, se falta apenas um tiquinho. O que nós precisamos é aumentar a nossa capacidade de trabalho. Ainda não demos visibilidade à campanha de rua e é preciso que a gente dê", cobrou Lula.
Até então, o petista orientava seus aliados a "manter o pé no chão" sobre a possível vitória no primeiro turno. Mas, além de ver a campanha estacionada nas pesquisas de intenção de voto — embora em patamar confortável —, o movimento de candidatos da terceira via nas últimas semanas orientou a mudança de rota da campanha.
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Gota d'água
O PT contava com o apoio de Ciro no segundo turno e, ciente de que a maioria dos votos do pedetista poderia migrar para Lula, o ex-presidente vinha evitando o embate com o ex-aliado. No debate da Band, no último dia 28, o petista chegou a falar que não levava as críticas do adversário em consideração porque "ele tem o coração mais mole do que a língua".
Ciro, por sua vez, não cedeu e se manteve no ataque, chamando Lula de "encantador de serpentes". No dia seguinte, ele publicou nas redes sociais comentário que colocava dúvidas a saúde do petista.
A gota d'água dentro da campanha petista foi a entrevista de Ciro à Jovem Pan. O candidato do PDT chamou o filho de Lula de "ladrão", negou a possibilidade de apoiar o ex-presidente no segundo turno e disse que o petista está "debilitado" e "fragilizado".
Um dia depois, veio a resposta no comando da campanha de Lula. "Infelizmente, Ciro Gomes está rasgando sua biografia. Está, nitidamente, fazendo alianças com o fascismo brasileiro", tuitou Edinho Silva, um dos coordenadores de comunicação da campanha de Lula.
Pouco depois da publicação, a imprensa foi chamada para acompanhar uma declaração do ex-presidente durante a reunião de coordenação de campanha — o convite aos jornalistas para testemunhar a fala de Lula nestas ocasiões raramente acontece. O petista, então, autorizou a busca aos votos da oposição — e não mirou o ataque só em Bolsonaro, como costuma fazer. "Além do candidato a presidente, temos os candidatos da oposição. Sei que às vezes vocês (aliados da campanha) ficam chateados porque a oposição nos ataca. É normal. Eles me atacam porque eles têm medo que eu ganhe no primeiro turno", afirmou.
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