7 de Setembro

Segurança da Esplanada é reforçada durante comemoração do 7 de setembro

Com queima de fogos na Torre de TV, governo e apoiadores dão início à comemoração do Bicentenário e da jornada eleitoral em prol do presidente. Para hoje, autoridades esperam na Esplanada menos manifestantes do que em 2021

Luana Patriolino
Victor Correia
postado em 07/09/2022 03:55 / atualizado em 27/07/2023 09:57
Esplanada fechada para as comemorações do 7 de Setembro -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Esplanada fechada para as comemorações do 7 de Setembro - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

O 7 de Setembro dos bolsonaristas começou nesta noite, com uma queima de fogos na Torre de TV e a queda de braço com o Governo do Distrito Federal para que caminhoneiros apoiadores do presidente da República entrassem na Esplanada dos Ministérios, que está fechada para a realização do desfile cívico-militar até o meio-dia — quando será liberada para as manifestações de apoio a Jair Bolsonaro (PL).

Os festejos do Bicentenário da Independência do Brasil são a grande aposta do presidente para reverter a desvantagem nas pesquisas de intenção de votos na corrida ao Palácio do Planalto, além de demonstrar que ele tem força política. Bolsonaro utilizará os atos e desfiles como comícios e pretende marcar presença nas maiores manifestações — de Brasília e no Rio de Janeiro.

A TV Brasil transmitiu, ao som do Hino da Independência, a queima de fogos que abriu a comemoração do Bicentenário. Havia a expectativa de que Bolsonaro fosse ao evento para acenar e falar aos apoiadores, e até o fechamento desta edição ele não tinha comparecido.

Mas, antes da abertura do festejo, houve uma disputa entre o presidente e o governador Ibaneis Rocha (MDB) sobre a entrada de caminhões na Esplanada — o que aumentou a tensão que já se percebia nos corredores dos Três Poderes ao longo do dia. Por determinação do presidente, um grupo de oficiais do Exército foi até os caminhoneiros cadastrá-los para que pudessem entrar nas vias à frente dos ministérios.

Um dos integrantes das caravanas bolsonaristas, que não quis se identificar, afirmou ter questionado os oficiais do Exército sobre o cadastro ainda na noite de segunda-feira — e obteve a resposta de que o acesso foi um pedido de Bolsonaro. Apesar dessa relação de caminhoneiros, Ibaneis rechaçou a possibilidade de entrada antes do meio-dia, afirmando que o "Exército Brasileiro não determina nada na Esplanada".

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do DF informou que estão mantidas as recomendações acordadas com as forças policiais. "O planejamento inicial, previsto no Protocolo de Ações Integradas, elaborado em conjunto com instituições locais e federais, que prevê restrição de acesso de veículos não autorizados na Esplanada dos Ministérios, durante o ato cívico-militar e manifestações previstas para o dia sete de setembro, está mantido", assegurou a SSP.

O esquema de segurança reforçado serve para o desfile e para as manifestações, pois há o temor de que haja tentativa de invasão de prédios públicos, como o Supremo Tribunal Federal (STF), ou outros atos violentos.

Caravanas

Ao longo do dia, caravanas chegaram em Brasília vindas de diversos estados, todas acompanhadas pela Polícia Militar do DF. Os locais de concentração — Granja do Torto, Parque da Cidade, Concha Acústica e o Parque Leão, no Recanto das Emas — foram definidos previamente. O dispositivo de segurança trabalha com a expectativa de que o tom das manifestações seja moderado — como instruído pelos próprios movimentos.

Não há estimativa da SSP e da PM para o público que deve ir às ruas. Já a Secretaria da Comunicação da Presidência da República projeta em 280 mil pessoas os manifestantes para os atos pró-Bolsonaro e para o desfile cívico-militar.

Integrantes da segurança do DF acreditam que há otimismo da Presidência com o número de manifestantes — o ato pode ser menor do que o do ano passado. Embora não tenha sido divulgado um número oficial de 2021, a PM projetou a presença de até 400 mil pessoas no ato anterior.

A possibilidade de a manifestação deste ano ser menor também está nos cálculos da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal (Abih-DF). Segundo o presidente da entidade, Henrique Severien, a expectativa do setor é de lotação máxima em torno dos 83%. As hospedagens estão mais concentradas na zona central, onde a ocupação média gira em torno de 90% — pelo menos um hotel registrou lotação máxima. Em regiões mais afastadas, como a saída do aeroporto e em Águas Claras, a frequência estava entre 60% e 70%.

"Não houve a mesma intensidade de lotação do ano passado, que com três dias de antecedência já estava perto de 100%", salienta Severien.

Até o momento, 10 movimentos se registraram junto à SSP para participar das manifestações: 2ª Caravana de Integração Nacional, Brasil Independente, Ato Público Pessoal "Valdemir Soares de Souza", Brasil Unido pelo Presidente, Manifestação em Defesa da Liberdade e Eleições Transparentes, Ato Público com Oração pelo Brasil em 7 de Setembro, Manifestação Popular, Manifestação em Defesa da Democracia e Liberdade, Ato Público 7 de Setembro 2022 e Movimento Brasil Verde e Amarelo.

Supremo Tribunal

Diante da possibilidade de tentarem promover uma invasão às instalações, o STF reforçou a segurança por temer ataques dos chamados "lobos solitários" — figuras que promovem atos violentos por conta própria. Integrantes da área de segurança da Corte elaboraram um protocolo de ação para prevenir que apoiadores radicais de Bolsonaro tentem furar o bloqueio montado pelos órgãos de segurança na Esplanada.

Para garantir a proteção do prédio do STF, a maior parte do contingente de agentes estará de prontidão para conter os desgarrados com o que chamam de uso "seletivo e proporcional da força". A Corte não revela o tamanho do efetivo destacado, mas informa que o número será 70% maior do que o escalado no ano passado. Os agentes estarão munidos de diferentes tipos de armamentos, que vão desde de tasers (que disparam choques elétricos) a armas longas, como submetralhadoras.

A SSP incluiu no esquema de segurança manifestações contrárias ao atual governo e, para isso, tinha destacado a Torre de TV como ponto de concentração. O local, porém, estava tomado pelos bolsonaristas por causa da queima de fogos.

Fontes ligadas aos movimentos populares de Brasília informaram que a recomendação à militância contrária ao presidente foi de evitar promover atos públicos hoje. Além disso, partidos e organizações ligadas ao PT e ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva esvaziaram os protestos por entenderem que pode ser prejudicial à campanha.

Os protestos contra o presidente foram agendados para o próximo sábado — quando em várias cidades do país está programado o "Fora Bolsonaro", sendo que a maior manifestação é esperada para São Paulo — e para o dia 20, quando haverá o Grito dos Excluídos — que até então era realizado sempre na data da Independência.